A curva dramática de queda e ascensão será eternamente contada/recontada/requentada. Nâo é difícil aclimatar-se a isso. Não é difícil, inclusive, sentir um pequeno calor no coração com algo familiar, desde que feito com cuidado. Infelizmente, não é o caso de Nocaute. O roteiro de Kurt Sutter parece não apenas satisfeito em cada vez mais esmagar o personagem de Billy Hope da forma mais previsível possível, mas parece tomar orgulho nisso. Chega a ser inacreditável como após apenas uma luta um sujeito consegue passar de milionário a semi-mendigo.Aliado à mão pesada (ha!) de Fuqua na direção querendo o tempo todo fazer o espectador chorar da “dramiséria” apresentada, boa parte do filme parece ter sido pensada e executada em algumas horas para chegar aos momentos de redenção do protagonista e aí, então, conseguir desenvolver de forma “convincente” seus conflitos. Já vimos melhor do roteirista responsável pela competente Sons of Anarchy.
Nem tudo é problema. Boa parte do filme após Hope tornar-se aluno de Tick Wills avança de forma interessante, especialmente as cenas de treinamento. A forma como o sujeito troca boa parte de sua ira no ringue por habilidade e como isso, aos poucos, também começa a fazer parte de sua nova vida merece elogios, apesar de não realizar nada demais.
Além de Gyllenhaal e sua entrega absoluta ao papel temos a pequena participação de Rachel McAdams como esposa responsável para um pai/marido imaturo, aproveitando seu pouco em tempo em tela para entregar uma interpretação discreta e eficaz, que poderia facilmente cair no exagero, mas acha um bom equilíbrio ao aliar uma atitude de confronto com quem tenta se aproveitar de seu esposo com o afeto por ele e sua filha.
50 Cent até não manda mal, mas o destaque dos coadjuvantes vai mesmo para o sempre competente Forest Whitaker como Tick Wills. Se não fosse por ele boa parte de tudo que acontece na segunda metade da projeção poderia ser facilmente descartada para a lata do treinador rabugento que bate cabeça com o lutador teimoso e arrogante, mas temos aqui um ator que sabe impôr sua presença e que poderia até mesmo dar respaldo a um filme de Baz Luhrmann.
Excetuando-se os atores, pouco há de aproveitável na reciclagem de tudo que você já viu antes apresentada em Nocaute. A direção de Fuqua é a mais genérica possível, não conseguindo empregar o peso dramático necessário em cenas importantes, falhando continuamente em construir a tensão das lutas e até mesmo o momentum necessário até elas. Alguns planos são inexplicáveis em suas escolhas, tanto pelo incompetente uso de câmera na mão quanto pela feiúra deles, especialmente em momentos menos relevantes para a trama. Parece que o cuidado estético apresentado n’O Protetor apenas um ano antes desvaneceu sabe-se lá para onde.É difícil esperar algo inovativo num filme de boxe no séc. XXI. É raro achar grandes diretores dispostos a arriscar em filmes desse subgênero, e Antoine Fuqua está anos-luz distante de um Martin Scorsese ou John Huston. O que Nocaute tem a oferecer é uma história contada de forma mais ou menos aceitável, cheia de familiaridades e soluções fáceis de sempre, cuja única real graça salvadora está na interpretação visceral de Gyllenhaal. Um feijão com arroz de quarta-feira, sem direito a sobremesa ou qualquer tempero extra.
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade