Chegar na praia e não ter onde sentar. Enfrentar fila para subir ou descer num descuidado Elevador Lacerda. Andar pelas ruas sujas do Pelourinho e lidar com o desconfortável assédio dos ambulantes. Transitar por ruas intransitáveis e chegar a hotéis com escassas opções de lazer. Diante do que é oferecido, o visitante de Salvador preferiu fugir. E encontrou um contrastante refúgio não muito longe: Praia do Forte, localizada a 56 quilômetros, no limite entre a Linha Verde e a Estrada do Coco, no município de Mata de São João.
Para os visitantes, a palavra que define o local é a tranquilidade. E para as agências de viagem também. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens na Bahia, Pedro Galvão, as empresas estão preocupadas em manter a positividade na publicidade do “boca a boca” que, segundo ele, é essencial para o setor. “As operadoras querem que o cliente seja bem tratado e, por isso, preferem um lugar que tem uma melhor infraestrutura”, afirmou Galvão. “Um turista satisfeito volta e traz mais dez amigos. O insatisfeito não vem mais e faz com que ninguém queira vir”. É o caso da carioca, Manuela Andrade, 18 anos, que vê também na passagem por Praia do Forte uma ótima oportunidade para fazer compras. Segundo Manuela Santos, os serviços da Praia do Forte, incluindo bares e restaurantes, chamam a sua atenção. “Meu irmão foi para Salvador, eu preferi vir logo pra cá, onde tem as melhores praias”, diz Manuela. A soteropolitana Fernanda Sotelino, 13 anos, concorda com Manuela. “Nem se compara a paz daqui com as praias de Salvador, diz.
Pacotes Segundo Galvão, por conta do descaso da prefeitura com os pontos turísticos de Salvador, não só o visitante tem preferido se hospedar em lugares mais confortáveis como também as agências têm oferecido mais pacotes para mantê-los menos tempo na capital e desse modo garantir boas lembranças da Bahia.
“Pelo menos lá você tem restaurantes de boa qualidade. Aqui em Salvador o turista é submetido a comer uma comida insalubre nas praias, vendidas em isopor, porque as barracas foram derrubadas e não há estrutura para os ambulantes”, critica Galvão. Quem vende a Bahia diariamente percebe a mudança de comportamento do turista, que agora, ao invés de permanecer na capital e passar o dia nas praias do litoral norte, como Sauípe, Imbassaí e Guarajuba, preferem garantir o conforto por lá e fazer um rápido passeio pela capital. Linha verde“Salvador tem sido a parte do ver para conhecer. Mas o ficar foi substituído pelo Litoral Norte”,diz o supervisor do Departamento de Lazer da agência Alltour, Edson Rigueira. “Lá tem mais infra, conforto e opções de lazer. Hoje a Linha Verde está quase toda lotada. Já os hotéis de Salvador são mais voltados para os eventos corporativos”. A família gaúcha Reidams veio à Bahia pela terceira vez e, ao contrário da primeira, em 2009, foram direto para a Praia do Forte. “Salvador não tem mais o que ver”, disse Jaques Reidams, 57 anos. “Aqui é muito mais tranqüilo“. Para Edson Rigueira, se nada mudar, a tendência continuará a ser essa. “É melhor levar o turista pra um lugar com beleza e estrutura adequada e dar aquele pulinho em Salvador”, diz. “Ainda há uma divulgação grande de Salvador lá fora, mas é de algo que não existe mais”. Policiamento reforçado Em novembro, o CORREIO noticiou o grande número de roubos praticados por menores nos estabelecimentos comerciais de Praia do Forte. No ano passado, uma das queixas dos próprios policiais e da população era a falta de policiamento. Com o aumento em 80% do efetivo da Polícia Militar, ocorrido dentro da Operação Verão, o cenário parece ter mudado. Comerciantes do local, a maioria não-nativos, asseguram que a tranquilidade do distrito é um atrativo para turistas e moradores. Faz seis anos que a gaúcha Carolina Lima, 46, veio a Praia do Forte para um passeio de final de semana e não quis mais ir embora. Na época, diz ter visto na vila uma oportunidade para “ganhar dinheiro” com a venda de bijuteria e artesanatos. “Fico com a loja aberta até de madrugada, com dinheiro exposto e nunca fui assaltada, quer exemplo melhor de que aqui é um lugar seguro? Não é como Salvador, que acontece todo dia. Aqui, assaltos são coisas isoladas”, conta Carolina. Já a dona de restaurante Sheila de Paula, 34, diz que o crescimento imobiliário no local tem trazido “pessoas estranhas” junto com as obras, o que para ela cria uma clima de insegurança. Comandante do 53ª Companhia Independente de PM, o major Sergio Murilo Silva avalia que os índices de violência no local são aceitáveis para a realidade brasileira e pede atenção dos frequentadores. “As pessoas devem procurar policiais militares para saber da procedência dos lugares onde frequentam, ficar atentas aos seus pertences, inclusive pedindo que barraqueiros ou acompanhantes observem-nos na sua ausência e não entrar em regiões de mata sem guias”, alerta.
Tranquilidade de Praia do Forte desbanca capital baiana |
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