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BAHIA

Seca já provoca alta de até 67% na cesta do baiano

Feijão e farinha são os alimentos mais prejudicados com a estiagem

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11/05/2012 às 9:51 • Atualizada em 06/09/2022 às 17:36 - há XX semanas
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“Minha filha, quando você for dar uma notícia dessas a uma pessoa de idade, fale devagar, pra pessoa não infartar”. A dona de casa, que pediu para não se identificar, se referia ao preço do quilo do feijão mulatinho num dos boxes da Ceasa: o valor aumentou de R$ 6 para R$ 10, nos últimos dois meses. Por causa da seca que atinge os principais municípios produtores de feijão do estado, o alimento foi o que registrou a maior alta entre março e abril (64,83% o carioca e 41,5% o mulatinho). Além dele, outros itens da cesta básica do baiano também foram afetados por causa da estiagem. A farinha foi uma delas. “A que era R$ 2 foi pra R$ 2,50 e a que era R$ 2,50 agora está por R$ 3”, diz Marcos Reis, dono de um dos estandes da Feira de São Joaquim. O aumento chegou a 25%. A farinha de seu Marcos vem principalmente de Nazaré das Farinhas e Santo Antônio de Jesus. As duas cidades não foram afetadas diretamente pela estiagem mas, segundo a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a cultura de mandioca atinge os 417 municípios baianos, o que inclui os 266 em estado de emergência. Com a produção reduzida, a oferta do produto caiu, o que fez os preços subirem. Na barraca de seu Marcos, o feijão carioquinha, que custava R$ 3,50 o quilo, agora é R$ 5,50. Se os clientes estão reclamando? “O povo só não reclama do preço da cerveja, moça. Mas levam do mesmo jeito. Não vão deixar de comer, né?”, diz, com a sabedoria de quem trabalha na feira há 52 anos. “Eu não tenho nem coragem de reclamar. Estou acompanhando o noticiário e sei como está a situação”, conforma-se a baiana de acarajé Rose Ferreira. “Pelo menos os ingredientes do acarajé ainda não subiram”. Outros produtos Os ingredientes do acarajé não, mas outros produtos da cesta básica do baiano sim. Foi o caso do aipim, do carimã, da soja e do milho, embora em proporções menores. “Também tem o maxixe, que para conseguir uma caixa, virou leilão. O jiló também está uma dificuldade e as bananas estão tão mirradinhas que dão pena”, diz a comerciante Débora, da Feira de São Joaquim. “O povo vê o preço e diz que a gente está roubando. A gente explica como está a situação, mas eles não entendem”, reclama. Na barraca de Débora, o aipim subiu de R$ 2,50 para R$ 3,50 e o carimã de R$ 1,50 para R$ 2. Já o comerciante da Ceasa Uemerson Cruz conta que seu maior problema foi com a castanha. “A gente comprava de Irecê, mas agora está tendo que trazer de Sergipe”, conta, acrescentando que o preço da saca subiu de R$ 20 para R$ 30 nos últimos dois meses. O beiju vendido no estande não pode mais ser comprado por R$ 2,80. “Agora custa R$ 3,50”, diz o vendedor. A comerciante vizinha era uma das poucas que, no meio desta semana, ainda vendia o quilo do feijão mulatinho a R$ 9. “É que ainda não comprei saca nova. Sei que subiu de R$ 380 para R$ 440”, diz dona Lelita Lima, que ainda arrisca uma previsão pouco animadora para os consumidores. “Esse preço ainda tem muito o que subir. Daqui a pouco chega a R$ 12”. No supermercado Bompreço do Canela, a situação não foi muito diferente. Com farinha a R$ 3,62 e feijão carioquinha em torno dos R$ 6 (veja boxe ao lado), os clientes reclamam. “Ia comprar mais feijão, mas não deu porque o preço está muito alto”, observou a diarista Jeilda Reis. “Está difícil de achar uma verdura boa e as frutas estão todas murchas”, completou a atriz Nivalda Araújo.
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Crédito já vale na segunda-feira Com quase toda a safra perdida, os animais morrendo e os custos de produção inflacionados pela seca, os produtores rurais das zonas afetadas estão cada vez mais endividados. "Sem pasto, está difícil manter os animais, aí todo mundo quer vender e o preço vai lá pra baixo. A situação está feia. Quem pegou empréstimo no banco está sem conseguir pagar", conta o presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Irecê, José Carlos Oliveira de Carvalho. O presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Feira de Santana, Carlos Henrique Rodrigues, endossa o que disse o colega. "A questão é urgente, o gado está morrendo, os pecuaristas estão passando necessidade". Para eles, a boa notícia é que a partir de segunda-feira, a Secretaria de Agricultura do estado (Seagri) e o Banco do Nordeste (BNB) já estarão disponibilizando o crédito emergencial para os produtores rurais das áreas afetadas pela seca. "Quem ganha até R$ 6 mil por ano, terá um crédito de até R$ R$ 2,5 mil. Acima disso, pode conseguir até R$ 12 mil, para pagar em 10 anos com juros de 1% ao ano", explica o superintendente do BNB, Nilo Meira. Segundo o secretário de Agricultura, Eduardo Salles, a renegociação das dívidas já está disponível tanto no BNB quanto no Banco do Brasil. "Basta a pessoa chegar lá e conversar". Ele aproveita para avisar que só terá o crédito aprovado quem não for inadimplente. "Meu conselho é que quem tem alguma dívida corra para o banco para renegociar. Senão, vai chegar segunda-feira e não vai conseguir o crédito rápido". O superintendente do BNB também avisa que para empréstimos superiores a R$ 2,5 mil, o produtor precisará se dirigir à EBDA para elaborar um projeto com o destino de cada real. Dica: Ceasa é melhor para hortifruti O senso comum diz que as feiras e a Ceasa têm os preços mais em conta. Mas nem sempre é assim. Numa pesquisa de preços realizada pelo CORREIO anteontem, era mais vantagem comprar feijão no Bompreço do que na Ceasa. Na loja do Canela, é possível levar o quilo do carioquinha por R$ 5,98, enquanto no Centro de Abastecimento, o preço estava em torno de R$ 6,90. Mas foi na Feira de São Joaquim que encontramos o melhor preço: R$ 5,50. No caso do aipim, o Bompreço teve o melhor valor: R$ 2,85, contra R$ 3,50 da feira. O produto não foi encontrado na Ceasa do Rio Vermelho. Sobre as diferenças de preço, o assessor técnico de varejo da Ceasa, Joselito da Silva, explica que o local é mais forte na venda por atacado. "O feijão carioquinha, no atacado, sai a R$ 5 o quilo. Mas a pessoa tem que levar 30 quilos". Ele conta também que a Ceasa é o local mais vantajoso para comprar hortifruti. "Todo o hortifruti que é vendido na cidade passa por aqui primeiro. Até os supermercados compram da gente", diz. Como exemplo, ele usa o preço da salsa, que é vendida a R$ 3 o molho. "O povo compra aqui, divide em cinco, seis molhos e vende pelo mesmo preço na feira".

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