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Em CPI, doleira Nelma Kodama canta, acusa bancos e elogia juiz

A doleira cantarolou um trecho da música de Roberto Carlos, mas foi interrompida pelo presidente da CPI: "não estamos aqui em um teatro"

• 13/05/2015 às 12:48 • Atualizada em 27/08/2022 às 21:32 - há XX semanas

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Conhecida no mercado clandestino de compra e venda de moedas estrangeiras como “dama do câmbio negro”, a doleira Nelma Kodama fez do seu depoimento à CPI, ontem, um tipo de pocket show da corrupção. Em mais de duas horas de sessão, realizada em Curitiba, Kodama cantou, admitiu crimes, acusou os bancos de responsabilidade na evasão de divisas, elogiou o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, e disse estar disposta a fazer um acordo de delação premiada para contar tudo que sabe.
De cabelos curtos e bem mais magra do que quando foi presa, em 15 de março de 2014, a doleira disse que não achava que fazia algo errado ao operar no mercado negro de câmbio, pois ajudava, segundo ela, os clientes a fugirem de impostos. Mas afirmou que, hoje, se sente “envergonhada”. Ao falar de sua relação com o doleiro Alberto Youssef, disse que o conheceu no dia 20 de agosto de 2000. O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) a questionou se ela era amante de Youssef. “Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga”, disse. “Tem até uma música do Roberto Carlos: Amada Amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela”, disse. Em seguida, a doleira cantarolou um trecho da música, sucesso do Rei da Jovem Guarda em 1971. Durante a performance, ela foi interrompida pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB). “Senhora Nelma, como presidente dessa CPI, nós não estamos aqui em um teatro. Peço que Vossa Senhoria se detenha a responder as perguntas, mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional, que neste momento está aqui fazendo uma apuração”, disparou Motta. “Mas eu gostaria de responder, então”, retrucou Nelma. “Responder com respeito, não cantando, nós não estamos aqui em um show”, advertiu o presidente da comissão. “A minha pergunta se a senhora foi amante dele, a senhora já respondeu. Estou satisfeito”, encerrou a discussão o deputado Altineu Côrtes. Flagrante Kodama também negou que estivesse levando 200 mil euros na calcinha quando foi presa no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, tentando embarcar para Milão, na Itália. “Estavam no bolso, exatamente aqui”, disse, para então se levantar, virar-se de costas para os deputados e apontar os bolsos de trás da calça. “Era um pacotinho assim e outro assim”, afirmou. Os autos da prisão da doleira descrevem que foram achadas cédulas “ocultas nas roupas íntimas”. Aos 47 anos, declarando-se em fase terminal de vida, revelou no ano passado que começou a escrever um livro atrás das grades. “Ainda tenho a intenção de escrever um livro. Sobre a minha história, sobre tudo que aconteceu. Estou escrevendo aqui na carceragem da Polícia Federal”, afirmou ela à Justiça. O caderno manuscrito foi tomado dela pela Polícia Federal. Histórico Doleira dos comerciantes da 25 de Março e do Brás, que segundo ela chegavam a importar contêineres da China de US$ 100 mil e pagar apenas US$ 30 mil legalmente, Nelma Kodama foi usada por Youssef em movimentações financeiras descobertas pela Operação Lava Jato. “Eu sou doleira, comprava e vendia moedas no mercado negro. E isso vai constar no termo de colaboração que estou firmando. Eu intermediava as operações de cambio, que é a de dólar-cabo, que é a evasão de divisas, e eu estou confessando”, afirmou. A “Dama do Mercado”, como era conhecida nos subterrâneos do câmbio negro, gostava de usar pseudônimos como Greta Garbo, Cameron Diaz e Angelina Jolie em seus e-mails e mensagens. Também famosa por desfilar em carrões importados, Nelma integra o grupo dos quatro maiores doleiros do país. Entre maio e novembro de 2013, ela enviou para o exterior US$ 5,2 milhões por meio de 91 importações fictícias, usando apenas uma de suas várias empresas de fachada, a Da Vinci Confecções. Alvo da Operação Dolce Vitta - braço da Lava Jato que mirou o núcleo de doleiros ligados a Alberto Youssef -, uma eventual delação de Kodama deve trazer novos fatos sobre o esquema de corrupção na Petrobras e sobre transações ilegais com moeda estrangeira. Sistema Um dos detalhes a revelar, adiantou, pode respingar em instituições financeiras. “Tenho documentos que mostram que os bancos também são responsáveis. É um sistema falho, corrupto”, afirmou. Kodama disse que irá nomear bancos e corretoras que alimentam o câmbio negro, além de entregar antigos clientes. Ela já tentou fechar um acordo de delação depois que foi presa, sem sucesso. “Que essas brechas sejam localizadas. Que os verdadeiros culpados sejam culpados, que os inocentes sejam inocentados, e que realmente tudo isso possa mudar”, afirmou. “Admiro a atuação do juiz federal Sergio Moro, mesmo tendo sido sentenciada a uma pena pesada (18 anos). Eu acho que estão tentando virar (o jogo)”, completou. “Uma corrupção cobre a outra corrupção. É o que chamamos no meu mercado de bike, bicicleta. Um santo cobrindo o outro. Quebrou o vício, o círculo, aí o país entrou em crise. Se for necessário que haja recessão, que haja desemprego, que haja tudo isso, para acabar com essa corrupção, vamos lá. Enquanto não cortarem o mal pela raiz, vai continuar. O Brasil é movido a corrupção”, afirmou a doleira, que deixou claro ter ainda muito para cantar.
Correio24horas

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