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Carnaval de 2017 tem 10 mil cordeiros a menos que no ano passado

Em uma semana de Carnaval, 25 cordeiros trabalham em blocos de Salvador

Redação iBahia • 28/02/2017 às 18:23 • Atualizada em 28/08/2022 às 16:07 - há XX semanas

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“Vai! Vai lá! Segura aí”. O convite feito pelo cordeiro era para que o repórter sentisse na pele a sensação de ter o bloco inteiro em suas mãos. Colocado no setor traseiro do trio puxado por Alexandre Peixe, no bloco Harém, Luciano Santos é um dos 25 mil cordeiros que estão nas ruas neste Carnaval. O número parece grande, mas, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Cordeiros do Estado da Bahia (Sindcorda), representa 10 mil a menos que no ano passado.

Ano a ano, esse número cai. É visível. As cordas se arrastam pelo chão e os blocos diminuem. “Tem diminuído muito. Ano passado trabalharam 35 mil cordeiros. Com a não saída de alguns blocos, esse número caiu para 25 mil”, afirma o presidente do Sindcorda, Matias Santos.

(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)



Mas, diz Matias, o cordeiro é só a ponta mais frágil da corda. Um grande número de seguranças e pessoal de apoio também ficou de fora. “Desestruturou toda uma cadeia. Não só cordeiros, que são os que ganham menos nesse cadeia, mas muitas pessoas que trabalhavam na retaguarda dos blocos ficaram sem trabalhar”, explica.

Mas, a atividade está mesmo em extinção? O fato é que basta ir nas concentrações dos trios para ver que eles ainda são uma legião. Sentados no chão, esperam pelas camisas, lanches e equipamentos de proteção. Mesmo que nem todos consigam uma vaga.

“Estou aqui desde meio dia. São 19h30. Tudo para conseguir entrar na lista. Finalmente botaram meu nome. Ainda tem umas cinco horas de trabalho. Mas e isso ai”, diz Francisco de Araújo Santos, 43 anos, que protegia as cordas do bloco Pra Ficar.

Sem cordas

Em alguns momentos, o desafio era encontrar um bloco com corda nesse Carnaval. Uma pipoca atrás da outra. Mas o bloco Eva, resistente, vem aí - esse ano, com 630 cordeiros. “Já cheguei a ter mais de mil. Se diminui o número de associados, não tem jeito, diminui o número de cordeiros”, explica Caio Silveira, produtor do Eva há dez anos. “Se vão acabar os cordeiros? Não sei. Vai depender da indústria. Esse ano tinha muita mão de obra para mim e pouca oferta de vagas para eles. Infelizmente”, lamenta Caio.

Os que conseguiram sua vaga foram à luta. Boa parte veste a camisa do bloco com orgulho. “A gente vai botar para descer”, disse um cordeiro do bloco Banana Coral, assim que o trio tocou os primeiros acordes. “É bom demais ser cordeiro. Você trabalha e se diverte”, explica Júlio dos Santos, 40, no discurso de conformismo da maioria.

Mas basta pensar na quantia que vai ganhar no final do Carnaval: “Vou tirar uns R$300. Vai ajudar, mas pelo que a gente sofre poderia ser bem melhor, né”, diz Ednei da Silva Filho, desempregado, pai de três filhos e cordeiro do bloco Harém. Esse ano, o Sindcorda conseguiu fazer com que os blocos assinassem um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Entre as garantias, a diária mínima de R$54, seguro de R$20 mil em caso de acidente, lanches industrializados, além de equipamentos como luva, sapato fechado e protetor auricular. “São garantias permanentes que ficam para os próximos anos”, afirma o presidente do Sindcorda.

No meio do Carnaval da pipoca, encontramos uma homenagem aos cordeiros. Invenção do administrador Leonardo Machado, 26. O Bloco dos Cordeiros não passa de um grupo de amigos que se envolvem em uma corda. Todos vestidos de cordeiros. “Uma homenagem a esses anjos das cordas”, explica Leonardo.

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