Os cem milhões de usuários do WhatsApp no Brasil já podem voltar a falar, mandar fotos, gifs, vídeos e piadas, zoar os amigos, discutir política, futebol e religião, e até fazer negócios sem pagar nada ou quase nada. O bloqueio de 72 horas do aplicativo no país foi suspenso, no início da tarde de ontem, após vigorar por quase um dia inteiro. O fim do silêncio foi determinado pelo desembargador Ricardo Múcio Santana de Abreu Lima, do Tribunal de Justiça de Sergipe. O magistrado reconsiderou a proibição do WhatsApp ordenada pelo juiz Marcel Maia Montalvão, da Comarca de Lagarto, interior de Sergipe. Veja também: Veja 10 truques do Whatsapp que você certamente não conhecia
Montalvão, embora malfalado pelo resto do Brasil, é idolatrado na cidade, e foi apelidado de “Sérgio Moro de Lagarto”, uma referência ao juiz federal que conduz, de Curitiba (PR), a Operação Lava Jato, que virou o terror de políticos e empresários por desvendar esquemas de corrupção na Petrobras e em outras estatais.
Com o ‘Zap Zap’ mudo, a empresária Andrea Costa comprou mais créditos para poder ligar para os clientes (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) |
Montalvão chegou a Lagarto, cidade de 100 mil habitantes, em 2015 com a missão de acabar com o tráfico de drogas, uma das chagas da região. E na avaliação dos moradores é isso que ele está fazendo ao barrar o aplicativo. Isto porque a ordem de deixar o WhatsApp mudo partiu da recusa do aplicativo em quebrar o sigilo de conversas de um traficante investigado pela polícia. Para o juiz, a empresa dona do aplicativo está obstruindo o trabalho da Justiça. A empresa alega não possuir as informações cobradas pelo juiz, principalmente agora, que completou a implementação da criptografia “end-to-end” (no qual apenas as pessoas na conversa podem ler as mensagens).
Prejuízo
Como resultado de toda polêmica, a suspensão do bloqueio foi muito comemorada e também lamentada - em tom de humor, claro - em Salvador. No segundo caso estava Luís Rodolpho, que comentou a notícia no Facebook do CORREIO: “Ô gente, eu tava gostando de interagir com meus familiares depois de dois anos”. Mais séria, a pequena empresária Andrea Costa estava do lado dos que comemoraram aliviada o fim do bloqueio. Na tarde da segunda, ela estava fechando um negócio pelo WhatsApp quando o bloqueio aconteceu. “Estava falando com uma empresa do Rio de Janeiro e demorei mais de uma hora para retomar o contato. Tive que passar as fotos por e-mail e foi bem mais complicado”, contou.
Por causa da suspensão do serviço, a empresária teve de gastar R$ 50 a mais nesta semana com créditos para celular. “Sem o zap, estou fazendo mais ligações e gastando muito mais do pacote de dados”, afirmou. Segundo Andrea, quase 90% de todo o contato que ela tem com os clientes é feito por meio do aplicativo, por conta da facilidade de mandar fotos e da agilidade da comunicação.
Os prejuízos com a decisão do juiz de Lagarto também eram contabilizados pela vendedora Edleusa Costa. “A gente usa muito o ‘zap’ no relacionamento com os clientes. Quando chega algum produto novo ou encomenda, a gente manda mensagem, passa foto. Sem o serviço, estamos ligando para manter a comunicação”, disse.
A rotina de trabalho da vendedora de planos de saúde Carolina Duarte também ficou mais complicada. “Uso o WhatsApp para passar a documentação dos clientes para minha supervisora, além de realizar ligações. Sem o serviço, preciso esperar para passar as coisas por e-mail, que demora muito mais”.
Lucro
Mas teve quem lucrasse com o bloqueio. O início do mês já é um período em que as pessoas colocam mais crédito no celular. Porém, a suspensão do aplicativo estimulou os clientes a fazer recargas de valor maior. “Quem colocava apenas R$ 10 (de crédito no celular pré-pago) está preferindo recarregar R$ 15 ou R$ 20. Estão gastando mais”, constatou a atendente da loja da TIM Rosana Suzarte.
Os créditos que o estudante de Eletrotécnica Kevin Souza utilizava para navegar na internet e utilizar os aplicativos, agora estão sendo usados para apenas fazer ligações. “É estranho ligar e mandar SMS para quem você só fala pelo ‘zap’. E no caso da mensagem, ainda precisa esperar que a pessoa tenha crédito para responder”, comentou.
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