Aproximadamente 70% dos assassinatos de jornalistas registrados no Brasil nos últimos vinte anos ficaram impunes, segundo levantamento da organização americana Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). O caso mais recente é o do repórter de política e blogueiro Décio Sá, baleado em um restaurante no dia 23 em São Luís (MA). Sá trabalhava no jornal O Estado do Maranhão, da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O CPJ contabilizou 20 assassinatos de jornalistas entre 1992 e 2012 no Brasil, sendo que 14 não foram punidos. Outros seis foram parcial ou totalmente esclarecidos e seus culpados punidos. O Brasil foi classificado pelo comitê em 11º lugar entre os países onde há mais impunidade contra profissionais da imprensa. "Os crimes contra jornalistas continuam sendo um dos principais problemas que a imprensa enfrenta nas Américas", afirmou em nota Gustavo Mohme, da Sociedade Interamericana de Imprensa, após a morte de Sá. O levantamento da CPJ, entretanto, já está desatualizado. A organização contabilizou em 2012 apenas o assassinato do jornalista Mário Randolfo Marques Lopes, em Vassouras (RJ), em fevereiro. Não foram incluídos no estudo a recente morte de Sá e os assassinatos do radialista Laécio de Souza, da rádio Sucesso FM, de Camaçari (BA), ocorrida em janeiro, e do repórter do Jornal da Praça e do site Mercosulnews, Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, em Ponta Porã (MS), em fevereiro. Dos quatro assassinatos de jornalistas de 2012, apenas o de Laércio Souza foi esclarecido pela polícia. Segundo a Polícia Civil da Bahia, ele foi morto por criminosos em janeiro na cidade de Simões Filho (região metropolitana de Salvador) após descobrir e denunciar um esquema de narcotráfico que operava em uma comunidade onde Souza planejava realizar trabalhos sociais. Um suspeito foi preso e aguarda julgamento. Um adolescente foi apreendido e submetido a 45 dias de medida socioeducativa. Um segundo adolescente que participou do crime foi achado morto. Sobre o assassinato de Sá, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão afirmou que um suspeito chegou a ser detido, mas não foi formalmente indiciado. As mortes de Rodrigues e Lopes permanecem sem solução. Segundo a pesquisa do CPJ, a maior parte das vítimas são jornalistas que denunciaram casos de corrupção. Em segundo lugar vêm os repórteres policiais e, em terceiro, aqueles que escrevem sobre temas políticos. Porém, mais comuns que os assassinatos são os casos de intimidação e ameaças. Após escrever reportagens sobre assassinatos extrajudiciais cometidos por maus policiais em 2003, o repórter especial paulistano J., de 54 anos, começou a receber ameaças e teve que "desaparecer" por 40 dias. Depois trabalhou por mais de quatro meses protegido por uma escolta armada. "Muda tudo na sua vida. Você se dá conta que é extremamente vulnerável", afirmou J. "A minha família ficou desesperada, se eu atrasasse cinco minutos era motivo para muita preocupação. Quase entrei em depressão", disse.
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