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O que é feminismo? Guia sobre história e conquistas do movimento

No Dia Internacional da Mulher, vamos falar sobre movimento que mudou a história das mulheres na sociedade

Redação iBahia • 08/03/2022 às 6:30 • Atualizada em 27/08/2022 às 5:23 - há XX semanas

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O feminismo é responsável por muitos direitos que as mulheres têm hoje e cada vez mais se torna assunto de discussões, seja na literatura, na TV, no cinema ou na vida real. Quem nunca parou para ter uma conversa sobre o assunto em uma roda de amigos ou em um almoço de família?

Foto: Canva Fotos

No entanto, ainda há muita confusão sobre o que é o movimento e também há quem acredite que existe exagero. Para esclarecer todas as dúvidas, nada melhor do que ouvir especialistas que viveram e vivem o movimento, sejam como militantes ou estudiosas.

A antropóloga e uma das fundadoras Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM) da Universidade Federal da Bahia, Cecília Sadenberg, para definir o que é feminismo destaca que o movimento é uma ideologia que “não é contra os homens”, mas sim “contra o patriarcado, que é um sistema que fortalece a desigualdade de gênero”.

“Além disso, o feminismo é contra o machismo, racismo e homofobia e contra o capitalismo. A gente busca acabar com essa desigualdade, que é gigante no nosso país”, explica.

A também antropóloga e mestre pelo NEIM, Sabrina Uzêda, destaca que não existe um conceito estático e “fechado” do feminismo. “Ele é plural, existem feminismos. É um movimento libertário, que abarca outras pautas, para além da emancipação das mulheres”, reforça.

A visão é a mesma de Maíra Kubík Mano, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e professora do departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da UFBA. Ela destaca que o movimento é múltiplo. “E possui diferentes protagonistas que, em geral, buscam a mudança social para que não haja mais desigualdade entre homens e mulheres, mas compreendendo também que somos atravessados por múltiplas opressões, como raça e classe social”, explica.

Ao falar sobre feminismo, a professora cita um slogan do movimento francês que dizia: “feminista enquanto for necessário”. Ou seja, segundo ela, ser feminista não é um desejo e sim uma necessidade. E que isso só irá acabar “quando tivemos uma sociedade que não trate de maneira diferenciada homens e mulheres, em toda a sua diversidade e pluralidade, não precisaremos mais do feminismo. Mas até lá, é preciso que estejamos organizadas para reivindicar nossos direitos”.

  • Principais conquistas

Um dos marcos do feminismo no país acontece em 1932, com o movimento sufragista. Foi por causa da luta de algumas mulheres que em 1934 o voto feminino passou a ser previsto na Constituição Federal.

Mas Maíra lembra que até a Constituição de 1988, analfabetos não podiam votar e, até essa década, as mulheres eram a maioria das pessoas analfabetas no país. Esse dato se inverte nos anos 90.

Foto: Reprodução / Pinterest

Na segunda onda do feminismo, no final dos anos 1960 e durante a década de 1970, as mulheres levantaram o debate sobre os direitos sexuais e reprodutivos, trazendo à tona questões antes consideradas de âmbito privado – como a questão do aborto, que no Brasil ainda não é legalizado.

“O movimento feminista contemporâneo começa no Brasil nos anos 60, com outros grupos identitários. Com o golpe militar em 64, o feminismo perde força, porque em uma ditadura qualquer movimento social acaba sufocado”, contextualiza Sadenberg.

Cecília está na luta feminista desde 1970. Como coordenadora do monitoramento da Lei Maria da Penha, participou de reuniões na ONU sobre a situação das mulheres e lutou pela mudança da constituição com a inclusão de direito para as mulheres.

A antropóloga explica que nos anos 70, as pós-graduações começaram a ganhar força, dando espaço para a formação de grupos de estudo de mulheres. Essa união resultou em um grande ativismo durante a Constituinte, que levou a alteração da Constituição Brasileira em 1988, incluindo direitos às mulheres.

Maíra explica que as conquistas aconteceram em diferentes âmbitos, como constitucional, com a igualdade entre homens e mulheres, sendo que ambos os cônjuges têm os mesmos direitos e deveres; na previdência social, com a aprovação da proteção à maternidade com pagamento de salário integral durante a licença; e, por exemplo, no que diz respeito à saúde, previu-se o direito ao planejamento familiar.

“Conseguimos muitos avanços naquele período, que era uma luta pela redemocratização do país também. A igualdade de gênero, o estado responsável pelo enfrentamento da violência doméstica, isso tudo foi resultado da luta feminista. No entanto, muita coisa não foi regulamentada”, destaca Cecília.

O feminismo trouxe ainda a visibilidade do preconceito e da discriminação, a problematização do discurso patriarcal, machista, homofóbico, misógino e segregador que está arraigado nas sociedades, reforça Sabrina Uzêda.

“Outro aspecto relevante está na possibilidade de se atentar que o discurso opressor também oprime os homens, os estudos sobre masculinidade afloram nesse contexto”, completa.

No entanto, alguns avanços só foram implementados anos depois e outros – como o aborto – seguem sem vitória. Os direitos trabalhistas da empregada doméstica, por exemplo, só foram conquistados com a aprovação da PEC das Domésticas, em vigor desde 2013.

“Nos anos 2000, temos como conquista importante a Lei Maria da Penha, acerca da violência doméstica e familiar contra as mulheres. Posteriormente, tivemos a tipificação do feminicídio, reconhecido como uma forma específica de assassinato que ocorre em decorrência do gênero”, relembra Maíra.

  • Nova onda

Atualmente, há uma discussão sobre uma nova onda de feminismo no Brasil. Existem pesquisadoras que acreditam que vivemos uma quarta onda do movimento. Ela seria algo presente na última década, quando as conquistas citadas anteriormente foram alcançadas.

Para Maíra, a internet tem um importante papel na disseminação do feminismo. “Por um lado, o conhecimento sobre os feminismos ficou mais acessível. Por outro, se produz muito conteúdo novo com os relatos em primeira pessoa. As campanhas como #meuprimeiroassedio trouxeram esse tom pessoal a um tema que é fundamental para o movimento feminista”, analisa.

Já para Sabrina Uzêda, um dos grandes responsáveis por essa popularização é o capital. A antropóloga acredita que o mercado entendeu que o discurso feminista gera lucro. Sobre isso, ela tem ressalvas. “A meu ver é um discurso muito raso e questionável, panfletário, que não abarca nuances mais profundas do preconceito e da discriminação. Muitas vezes reforça a opressão, a subjugação. É esse discurso que está sendo popularizado”, defende.

A especialista diz que este discurso “não aborda o subjetivo, os significados, a construção de outras possibilidades de perceber o mundo de uma maneira mais libertária com seu corpo, nas relações com parceiros e parceiras, com sua família, no seu trabalho”.

  • Vertentes
Foto: Canva Fotos
As mulheres são múltiplas, originárias de diferentes vivências, culturas e histórias. Isso faz do feminismo um movimento plural, que foi construindo vertentes diferentes ao longo da história.

“Dentro dos vários feminismos, existem demandas e lutas distintas, por exemplo, para as liberais era importante o direito ao voto, o movimento de mulheres negras lutava por igualdade racial, direito a creche para seus filhos (as), as socialistas lutavam por uma igualdade de classe, melhores condições de salário, são apenas alguns exemplos das distintas demandas desses feminismos”, explica Sabrina.

Feminismo Negro

Uma das vertentes mais fortes é a do feminismo negro. Ele surge da vivência de mulheres negras que não se viam representadas pelas lutas do movimento branco, por serem expostas também ao racismo, e não só ao machismo.

Na literatura e militância, nomes como Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Chimamanda Ngozi Adichie e bell hooks são referências para o feminismo negro.

A antropóloga Cecília Sademberg reforça que a diferença entre mulheres brancas e negras em um mercado de trabalho, por exemplo, ainda é muito grande. E durante a história, enquanto as mulheres brancas lutavam por essa inserção, as negras eram obrigadas a trabalhar como escravas e empregadas domésticas.

Feminismo Liberal

Outra vertente do feminismo, considerada a mais antiga, é o liberal. Com origem na Revolução Francesa, as feministas liberais desejam alcançar a igualdade entre homens e mulheres na sociedade por meio de reformas políticas, legais e econômicas, inserindo as mulheres no sistema. O objetivo, no feminismo liberal, não quer romper com o sistema.

Feminismo Socialista

É uma oposição ao feminismo liberal. É uma vertente que vê no capitalismo a fonte da desigualdade entre gênero. Ou seja, a economia impede a mulher de acessar oportunidade iguais às dos homens.

  • Dicionário feminista

O feminismo trouxe para pauta termos que muita gente ainda não está familiarizada. Alguns destes têm origem na língua inglesa e não têm tradução para o português e outros nem aparecem no dicionário. Para entender o movimento, é preciso entender estes conceitos. Confira:

Sororidade:

Você provavelmente já ouviu esse termo, mas talvez ainda tenha dificuldade de entender do que se trata. Sororidade fala sobre empatia e solidariedade entre mulheres, combatendo a rivalidade entre o gênero. O conceito da sororidade é de que juntas as mulheres conseguem ser mais fortes e conquistar mais coisas e poder.

A palavra utilizada no Big Brother Brasil 20 pela cantora Manu Gavassi e naquele período a busca pelo termo no Google cresceu 250%.

Empoderamento:

As mulheres estão cada vez mais empoderadas e isso é graças ao feminismo. Mas o que isso quer dizer? A palavra empoderamento foi criada pelo educador Paulo Freire. Ele se baseou no termo inglês "empowerment", que significa fortalecimento.

No feminismo, o empoderamento significa o reconhecimento do poder das mulheres enquanto grupo social.

Patriarcado:

É o sistema sociopolítico no qual o machismo se baseia. Nele, o masculino e a heterossexualidade têm superioridade em relação a outros gêneros e orientações sexuais.

Misoginia:

É uma palavra de origem grega que significa "ódio à mulher". O termo pode ser utilizado de diversas maneiras para indicar atitudes como exclusão social, discriminação, hostilidade ou até mesmo violência.

Gaslightting:

É um tipo de violência psicológica que tem como vítimas, na maioria dos casos, as mulheres. O Gaslightting baseia-se, essencialmente, em obter controle sobre os demais através de táticas de persuasão para diminuir a autoestima da vítima.

O termo surgiu a partir do filme Gaslight (À Meia Luz), de 1944. Para esconder um segredo da esposa, o marido da protagonista usa táticas para abalar o estado psicológico da mulher, convencendo-a de que está louca.

Mansplaining:

O termo ficou conhecido por Rebecca Solnit no livro 'Os Homens Explicam Tudo para Mim'. Na obra, ela conta uma experiência em que "um homem passou uma festa inteira falando de um livro que 'ela deveria ler', sem lhe dar a chance de dizer que, na verdade, ela era a autora".

Ou seja, a expressão é utilizada nos momentos em que os homens tentam insistentemente explicar algo para uma mulher quando ela já sabe sobre o assunto.

Manterrupting:

O termo refere-se à quando homens interrompem mulheres diversas vezes, de forma com que ela não consiga concluir sua linha de raciocínio em uma conversa.

Sexismo:

Sexismo nada mais é do que a discriminação de gênero, ou seja, o preconceito que se tem por alguém simplesmente por conta de seu gênero

Objetificação:

Como o nome diz, é um termo relacionado à quando uma mulher é reduzida à condição objeto. Isso acontece quando a mulher é limitada a sua beleza física e atributos sexuais e seus pensamentos e sentimentos são anulados.

Foto: Divulgação
  • Para estudar o feminismo

Ao longo dos anos, o feminismo foi estudado por inúmeras mulheres, que transformaram seus conhecimentos e pensamentos em livros. Desde clássicos até a literatura contemporânea, há diversas leituras disponíveis para quem quer entender mais o assunto. Confira cinco opções e boa leitura!

  • Quem tem medo do feminismo negro? - Djamila Ribeiro

O livro da filósofa brasileira Djamila Ribeiro reúne um longo ensaio autobiográfico e uma seleção de artigos publicados por ela na no blog da revista Carta Capital. Lançado em 2018, a obra é de teoria feminista, especificamente do feminismo negro.

  • O Feminismo para todo mundo – bell hoocks

Uma das principais feministas negras do mundo, bell hoocks apresenta no livro a natureza do feminismo e seu compromisso contra sexismo, exploração sexista e qualquer forma de opressão. Como o título diz, na obra hoocks defende que o feminismo pode mudar para melhor a vida de todo mundo. “Homens, mulheres, crianças, pessoas de todos os gêneros, jovens e adultos: todos podem educar e ser educados para o feminismo”, diz a sinopse do livro.

  • Sejamos todos feministas - Chimamanda Ngozi Adichie

O livro de Chimamanda Ngozi Adichie é um ensaio sobre feminismo, que se trata de uma adaptação da palestra ministrada ao TEDx Euston, com mais de 1,5 milhão de visualizações. No livro, a autora reforça sua identidade como “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.

  • Os homens explicam tudo para mim - Rebecca Solnit

O livro de Rebeca Solnit tem como base um episódio da vida da autora, que culmina no termo mansplaning. A história base se trata de um homem que abordou a autora em uma festa e passou horas sugerindo a leitura de um livro, que na verdade era de autoria dela.

  • Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estés

O livro da psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés usa conceitos da psicanálise, mitos e lendas, bem como a observação de lobos para construir a narrativa. A obra é um dos clássicos do feminismo e sobre temáticas feministas.

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