Redação Cinemáticos
Sinopse: O conto clássico de Jane Austen sobre as relações entre amantes de diferentes classes sociais na Inglaterra do século 19 - agora com uma horda de zumbis.Desde seu nome, a obra desperta no público uma curiosidade mórbida. Sim, mórbida é a palavra certeira para mesclar o que as pessoas que conhecem a obra de Jane Austen podem sentir quando escutam tal título. Restam, então, algumas questões para que se entenda qual é a proposta dada.A proposição seria mais inteligente, talvez, se fosse feito algo como a autora do livro original traz, mostrando como frívolas eram as preocupações dos nobres posto que agora o mundo deles não era o mesmo. Mas também poderia ser uma terrível sátira como Todo Mundo em Pânico ou algo do tipo? Nem um, nem outro. Orgulho e Preconceito e Zumbis fica no meio termo, ou seja, é simplesmente, uma história da amor austeaniana com zumbis dentro.A história se inicia com demasiadas promessas e pode-se notar certa pressão de que a trama será emocionante. Contudo, depois do primeiro corte, seguem-se, cena após cena, planos que não sabem terminar, quebrando a possibilidade de existir fluxo narrativo. Ou seja, a montagem não é feliz por deixar uma sobra entre o fim de uma cena para outra. Como a conversa das irmãs protagonistas que termina e, ainda assim, uma continua um tempo penteando o cabelo da outra. Esse momento não acrescenta ao filme, somente, deixa uma sobra deslocada.A falta de ritmo e fluidez entre as cenas é acompanhada de uma ingenuidade no humor, nas tiradas. O longa parece tentar vender todo o tempo que aquilo se trata de uma obra de época, mas com elementos que são “descolados”. Ou seja, facas e outras armas na cinta liga, mocinhas andando em câmera lenta fazendo “carão”, todas as viradas dos seres que revelam que na verdade são zumbis também são em câmera lenta. Artifícios que soam como forçados, que buscam agradar tanto que caem em truques batidos.Inclusive, há uma cena entre os protagonistas, Elizabeth e Darcy, na qual os dois lutam avidamente. A mesma parece uma referência, ou até mesmo cópia, do combate entre Zorro e Elena em A máscara do Zorro (1998). Os botões que se abrem, os olhares da mocinha povoados de uma mistura de ódio e desejo e, até mesmo, os intervalos entre as falas e o embate de espadas.Os atores parecem meio perdidos em sua interpretações e não parecem acreditar em seus textos. Soa como se a inusitada mistura tivesse os deixado confusos. Os casal protagonista, interpretado por Lily James (Cinderela) e Sam Riley (Malévola) deixam explícito demais seus esforços e a relação, supostamente sutil e embaraçosa originalmente, dá lugar para uma tensão forçada e certa impressão de que ambos estão imitando algo que já viram antes.No meio de tantos atores sem rumo em cena, o único que parece acertar em seu tom é Matt Smith (Doctor Who). O intérprete é habilidoso em explicitar o tipo de nobre que manteria os antigos costumes do casamento e da corte num tempo povoado de zumbis. Vê-se que o mesmo está confortável no papel do primo inconveniente e, ainda que meio em sua chave, traz a personagem que tem chance de despertar alguma empatia.O fato da obra ser baseada no livro de Jane Austen, que tem seu lugar cativo na literatura, é algo que não pode ser deixado de lado. Essa adaptação termina ficando no meio do caminho por se propor meramente um filme de ação, com estilo de caça níquel, ao invés de se aprofundar numa possível discussão. O luxo e a futilidade do universo da aristocracia do início do século XIX poderia ser palco de um embate sobre o que a necessidade humana e como manter as distinções de classe num período tão brutal poderia ser devastador. Contudo, Orgulho e Preconceito e Zumbis fica na camada superficial da mistura exótica e somente traz uma história de amor que não convence, recheada de armas, sangue e mortos vivos.
Foto: Divulgação |
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