Com a proposta “O bem-estar dos homens como premissa para a redução da violência contra as mulheres”, Maiara Liberato teve o seu trabalho selecionado, junto a pesquisadores mestres, doutores e PhDs do mundo todo, para apresentar em um dos prestigiados eventos científicos da área de Direitos Humanos, que acontece de 06 a 08 de outubro de 2021, em Portugal.
A Mestranda do Programa de Família na Sociedade Contemporânea, da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), e integrante do Núcleo de Estudos em Educação para os Direitos Humanos (NEDH), que pesquisa sobre Masculinidades, chama atenção para a necessidade de trabalhar a prevenção e promoção da violência contra as mulheres sob um novo paradigma, visto a desproporcionalidade da ordem de esforços e recursos empreendidos, ao nível global e nacional, permanecer desproporcional aos resultados alcançados.
A pesquisadora defende que os homens devem ser o principal foco das políticas públicas de prevenção à violência, uma vez que são os principais vetores. Chama a atenção para a necessidade de uma união de esforços entre a iniciativa privada e a sociedade civil, para tratar de um problema complexo que afeta a todos e perpassa pelas áreas de Segurança Pública, Saúde, Cultura, Educação e Direitos Humanos, trazendo prejuízos de diversas ordens.
Segundo estimativas feitas pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, tomando como base dados entre 2003 e 2015, os gastos com violência chegam a 6% do PIB brasileiro, o mesmo percentual investido em Educação. Em 2017, o Fundo de População das Nações Unidas publicou um estudo que mostra que a conquista da Igualdade de Gênero possibilitaria um incremento de $ 38 trilhões de dólares no PIB global. Esse mesmo dado pode ser lido de outras formas, a saber, um aumento superior ao somatório do PIB dos EUA, China e Brasil de 2020. Mas, pode-se também pensar num crescimento de 27,14 vezes o PIB do Brasil em 2020.
Os prejuízos não são, apenas, financeiros. Os impactos em famílias desestruturadas é muito grande. Então, a pergunta que não cala é: por que ainda não houve um avanço efetivo? Quais questões não estão sendo levadas em consideração e por quê? Analisando a Lei Maria da Penha que, por natureza é uma lei penal, ela só pode ser aplicada após o crime ser cometido. “Não podemos esperar os homens agredirem as mulheres para atuarmos!”, destaca. Os avanços no sentido de criação de redes de apoio, amparo e proteção às mulheres e suas famílias vêm avançando, em função da união dos esforços empreendidos por diversos órgãos e profissionais, bem como a tentativa de coibir a reincidência dos crimes, em contrapartida o número de violências só faz/fez aumentar, sobretudo numa situação de hiperconvivência, como a pandemia da COVID-19, que potencializou os problemas e conflitos existentes e persistentes há séculos.
Para Maiara Liberato, urge fazer um trabalho preventivo de educação e socialização dos homens, que possibilite outras formas de se vivenciar as masculinidades, incluindo aspectos socioemocionais e afetivos, e dissociando o “ser macho” de noções de poder, virilidade, subordinação e subalternidade. Defende também, que sejam ofertados produtos culturais – músicas, filmes, jogos, livros, charges etc – com conteúdos dissociados e não restritos a pornografia, humor, esportes, bebidas, violências e aversão a tudo o que se refere ao universo feminino, e que pode levar um homem a ser questionado acerca de sua hombridade, algo extremamente relevante ao público masculino.
É preciso um olhar mais atento às necessidades emocionais e existenciais dos homens, que sofrem muitas violências intragênero e não contam com nenhum suporte, informações, recursos e ferramentas para fazer frente a uma pressão social, que oprime e violenta homens e mulheres. Urge um esforço para que homens e mulheres atuem conjuntamente, buscando soluções para o bem comum, com foco em equidade e respeito ao que o ser humano possui de mais precioso e que é o fundamento dos Direitos Humanos, a sua dignidade.
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Redação iBahia
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