A greve dos caminhoneiros já afeta a distribuição de diversos produtos no Brasil, como remédios, gás de botijão, produtos de beleza, gases medicinais e flores. De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafama), Sérgio Mena Barreto, a paralisação se reflete na falta de insulina e hormônios, usados para doenças do sistema nervoso, em diversas farmácias do Rio de Janeiro.
- Nesta quarta-feira a greve ficou mais forte, pois até ontem (terça-feira) os caminhões com remédios estavam passando pelos bloqueios nas rodovias. Mas hoje eles não conseguiram passar mais pelos bloqueios. As farmácias são abastecidas todos os dias. Em alguns locais, a reposição de estoque ocorre mais de uma vez por dia. O problema mais grave são com os medicamentos que precisam de refrigeração. Já faltam insulina e hormônios, usados para doenças autoimunes e artrose, por exemplo, em farmácias do Rio de Janeiro. Mas em um ou dois dias isso pode se generalizar - disse Mena Barreto.
Segundo ele, o problema se agrava a cada dia, pois 70% dos remédios no Brasil são fabricados em São Paulo. Por dia, são distribuídos 6,3 milhões de remédios em geral, que atendem a 2,5 milhões de pessoas por dia.
- Queremos mostrar para o sindicato dos caminhoneiros que considerem o setor e o tratem de forma especial, pois esses medicamentos refrigerados não podem ficar parados na estrada, pois têm validade muito curta - afirmou Mena Barreto.
Menos flores frescas em loja no Fashion Mall
As lojas que vendem flores frescas foram surpreendidas hoje às 6h pelos distribuidores de que não haveria mercadoria para vender. Segundo Denise Claverie, sócia da TWIG Atelier Floral, loja que acabou de abrir no shopping Fahion Mall, na zona Sul do Rio, a situação é preocupante, pois os clientes querem decorar suas casas com rosas frescas. A loja é especializada em arranjos para decorações em geral.
- Acabei de inaugurar a loja no shopping e já notei que o cliente quer novidades todos os dias. A procura é sempre por flores frescas. O estoque é pequeno. É impossível ter um estoque grande. Estou preocupada, pois é importante ter uma elevada oferta de produtos, ainda mais que acabei de abrir a operação e não posso ficar sem produtos. Minhas amigas que trabalham na área não tinham nada hoje - disse Denise.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a greve já começou a afetar o segmento de gases medicinais, usados em hospitais. Neste caso, São Paulo é o estado mais afetado, além da região Sul do país.
Fabiana Zamboni, diretora-executiva da distribuidora atacadista Zamboni, a maior do Estado do Rio e com atuação também no Espírito Santo, disse que já há falta de cerca de mil produtos, dos seis mil que comercializa, nos três dias de greve. São itens diversos das áreas de limpeza e beleza em geral.
- A greve também inviabiliza nossa expedição e entrega para clientes de todo o Estado do Rio e Espírito Santo. As áreas mais impactadas são o Sul Fluminense, Região dos Lagos, Norte do Rio e Espírito Santo. Estamos operando com 50% da nossa capacidade. Nosso time do centro de distribuição está ocioso e, quando a greve for encerrada, teremos um custo alto em horas extras para colocar a casa em ordem e atender aos nossos clientes - destacou Fabiana.
Falta gás de botijão em Goiás e Distrito Federal
Ela destacou que os aumentos recentes do diesel ainda não foram repassados para os transportadores: - Mas isso acontecerá em junho. A negociação da porcentagem ainda não foi fechada.
A greve também afeta a distribuição do gás de botijão (GLP). Segundo o Sindigás, que reúne as empresas distribuidoras de GLP, a paralisação já se reflete na falta do produto em Goiânia e Distrito Federal. "A interdição das principais rodovias brasileiras impede a saída dos caminhões que transportam o gás, seja a granel ou em botijões, das bases de enchimento das distribuidoras até o consumidor final ou até as revendas de gás. Há também veículos que estão parados em meio às estradas bloqueadas, impossibilitados de levar o gás para aquelas bases que não dispõem de dutos que liguem as refinarias às distribuidoras", disse em nota.
BRF suspende atividades em quatro unidades
A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, suspendeu as atividade em quatro unidades de abate de frangos e suínos nesta quarta pela manhã em consequência da greve em Nova Marilândia, no Mato Grosso, Dois Vizinhos e Toledo, ambos no Paraná, e de Campos Novos, em Santa Catarina. Segundo a empresa, a suspensão ocorreu devido à falta do recebimento de matéria-prima, insumos e animais para abate, além da falta de caminhões para escoar produção. Além disso, outras nove unidades terão atividades parcial ou totalmente paralisadas nesta quarta-feira. A BRF detectou também falta de abastecimento de ração destinada aos animais alojados nos produtores rurais parceiros que impactam cerca de 1 milhão de animais e podem alcançar a totalidade de nosso plantel nos próximos dias, segundo o comunicado.
Montadoras interrompem produção
Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras, disse que a continuidade da greve dos caminhoneiros é preocupante e afeta diretamente as linhas de montagem de automóveis.
- Muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e, se a greve continuar até o fim de semana, é certo que todas pararão - disse Megale.
Perguntado sobre o impacto da paralisação na produção, ele informou que ainda não há uma contagem mas garantiu que haverá "queda na produção, nas vendas e nas exportações de veículos, tendo como consequência impacto direto na balança comercial brasileira e na arrecadação de tributos".
Só no ABC, região metropolitana de São Paulo, Volkswagen, Ford e Scania dispensaram os trabalhadores por falta de peças para dar andamento à produção. A Ford informou ainda que a fábrica de Camaçari (BA) e de Taubaté também estão paradas.
Já a Fiat Chrysler Automobiles, que têm fábricas em Betim (MG), disse que a "paralisação dos caminhoneiros e o bloqueio parcial da BR 381 acentuaram os problemas de fluxo logístico que a FCA começou a sentir ontem (terça-feira). Devido ao atraso na entrega de peças, já há reflexos na produção", disse acrescentando que a empresa ainda não quantificou o impacto.
Se a greve continuar, a partir de sexta-feira não haverá combustível nos postos de abastecimento, informou o presidente do Sincopetro, José Alberto Paiva Gouvea. Segundo ele, nesta quarta-feira nenhum posto recebeu combustível. Como os estoques são de no máximo três dias, a estimativa é que o produto acabe completamente no fim da semana.
- As bases, onde os caminhões se carregam do combustível, estão todas inacessíveis. Dessa forma, ninguém consegue carregar caminhão nenhum. Sem contar que estamos falando de um produto inflamável, portanto não podemos nem arriscar carregá-los neste momento de tensão - disse Gouvea.
A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) criticou a greve por que ela "afeta milhares de consumidores que dependem do serviço de transportadoras para receber compras de produtos realizados pela internet", disse a entidade por nota.
- Temos relatos de diversas empresas de logística com objetos parados. Os atrasos nas entregas, que já estamos registrando, trazem um forte aumento de custo logístico com a reprogramação das encomendas. Os prejuízos ao setor, aos consumidores e para o País são incalculáveis - disse Mauricio Salvador, presidente da ABComm.
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Redação iBahia
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