Chega um determinado momento da vida em que nos deparamos com aquele angustiante dilema. Que profissão seguir? Será que vou decidir corretamente? Enfim, são decisões que, uma vez tomadas, repercutem por toda uma vida. Quantas estórias e relatos não ouvimos de atores e músicos que inicialmente decidiram seguir um curso tradicional, como o de direito, medicina ou engenharia, alguns até mesmo completando o curso, e outros que nunca se formaram, debandando antes do último semestre, somente então se decidindo a seguir uma via inteiramente diferente. Se há sempre o temor de “perdermos” aqueles cinco preciosos anos de nossas vidas estudando para algo que nunca vingará como opção de carreira, o que estes exemplos nos ensinam é que talvez esta “escolha” não seja tão dramaticamente determinante.
E é mesmo difícil definir uma vocação, ainda mais antes de completar os 20 anos, lembrando que algumas correntes da psicologia apregoam que a nova geração cultivará sua adolescência até os 30 e poucos anos. Caso real, irmão de um amigo meu, cursou filosofia até o fim, atividade que concorria com outras, nada construtivas, tais como encorpar grupos de Punks que enfrentavam a polícia em... Berlim! Considerado um caso perdido pelos pais, que já pensavam em como financiar um fundo familiar que iria ampará-lo durante a sua vida adulta, eis que descobriu as maravilhas da computação gráfica e tornou-se um Artista Digital, aclamado e respeitado. Ressaltemos, apenas,um pequeno detalhe: quando ele iniciou o curso de filosofia, a tecnologia que o encantou sequer existia. Era a sua Profissão do Futuro, que ainda não existia. Quando iniciei minha trajetória como engenheiro de redes (redes locais, bem entendido), o questionamento era o porquê de ser necessário um engenheiro para construir uma rede... de praia! Profissão nova, nada conhecida, era de causar estranheza mesmo. Diante de tantos dilemas acerca da carreira a seguir, que pode ainda nem existir, e de tanta incerteza, é natural que o cântico do concurso público soe como um porto seguro. Se tal opção oferece a recompensa da segurança, carrega consigo a semente da frustração. O trabalho burocrático poderá se revelar insuportável para mentes mais privilegiadas e tal frustração somente poderá ser curada com salários cada vez mais elevados. O que as seguidas demandas dos grevistas do serviço público parecem revelar é o problema de fundo, em que pessoas altamente capacitadas estão frustradas com o seu “bilhete de loteria. Múltiplas escolhas Nunca houve tantas escolhas para os jovens como há hoje. Uma viagem no tempo, rumo ao período colonial revelaria que profissões? Quais eram as opções postas para um jovem ambicioso no século XIX? Poderíamos contar nos dedos. Para quem nascia escravo, não havia opção, era uma função no engenho ou algum trabalho manual designado pelo Senhor. Claro, alguns tinham a sorte de virar artistas e demonstrar alguma habilidade que lhes permitia comprar a liberdade. Para quem não era senhor de engenho, nem escravo, a opção era ser doutor, se conseguisse estudar na Europa, advogado, clérigo, militar ou político, caso não houvesse um negócio a suceder. Nos últimos 50 anos, o leque de opções foi se ampliando e algumas profissões clássicas foram se desenvolvendo e gerando especializações diversas, como as engenharias, medicina, comunicação, direito e administração, sobretudo esta última. Já mais recentemente, assistimos ao nascimento de profissões novas com frequência, como web designer e suas variações, programadores de diversas linguagens, analistas de sistemas em diversos tipos de banco de dados, que sequer existiam na década de 70. No caso da TI, os fabricantes criaram seus próprios currículos e certificações, que muitas vezes valem mais do que o diploma universitário. O estudo e certificação é virtual e ocorre na teia global, e isto não tem nada a ver com o MEC. Tem a ver com conhecimento real e imediato, aquele que realmente pode ser aplicado. Novas profissões
Um cipoal de novas profissões vem emergindo, a grande maioria na Web, como estilizadores virtuais de todos os tipos, a grande parte relacionada com a apresentação e estética. Um campo, sem dúvida ainda bastante aberto, é o do design, seja de sites, de páginas, de material virtual, ou de peças, roupas, móveis. O Brasil precisa melhorar o seu design. No caso específico da Bahia, é um talento que deveria ser potencializado. O baiano tem gosto pelo design e deveríamos lembrar que foi o design que projetou os produtos italianos modernos. Da mesma forma, foi o design que levantou as marcas coreanas de automóveis à condição de 1ª linha. O uso de ferramentas modernas e a possibilidade de literalmente exportar este trabalho para o mundo todo está plenamente aberta para investimento no Design, aqui mesmo na Bahia. Em tempo de descoberta de vocações, a gastronomia, entendida como referência internacional, é outro campo a ser cada vez mais estimulado. Outra vocação. Este talento natural, o temos na Bahia. Mas devemos nos espelhar nas modernas escolas de gastronomia francesas e americana. É negócio grande e envolve muito dinheiro. Para quem duvida, basta saber que a indústria da gastronomia nos Estados Unidos revolve mais dinheiro do que a do cinema e de TI na Califórnia. Temos que pensar na gastronomia em um nível acima de excelência em qualidade, criatividade e atendimento. Se pensarmos em medicina, é um campo aberto. É só começarmos a imaginar, o que o sequenciamento de DNA, cada vez mais comum, permitirá em termos de tratamentos personalizados. Não será mais luxo, no futuro, aqui na Bahia, e no Brasil, e sim a forma rotineira de determinar o tratamento para tipos específicos de câncer e síndromes diversas para cada paciente. Será, isto sim, rotineiro. O estudo da biologia aplicado ao tratamento de doenças, o desenvolvimento da biomedicina, e por aí vai... Leia também: Graduação tecnológica: quais as vantagens em relação aos bacharelados? Um campo aberto, o temos nas artes audiovisuais para a Internet. Simples, a audiência hoje é a Internet. Quem souber como atrair público com vídeos interessantes poderá vender este serviço. Aqui entra a produção audiovisual voltada para a Internet. Atores e atrizes, aproximem-se. O campo abre-se espetacularmente, mas é preciso ter roteiristas e criatividade. Ficar rico? Difícil, claro, mas é possível, sim, exercer a criatividade e obter um meio de vida a partir destas ferramentas. É só ressaltarmos que a audiência da Internet hoje, entre os jovens, já superou a da televisão.E por falar em pais e avós, a demografia aponta para 1 bilhão de idosos no mundo até 2050. No Brasil, até 2050 haverá mais idosos do que crianças. Onde estará o emprego? Pense. Com o prolongamento da vida – já se fala em viver até os 120 anos em razoáveis condições - o lazer, entretenimento, acompanhamento, tutoria, sim tutoria para idosos que hão de querer aprender e sempre, home care e um sem número de serviços e conveniências para este público. O termo terceira idade perderá o seu sentido e talvez até seja mais correto falar da quarta idade e o idoso será todo aquele que passar dos 90 anos. Outras profissões Tutoria online (para e-learning, crianças, adolescentes, adultos e seniôrs), Gerenciador de Avatares em Sala Online, edição de ebooks, como por exemplo o padrão epub. Aqui a diagramação digital surge como um grande campo de trabalho, aplicado à edição e preparação para venda digital. Copy desk e revisão de textos (venda de serviços online) também serão muito demandados. Com a queda nos preços de distribuição – não precisamos necessariamente gastar com papel, abre-se um novo campo para escritores e ilustradores que originalmente teriam seu acesso ao mercado vedado. Livros altamente visuais, com vídeos intercalados e tudo o mais que sua imaginação permitir. Não custa ressaltar que a tendência nas empresas é a de que de cada 10 empregos gerados, 4 sejam “home-office” e somente o restante caberá em mesas. É uma proporção que não para de aumentar. O seu Ipod, Smartphone, Tablet, ou o que for, será também uma ferramenta de trabalho e cada vez mais aceita pelas empresas. Como se preparar para o que não conhecemos? Mas se as profissões são do futuro, é evidente que elas ainda não existem. Como podemos nos preparar para o que não conhecemos? Podemos até imaginar e fazer algumas apostas, mas com certeza é a sua base de conhecimentos que será importante. Como sempre foi e será, fundamental é saber bem português e matemática, ter noções sólidas de finanças e saber muito bem o inglês. Se quiser conhecer outra língua, ótimo, mas um bom inglês é fundamental. Para quem pretende ir a fundo no desenvolvimento de sites, é importante conhecer ferramentas de CMS (Gerenciamento de Conteúdo), tais como Joomla, WordPress ou Drupal, entre outras. Saber e conhecer bem algumas ferramentas de editoração eletrônica e desenho. Em alguns casos, para uma certa classe de desenvolvedores, conhecer bem linguagem “C”, PHP e alguma linguagem nova, por exemplo Python. Conhecer bem a história e a história da arte e, porque não? Geografia, pelo menos a dos mapas e países, já que você vai vender para o mundo todo. Bons conselhos E, se é que cabe algum conselho de alguém do passado, antes de tomar decisões, pesquise na Internet o que se faz de novo pelo mundo, converse muito com seus pais (leve-os a sério), amigos, parentes e professores. E pense se você quer a segurança de um emprego seguro e que talvez lhe satisfaça financeiramente mas o deixe frustrado, ou que talvez seja melhor arriscar um pouco, até para ganhar menos, mas se sentir realizado. Dinheiro e segurança são importantes, mas não é tudo. Lembre-se, prepare-se para viver 120 anos e trabalhar até os 110.
Nunca houve tantas escolhas como há hoje |
Sergio Sampaio E-mail: [email protected] Consultor de TI da ValoRH. Engenheiro, empresário da área de Tecnologia da Informação, proprietário da IP10 Tecnologia. |
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