A expressão “orgulho de ser negro” foi abolida do vocabulário de muitas pessoas por medo do preconceito. Com o passar do tempo, porém, o resgate cultural fez com que os negros assumissem a “negritude” na maneira de ser. Cada vez mais difundida entre os jovens brasileiros, a cultura afro está presente no visual, nas preferência musicais, nos estudos e na religião. Por influência da mãe, o motoboy Calleb Augusto do Nascimento, de 22 anos, começou a se engajar no movimento negro há quatro anos. O conhecimento do mundo afro fez com que o rapaz mudasse seu estilo e assumisse suas preferências musicais, no caso, o reggae. “Fiz o rasta [penteado característico dos apreciadores do reggae] para me diferenciar, quis mostrar meu estilo black. Se você for ver, 80% dos homens negros têm cabelo rapado. Eu sou o único entre os meus amigos [que tem esse visual]”. Para ele, o negro está conseguindo conquistar o seu espaço, pois está mais “desinibido para isso”. Cada vez mais, os jovens estão se identificando com a cultura negra. Prova disso são os dados do Censo 2010, divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrando que os jovens brasileiros entre 15 e 24 anos se declaram pretos e pardos mais do que os adultos. De 34 milhões de jovens nessa faixa de idade, 18,5 milhões se autodeclararam pretos e pardos. Dentre os adultos, 54 milhões dos 107 milhões dessa faixa etária (25 a 59 anos) se disseram pretos ou pardos. De acordo com o sociólogo e professor do Decanato de Extensão Universitária da Universidade de Brasília (UnB) Ivair Augusto Alves dos Santos, o movimento de resgate cultural negro começou na década de 1950. “Em 1970, a mudança foi física, ou seja, na aparência, com o movimento Black Power. Na década de 2000, a mudança é política e envolve o debate de ações afirmativas.” Santos atribui esse movimento impulsionado pela juventude às transformações tecnológicas, uma vez que os jovens negros de hoje têm mais possibilidades. “Se compararmos as possibilidades, vemos que são maiores. Você tem grupos de música que conseguem atingir grandes massas, tem mais informações também.” A cabeleireira Rosemeire de Oliveira, de 32 anos, aponta uma mudança de mentalidade no país, lembrando que, antigamente, ninguém falava sobre “o que é ser negro”. Ela trabalha em um salão afro de Brasília há 12 anos. A maioria dos clientes, segundo ela, são os jovens. “Teve uma época que ser negro era moda. Agora, os negros realmente estão se assumindo e aprendendo a se gostar mais.” A trança de raiz é o penteado mais popular no salão de Rosemeire. embora também haja procura por alisamento. “Tem gente que alisa o cabelo porque gosta, mas tem outras que o fazem porque o trabalho impõe ou para se sentirem mais iguais às outras pessoas. Essas ainda não se assumiram”, disse a cabeleireira. Cliente de Rosemeire desde criança, a estudante Brenda Araújo Soares Alexandrino de Souza, de 14 anos, usa tranças no cabelo desde os 3 anos. “Tinha cabelo volumoso e minha mãe fazia as tranças. Minhas amigas gostam, admiram e estão pensando em fazer.” A adolescente, que faz aniversário hoje (20), Dia da Consciência Negra, acredita que as pessoas estão se identificando mais com a cultura. “Antigamente, não tinham coragem de se mostrar por causa do preconceito. Eu não tenho medo disso.”
O percussionista baiano Ubiratã Jesus do Nascimento, de 40 anos, conhecido como Biradjham, cresceu envolvido com a cultura negra. Há 25 anos trabalha com música e já tocou com bandas famosas da Bahia. Adepto do candomblé, Biradjham diz que os negros têm mais liberdade atualmente. "O movimento está mais forte. A mudança cultural vem de muito tempo, mas hoje tem mais força".
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