Se o Brasil investisse todos os anos o equivalente a 7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, precisaria de 20 anos para chegar à eficiência logística que a Coreia do Sul tem hoje. O cálculo, divulgado ontem no seminário sobre Infraestrutura pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, mostra o tamanho da defasagem que existe no Brasil nesse setor.
De acordo com os dados mostrados por Mascarenhas relativos a 2010, o Brasil investe 2,5% do seu PIB, menos até que a Bahia, com 3,9%. Para se ter uma ideia, a Índia aplica anualmente 4,8% e a China, 13,4%. Os estudos apresentados consideram que o mínimo para o Brasil crescer seria um investimento de 5% ao ano. Com 3%, mantém tudo como está, mas não avança. “Quem paga essa conta é o produtor, não é o Estado”, observou. Peso dos transportesDevido em grande parte às más condições da infraestrutura, o peso do item transportes nos custos de transferência de mercadorias é de 30%, enquanto nos Estados Unidos é de 20%, disse. As estradas também são outro problema. Mal conservadas, suportam pressão maior do que permite a capacidade para a qual foram construídas. Mascarenhas citou a BR-242, por onde a produção de soja do Oeste é escoada. “A CNI (Confederação Nacional da Indústria) está contratando um estudo sobre a infraestrutura do Nordeste, priorizando estradas. Quer saber quais as intervenções necessárias, elaborar um planejamento estratégico e classificar soluções”, informou. A energia tem preço considerado inaceitável pelo presidente da Fieb, tendo em vista os recursos disponíveis no país. Ele criticou a pressão ambiental exagerada em relação aos aproveitamentos hidrelétricos, o que, na sua opinião, está fazendo com que a riqueza do Brasil nesta área se esvaia e o custo fique mais alto. Hoje, o Brasil tem a terceira energia mais cara do mundo. Evasão de cargas“Os encargos e taxas impactam a competitividade industrial”, observou, explicando que 55% do preço do insumo corresponde à geração e 45%, a tributos e encargos trabalhistas. Problema maior da infraestrutura industrial baiana, os portos não estão conseguindo atender à demanda do estado. Mascarenhas disse que a má condição do complexo portuário provocou uma evasão de cargas de 26,2% só no primeiro trimestre deste ano. Enquanto a Bahia movimenta 40 milhões de toneladas por ano em todo o seu complexo, o porto de Xangai sozinho movimenta 500 milhões de toneladas anuais. Investimento de R$ 43 biO presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) do Ministério do Planejamento, Marcio Pochmann, disse ontem que o Brasil precisaria investir, de imediato, R$ 43 bilhões para resolver os principais gargalos do seu sistema portuário, entre eles as necessidades de dragagem, construção de acessos terrestres e implantação de equipamentos. Isso, porém, não seria suficiente para promover a modernização dos portos e colocá-los entre os mais modernos do mundo. Pochmann foi palestrante do seminário sobre Infraestrutura, dentro da programação do Agenda Bahia. Ele disse que o Ipea fez um estudo e identificou 265 obras necessárias os portos brasileiros, sem considerar os projetos para a implantação de novos empreendimentos. Nesse caso, ele citou uma série de projetos da iniciativa privada. Ferro pelo Porto de AratuO presidente da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), Marcello Spinelli, aproveitou sua palestra no Agenda Bahia para anunciar que a sua empresa, que é controlada pela Vale, e a Arc Alfa assinaram ontem um contrato para o transporte de minério de ferro entre a região do município baiano de Iaçu para o Porto de Aratu. O acordo prevê o transporte de quase 4 milhões de toneladas até 2016. Segundo Spinelli, para transportar o minério será construído um terminal em Iaçu. De lá, a carga seguirá por cerca de 300 quilômetros de linha férrea até o porto. “A parceria dará mais competitividade ao minério da Arc Alfa, já que a ferrovia é o meio de transporte ideal para o minério”, disse. Antes do debate, Spinelli afirmou que o governo baiano fará a recomposição da linha férrea do Porto de Aratu, obra estimada em R$ 30 milhões. Privatização dos portos em debateNo primeiro debate do Agenda Bahia, moderado pelo editor-executivo do CORREIO, Oscar Valporto,o secretário James Correia (Indústria, Comércio e Mineração) e o presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas, criticaram duramente a falta de investimentos no complexo portuário do estado. “Estamos vivendo um apagão no setor portuário, e precisamos reagir”, atacou o secretário. Mascarenhas disse que a burocracia governamental atrapalha os investimentos e pediu uma legislação mais moderna. Para o ex-presidente da Santos Brasil, Wady Jasmim, as ideologias devem ficar de lado: “A modernização dos portos só tem um caminho: o da privatização”. Presidente da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), Marcello Spinelli disse que o governo precisa estimular a participação de empresários. “Só assim vamos eliminar os gargalos que emperram o desenvolvimento”, disse.
Mascarenhas: o que o Brasil investe anualmente dá para manter o que tem, mas sem registrar avanços |
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