Motorista diz que não conseguiu dormir após morte de ambulante

Emocionado, o motorista Nailson Silveira, 25, desabafa: “Sei que não tive culpa, mas o coração sente essa dor”. Ele dirigia a caçamba que derrubou um poste, após se envolver em uma colisão com um Ford Ka, anteontem. No acidente, a queda de um fio de alta tensão matou o ambulante Nelson Santana de Souza, 41, com uma descarga elétrica de 11.400 volts. O CORREIO flagrou a agonia do vendedor de lanches em seus dez últimos minutos de vida no local onde ele trabalhava, na Estrada do Coco, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana. O drama foi acompanhado pelos repórteres Bruno Wendel e Evandro Veiga. A família de Nelson esteve na unidade do IML e aguardava o resultado da perícia para a retirada do corpo. Ele será sepultado no Cemitério de Portão. Nesta sexta-feira (25), Nailson e a condutora do Ford Ka, Marlene Sobral, prestaram depoimentos à delegada Maria Daniele Sousa Monteiro, adjunta da 34ª Delegacia (Portão). Ao deixar a unidade policial, a mulher se limitou a dizer que não tinha nada a falar sobre o caso. “Não tenho o que declarar. Tudo já foi dito”, respondeu Marlene.

Mulher que dirigia Ka se desesperou após morte; motorista de caminhão disse que não teve culpa

A emoção tomava conta de Nailson. “Chorava de raiva na hora do acidente, quando chegaram me pedindo o extintor da caçamba porque um homem estava pegando fogo. Disse que eu mesmo iria apagar e corri. Aquela cena nunca vai sair da minha cabeça”. Um dia após a tragédia, o motorista afirma não ter conseguido dormir. “Não teve jeito. Passei a noite inteira pensando em tudo o que aconteceu, na família do rapaz, enfim... Minha cabeça está a mil”, completa. “Quando vi tudo aquilo não pensei em fugir nem nada. Corri com o extintor para tentar apagar. É uma tristeza imensa misturada com a sensação de impotência”, reflete. A barraca de Nelson ficava ao lado de um gerador que explodiu, em frente ao Shopping Passeio Norte. Ao ver a explosão, o vendedor de lanches correu, mas retornou para salvar a moto, que ele fazia de barraca itinerante. Em seguida, desistiu, mas tropeçou em uma corda que amarrava o toldo da barraca e caiu sobre o fio de alta tensão. Segundo o motorista da caçamba, o acidente teria sido provocado pela condutora Marlene. “Estava na minha mão e ela atravessou sem ao menos sinalizar. Não pude evitar”, defende-se. “Falei ao neto dela que não estou com raiva. Ele tentou argumentar dizendo que ela tinha dado sinal, mas não foi isso que aconteceu”, reitera Nailson. InvestigaçãoAlém dos condutores, a delegada adjunta ouviu o depoimento de um sobrinho da vítima. “O rapaz forneceu informações sobre a vida do Nelson. São dados importantes para os nossos procedimentos”, conta Maria Daniele. Ela lembra que testemunhas e familiares da vítima serão ouvidas. “Depois disso, vamos analisar a causalidade entre o acidente e o fato que se deu com o senhor. Ainda não podemos chegar a nenhuma conclusão, mas caso sejam identificados responsáveis, eles serão indiciados por homicídio culposo”, avalia a delegada adjunta. “A reportagem do CORREIO também é um depoimento sobre como tudo aconteceu”, elogia. No cenário da tragédia, técnicos de uma empresa a serviço da Coelba concluíam os reparos na rede elétrica ontem. O gerador fornecia energia para um posto do SAC no shopping. O atendimento foi suspenso e a previsão é que seja normalizado segunda-feira. Segundo um técnico da construtora responsável pela obra do shopping, o gerador estava em local regular. “Não ocupa nenhuma calçada, não tem problema em estar ali. O shopping ainda está em obra”, assegura. O SAC afirma não ter responsabilidade pela localização do gerador porque apenas “recebeu a estrutura pronta para funcionar”. A prefeitura de Lauro de Freitas não informou se existia autorização para o gerador estar ali.