O socorrista Jaelinton Assis Souza Batista, 51 anos, já carregou muitas pessoas nos braços. Anteontem, curiosamente, precisou de toda a força do mundo para pegar nas mãos o pequeno Davi Gabriel Monteiro Coutinho, de 6 meses, vítima do acidente com a lancha Cavalo Marinho I, que deixou 18 mortos. Filmado e fotografado em ação, Jaelinton se tornou um herói sem ter salvo uma vida sequer.
“Por mais situações que a gente pegue no Samu, situações de coisas até piores, isso realmente comoveu”, disse, ontem, em frente ao terminal marítimo de Salvador, mais de 24 horas depois do acidente na baía. No trajeto do barco até a unidade móvel do Samu, Jaelinton carregou o peso de uma vida inteira pela frente. “A cena em si diz tudo, né?”.
"Por mais situações que a gente pegue, situações até piores, isso realmente me comoveu", disse Jaelinton Batista
Quase tudo. Ontem, o “luto” escrito nas paredes de Mar Grande aumentaram o sentimento de perda do pequeno e das outras 17 vítimas, quase todos moradores da ilha. Cartazes com a palavra foram colados pelas lojas, por onde passou o cortejo fúnebre de Davi Gabriel, vítima mais nova da tragédia.
Em respeito à morte do menino, as lojas baixaram suas portas e quem estava na rua acompanhou a caminhada dos parentes para levar o corpo até o Cemitério de Mar Grande. Quem viu o pequeno caixão circulando pelas ruas não conseguiu segurar as lágrimas. “A gente não aguenta quando vê, né? É muito triste”, disse uma moradora, sem se identificar. Todo percurso foi marcado por louvores religiosos e lágrimas dos parentes e amigos da família do bebê.
Emocionado, o avô, Antônio de Assis, não conseguiu falar muito sobre Davi. “Ele era o neto que estava começando agora. Para mim foi uma tristeza muito grande. Não só pra mim, mas pra família toda”, disse.
O tio do menino, José Santana, também estava inconsolável. “A gente não esperava que isso pudesse acontecer. Uma travessia de tantos anos. A gente quer alertar as autoridades para que isso não aconteça mais”, disse. A mãe de Davi, Ana Paula, que sobreviveu ao acidente, não foi ao cemitério e o pai não quis falar com a imprensa.
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Diante da dor da perda, as pessoas se ampararam até para andar. “Nosso coração está chorando”, resumiu uma familiar do menino. Jaelinton conta ter feito de tudo para evitar cada uma dessas lágrimas. “Conduzimos (Davi) para a unidade e foram feitas todas as manobras possíveis”. O bebê foi, inclusive, entubado. Por uma hora e meia, os médicos tentaram reanimá-lo. “A gente sempre tem esperança, né? Eu tinha esperança que aquela criança pudesse voltar”, disse.
O corpo de Davi foi sepultado por volta das 11h30. Muitas crianças e adultos choravam ao ver a cena. “Tira ele aí de dentro”, gritou a prima. Mas era tarde. Davi tornara-se leve o suficiente para subir ao céu e virar estrela.
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Redação iBahia
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