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BAHIA

Sem terra, sem teto e sem estrutura

Movimento realiza a marcha do Abril Vermelho, lembrando os 19 sem-terra que morreram no massacre de 1996

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12/07/2010 às 12:23 • Atualizada em 29/08/2022 às 16:55 - há XX semanas
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Integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) chegaram à capital baiana para reivindicar urgência da Reforma Agrária. A Marcha Estadual faz parte da Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, feita em homenagem aos 19 Sem Terra assassinados pela PM (Polícia Militar) do Pará, em 17 de Abril de 1996. Esta semana, a Fazenda Colatina, local do massacre, foi ocupada por cerca de 150 famílias. Na Bahia, a Jornada de Lutas, conhecida como “Abril Vermelho”, conta com 17 ocupações e mais ações são esperadas até o final do mês. Como forma de relembrar as mortes, em 2010, os sem-terra adotaram a luta contra o crime e uma homenagem aos companheiros assassinados no Pará. Em Salvador, os membros do movimento acamparam na estação do metrô, na Rótula do Abacaxi, e na manhã da terça, 27, tomaram a direção do Centro Administrativo da Bahia para reunião na Seagre (Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária). Cerca de cinco mil trabalhadores rurais, de todas as regiões, participam da marcha. “Desde 1997, as marchas ficam acampadas aqui.Se algum dia eles concluírem a obra do metrô, teremos que procurar um outro local”, diz Elielson Loures, membro da direção estadual do MST. O líder afirma que os manifestantes tentam negociação com o governo. Caso isso não aconteça, deverão acampar em um dos prédios do governo. Como o movimento conta com membros de todos os lugares do estado, estão sendo providenciados transportes que levem as pessoas de volta para os municípios de origem, após a manifestação. “Chegamos aqui na capital, dia 26, e já temos audiência com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Espero que seja breve a resposta”, completa. O MST agrega a cada ano um número maior de membros. Nos discursos dos afiliados, são citados fatores como a falta de oportunidades no mercado de trabalho e dificuldades financeiras. “Há 10 anos faço parte do grupo. Minha família tinha uma renda boa, mas, perdemos tudo, passamos fome. Meu pai foi para o movimento e me levou. Gostei, constitui família e não penso em sair”, afirma Donatillo Barros, 26 anos. “Eu sou filho de fazenda. Hoje, o mercado está muito difícil. Já consegui um pedacinho de terra, graças ao movimento”, revela Sisinio dos Santos, 75 anos. Para a higiene pessoal dos sem-terra, a prefeitura de Salvador liberou caminhões pipa que abastecem os locais de acampamento. Cada pessoa tem direito a 10 litros de água para tomar banho e lavar a roupa. Já as crianças não têm limites. Para homens, o banho é no caminhão pipa, sempre com roupas. Para as mulheres, foi improvisado um banheiro montado com lonas pretas. Para as necessidades fisiológicas, o município também disponibilizou banheiros químicos instalados na estação, já que o lugar não conta com estruturas apropriadas. Educação – Os grupos que partiram dos municípios do interior e região metropolitana contam com pessoas de todas as faixas etárias. Crianças que ainda estão no ensino fundamental fazem parte deste grupo. Segundo Elielson Loures, os pequeninos deixam de frequentar as salas de aula no período das caminhadas para acompanhar os pais. Professoras especializadas contam um pouco sobre a história do movimento, além do ensino tradicional. No caso das faltas, o conselho de educação do Movimento Sem Terra emite declarações que abonam as ausências. Em alguns casos, professores não aceitam o documento e o menor acaba se prejudicando na vida escolar. Caso demore mais de uma semana, em alguma invasão temporária, eles mandam as pessoas, que precisam estudar, de volta para o assentamento e buscam pessoas que não têm um compromisso fixo. Os estudantes do ensino médio não participam das caminhas. Além disso, ajudam na educação dos outros membros. Saúde - Os acampamentos temporários e assentamentos contam com uma estrutura hospitalar natural. José Carlos, coordenador da saúde alternativa do movimento há oito anos, explica que não é médico, mas, entende bastante de ervas medicinais. “Eu conheço essa cultura antiga, mas, me atualizo lendo revistas, livros e revistas sobre o assunto. As pessoas tomam os remédios de acordo com cada sintoma, sei identificar o medicamento certo. Além disso, faço um curso à distância na Universidade Federal de Viçosa (UFV)”, conta. Boldo, cebola, alho são algumas alguns ingredientes utilizados para tratar os assentados. Quanto à vacina contra H1N1, José Carlos fala que a maioria já tomou, os outros serão vacinados em breve. Abril Vermelho - O movimento faz parte da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária e rememora o massacre de Eldorado de Carajás, no qual 19 pessoas foram mortas, em 17 de abril de 1996, no Pará. Após diversos apelos pela Reforma Agrária, cerca de 2500 pessoas partiram, em marcha, a capital Paraense. No trajeto, o movimento fechou uma das rodovias federais por onde passava. Depois de um acordo pacífico, cerca de 200 policias armados e sem identificação chegaram dos dois lados da estrada e encurralaram os manifestantes. Eles lançaram bombas e tiros certeiros contra os agricultores. Foram 22 mortos no massacre de Eldorado de Carajás.

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