Em seis meses, o sonho da empresária Elma Justine de alavancar o seu negócio - um restaurante típico da Bélgica na Bahia - chegou ao fim. A decisão de fechar o Manneken, na Federação, onde depositou seu sonho e investimentos, veio após queda em 80% nas vendas. A falência foi reflexo direto de uma crise que levou outras 283 empresas ligadas à diversão a fechar as portas na Bahia de janeiro a julho deste ano, segundo levantamento exclusivo feito pela Junta Comercial da Bahia (Juceb) para o CORREIO. Em Salvador, foram extintas 104 empresas do tipo neste mesmo período.
São bares, restaurantes, fornecedores de alimentos e bebidas e até boates que sofrem com o momento instável do país. Se comparado com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 30% na mortalidade destes estabelecimentos (veja ao lado). Apesar disso, quem contorna a alta dos preços e estabelece um relacionamento próximo com o consumidor pode garantir um bom faturamento e, por isso, o setor ainda atrai empreendedores. De acordo com a Juceb, foram abertas 1.064 empresas ligadas a baladas de janeiro a julho de 2014. No mesmo período de 2015 foram criados 945 negócios (queda de 12,6%).
lma Justine viu seu restaurante fechar as portas em seis meses. Hoje, ela tem um negócio informal |
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Os bares, restaurantes e lanchonetes formam o subitem que mais sofreu no estado - 236 fecharam de janeiro a julho deste ano. De acordo com a regional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o setor, que contabiliza mais de 4 mil demissões no período, teve uma queda de 40% na movimentação. “É o pior momento que a gente já viveu. Infelizmente estes números tendem a crescer. Além das empresas que fecharam, centenas mudaram de nome ou dono”, afirma o presidente da entidade, Luiz Amaral, que acrescenta que o setor teve um grande número de aberturas de empresas em 2014 por conta da Copa do Mundo. Segundo Amaral, o tempo médio da mortalidade dos bares e restaurantes neste período de crise tem sido de um ano, menor do que a média nacional - mais da metade das empresas (de todos o segmentos) fundadas no Brasil fecha as portas após quatro anos de atividade, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo médio por cliente dos bares e restaurantes, que antes da crise era de R$ 50 em Salvador, caiu para R$ 30. “O lazer é considerado uma coisa supérflua e é o primeiro a ser cortado do orçamento. Quando as pessoas saem de casa buscam por lugares mais baratos”, diz.
Com um prejuízo de R$ 5 mil, a empresária Elma Justine, 36, fechou em março o restaurante Manneken. Inaugurado em agosto de 2014, o estabelecimento durou apenas seis meses. “O movimento dependia dos estudantes de três faculdades na Federação. Com as férias e a crise, as vendas caíram em 80% e o rendimento só cobria o investimento e a folha de funcionários, por isto optamos por encerrar as atividades”, conta. “Tinha vontade de chorar. Foi difícil ver uma coisa que me dediquei tanto ir por água abaixo”, completa.
A sorte dela foi que conseguiu vender parte dos objetos do estabelecimento. Do restante ela aproveitou no seu novo projeto informal, a Justine’s Brownie & Cia, em que faz doces por encomenda. “Nestes três meses de funcionamento, faturei de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês com o novo negócio, muito mais do que estava ganhando com o Manneken”.
Baixo momentoConhecido pelo alto movimento, principalmente nos finais de semana, a filial da pizzaria Quattro Amici do Shopping Salvador também fechou no primeiro semestre. “Tivemos uma queda de 50% no movimento e o preço do aluguel era alto. Foi melhor fechar e ficar apenas com a loja do Farol da Barra”, explica o gerente-geral Gilberto Júnior. “Também tivemos uma queda de movimento na Barra, mas estamos conseguindo reverter com um pacote promocional com o Peixe Urbano”.
Nem mesmo o Outback Steakhouse, famoso por sua espera que chegava a três horas nas unidades dos shoppings Barra e da Bahia, resistiu. Um funcionário da unidade do Barra, que não quis se identificar, declarou à reportagem que o movimento da casa diminuiu cerca de 70%. “Quase não temos mais espera. Estamos com, no máximo, 40 minutos de fila”. Em entrevista ao CORREIO, a diretora de Marketing da Bloomin Brands Brasil, Paula Castellan, responsável pelo restaurante, disse que a franquia está mantendo o ritmo de crescimento de 20% ao ano, em número de lojas no Brasil. “Tivemos resultados acima das expectativas no Dia dos Namorados, quando tivemos 13% mais clientes do que o esperado. Já no Dia do Amigo , tivemos um movimento 17% acima do esperado”, relata.
Segundo o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, a situação dos bares e restaurantes é realmente crítica. Já no caso das boates, o impacto foi maior no consumo. “Enquanto a economia não se recuperar, a nossa área continuará sofrendo. Quem inova e inventa promoções consegue ficar no azul. O público de balada normalmente é bem específico, por isto as casas de shows mais conhecidas conseguem se mater, pois têm um público bem fiel”, destaca.
Bolso apertado Com o consumidor com bolso apertado, o proprietário das boates San Sebastian, Amsterdam Pop Club e do restaurante Don Sushi, José Augusto Vasconcelos, conta que desde o ano passado sente uma queda média de 30% a 40% no tíquete médio (conta individual) de consumo das boates, o que diminuiu seu lucro entre 20% a 30%. “Inicialmente, tive quatro meses de prejuízo. Depois que cortamos as gorduras, as contas se ajustaram. Criamos promoções, com combos de bebidas e novos atrativos”, diz.
Ele teve que demitir 20% da equipe e renegociar com fornecedores. Apesar disso, as festas continuam cheias. “Continuamos com uma média de 1,5 mil pessoas por final de semana em cada casa. As baladas são como válvulas de escape, por isto as pessoas continuam indo, mas gastam menos”. No Don Sushi, entretanto, o movimento caiu entre 40% e 50%. Dono do Caranguejo de Sergipe, o empresário Nagib Daiha revela que teve queda de 20% do seu faturamento. “A gente tenta manter, reduzindo a equipe, segurando alguns custos, cortando outros e trazendo ofertas”. Ele também presta consultoria para as casas Zen e Éden Music Club e, por lá, diz que o impacto da crise é bem pequeno. “A gente sempre traz bandas conhecidas e capricha na divulgação. A Éden, que antes era Santo Grau, teve um aumento de 50% no faturamento com a mudança de nome e inovações. Já a Zen teve um aumento de 10% no faturamento do ano passado para este ano”,diz.
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