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BRASIL

Imigrantes negros são discriminados por suspeita de ebola no País

Atualmente, mais de 2 mil deles vivem no município paranaense

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16/10/2014 às 17:46 • Atualizada em 26/08/2022 às 20:45 - há XX semanas
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Há uma semana, com o surgimento do primeiro caso, no Brasil, de suspeita de uma pessoa contaminada pelo vírus ebola, imigrantes negros – na sua maioria haitianos e de países africanos - têm sido alvo de discriminação e atitudes hostis, nas redes sociais e em Cascavel (PR), cidade onde o homem vindo da Guiné foi atendido inicialmente. A Guiné, Libéria, Serra Leoa e a Nigéria, países da África Ocidental, concentram a maior parte dos casos. A suspeita do contágio foi descartada após dois exames, mas o estigma em relação a esses estrangeiros ainda persiste. Nas ruas, no ambiente de trabalho e, principalmente, nas redes sociais, alguns estrangeiros que vivem legal ou ilegalmente, no Brasil, têm enfrentado situações constrangedoras, desde que o africano foi internado em Cascavel, com suspeita de ebola.“Ouvimos no ônibus pessoas dizendo: vocês têm que voltar o para o seu país. Não fazemos nada, só ouvimos”, relatou nesta quinta-feira (16), por telefone, à Agência Brasil o haitiano Marcelin Geffrard, vice-presidente da Associação de Haitianos de Cascavel. “Um amigo reclamou que um grupo de haitianos estava dentro de um coletivo e as pessoas começaram a olhar diferente. No trabalho, as pessoas afastaram-se deles. Alguns disseram que não sabem como diferenciar os africanos dos haitianos”, acrescentou Geffrard.Assim como Brasileia, no Acre, a cidade de Cascavel têm sido o destino de milhares de haitianos desde 2010, quando um terremoto devastou o país caribenho. Atualmente, mais de 2 mil deles vivem no município paranaense. Maior cidade do oeste do estado, com cerca de 300 mil habitantes, Cascavel tem várias fábricas e indústrias que empregam a mão de obra estrangeira. Além dos haitianos, imigrantes africanos também têm chegado na cidade nos últimos meses.
Atualmente, mais de 2 mil deles vivem no município paranaense
Vivendo há dois anos e oito meses no Brasil, Geffrard atualmente comanda um programa em Cascavel e trabalha em uma empresa auxiliando a comunicação com compatriotas a serem contratados. Nesse período, disse nunca ter sido discriminado por brasileiros. Apesar da angústia pelos atos discriminatórios, ele disse entender a “preocupação” dos brasileiros. “É pela coisa do ebola. Qualquer pessoa vai ficar com medo. É uma doença muito séria.” A secretária de Assistência Social de Cascavel, Susana Medeiros, condenou qualquer atitude racista que possa ter ocorrido, mas argumentou que eventuais atos discriminatórios podem ter sido motivados pelo temor causado pela doença. Segundo ela, a cidade está habituada a receber estrangeiros, inclusive oferece acolhimento e assistência. “Estamos acostumados a receber pessoas de outros países, como o Paraguai, Uruguai, Chile e a Argentina. Nossa cidade é hospitaleira”, pontuou. “Não podemos generalizar. Se tem ocorrido casos de discriminação e preconceito, deve ser pelo medo das pessoas em relação à doença, apesar de termos consciência de que nada justifica o preconceito”, acrescentou a secretária. Coordenadora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, uma rede de apoio a imigrantes e refugiados com mais de 50 instituições, atuando em todas as regiões do país, Rosita Milesi ressaltou que manifestações de “rejeição” ou “hostilidade” a imigrantes negros têm sido frequentes no Brasil, mesmo antes do surgimento da suspeita do caso de ebola. “Os ataques discriminatórios começam, às vezes, nas redes sociais, onde é mais fácil dizer o que se quer sem mostrar quem se é. Infelizmente, o imigrante negro, seja qual for sua nacionalidade, tem sido alvo de preconceito e discriminação. Por mais que se considere razoável, o cuidado para evitar o contágio e a disseminação da doença, em nenhuma hipótese justifica-se o preconceito e a discriminação aos imigrantes ou a quem quer que seja”, frisou. Para Milesi os estrangeiros que se sentirem discriminados, estando em situação legalizada ou não, devem denunciar eventuais atos racistas. “Penso que o caminho seja o mesmo daquele de que dispõe o cidadão brasileiro vítima dessa mesma realidade: recorrer aos serviços de disque-denúncia que as secretarias de Igualdade Racial dispõem. Registrar ocorrência na delegacia, defensoria pública, recorrer às instituições da sociedade civil, enfim, agir para que atitudes do gênero não permaneçam impunes ou encobertas”. De acordo com o diretor do Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, João Guilherme Granja, estigmatizar o estrangeiro, além de crime, se for comprovado o ato racista, pode acarretar riscos para todo o país. “Uma pessoa, migrante ou não, mesmo em situação de irregularidade documental, não pode ser penalizada, estigmatizada até para preservar a preocupação do bem coletivo maior. Para o bem da saúde pública, temos boas práticas de não criminalização da imigração”, frisou Granja à Agência Brasil. Segundo ele, os países de origem dos estrangeiros devem fazer o primeiro controle da saúde dos viajantes. Mas, no caso em que não haja sintomas na hora do embarque, cabe ao país de destino averiguar – e eventualmente cuidar – da saúde do estrangeiro. “No Brasil, o acesso ao serviço de saúde é garantido a todos os imigrantes. Essa é uma postura que auxilia para a rápida identificação de suspeitos e o seu atendimento”.

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