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Giovanni Improtta das novelas direto para o cinema |
Ator com currículo inquestionável, José Wilker, 65 anos, agora se arrisca pela primeira vez do outro lado da câmera. O personagem, no entanto, é um velho conhecido do público brasileiro. Giovanni Improtta, o filme, é uma espécie de continuidade do personagem que virou sucesso "felomenal", com licença do bordão do próprio, na novela Senhora do Destino, exibido na TV Globo em 2004. O folhetim conseguiu uma das maiores audiências da TV Globo e deu ao ator diversas premiações, como Troféu Imprensa, Prêmio Contigo e Prêmio TV Press.
Veja também: Banda Mamonas Assassinas vai virar filme e protagonista já está confirmado Documentário baiano 'Jonas e o Circo sem Lona' será mostrado na Espanha O longa, produzido pelo veterano cineasta Cacá Diegues, 72, estreia nos cinemas brasileiros hoje. "Eu já tinha dirigido filmes de curta e média metragem, peças de teatro e programa de televisão e agora me aventurei nessa área", contou Wilker em entrevista ao CORREIO por telefone. Atualmente, ele também dirige a montagem teatral Rain Man, com o ator Marcelo Serrado no papel do autista que deu a Dustin Hoffman o Oscar de melhor ator - pelo filme de Barry Levinson, em 1988. "Depois da novela eu conversei com Cacá para que ele aceitasse a direção do filme, mas ele disse que seria justo que eu mesmo dirigisse, por isso me cerquei de amigos para tornar a tarefa mais fácil", disse. Entre os amigos, Wilker selecionou nomes de peso. No elenco do longa-metragem estão estrelas do porte de Milton Gonçalves, Othon Bastos, Hugo Carvana, Andrea Beltrão, Jô Soares e Paulo Goulart. Já o roteiro é assinado por sua filha Mariana Vielmond.
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O ator José Wilker estreia na direção de cinema com a história de Giovanni Improtta, que foi sucesso na TV |
Jogo de bicho A história se baseia no livro do autor Aguinaldo Silva, lançado na década de 70, O Homem que Comprou o Rio. Em 2005, a obra foi relançada com o nome Prendam Giovanni Improtta. "O interessante é perceber que o filme é um retrato atual do Brasil, em que a classe C está ascendendo socialmente, mas os ricos não conseguem aceitar isso", explicou o ator. Na trama, o personagem, um contraventor do jogo do bicho - e não um criminoso, como ele gosta de ressaltar -, deseja ascender socialmente, mas acaba traído e vai parar na mira da polícia e da mídia, por conta de uma acusação de assassinato. "Ele é como o nosso Corleone brasileiro, que está na contravenção, deseja estar entre os ricos, mas que não se afasta de suas origens populares", disse, em referência ao chefe do clã dos Corleones, da trilogia cinematográfica O Poderoso Chefão, dirigido por Franz Ford Coppola. Giovanni busca ser aceito como sócio em um clube extremamente elegante. Para isso, ele precisa conseguir o voto de um dos membros, o juiz Aureliano (Norival Rizzo), que constantemente 'foge' das investidas do bicheiro. Sem alternativa, Improtta se aproxima da filha dele, Patrícia (Julia Gorman), com quem acaba se envolvendo. Em paralelo, tenta se articular a aprovação do projeto que legalizaria os cassinos no Brasil. Afinal, o maior sonho de Giovanni é trabalhar com algo legal, para desmitificar sua imagem de contraventor. Wilker explica que tentou passar para o público a realidade atual do Rio de Janeiro. "A ideia do filme era falar um pouco sobre as mudanças do Rio e do personagem dentro desse novo contexto contemporâneo". Um dos destaques do filme são os bordões cunhados pelo personagem, que readapta ditados populares em versões esdúxulas com o objetivo de falar difícil para soar culto e respeitável. O resultado são pérolas como: "Há malas que vêm de trem", "A vaca vai voar", "Como diria o açougueiro... vamos por partes" e "Vou me pirulitar".
Denúncia Wilker explica ainda que o filme, embora uma comédia, também traz uma forte carga de denúncia social, com críticas à corrupção policial, política e a determinadas práticas religiosas, como em uma cena em que um pastor tenta ‘curar’ um suposto homossexual. "Nem toda denúncia precisa ser carrancuda. É possível fazer isso sem ter que ser didático e querer ensinar tudo para o público", aponta. Por enquanto, o ator ainda não sabe se pretende fazer mais algum trabalho em torno de Giovanni Improtta. Seu próximo projeto cinematográfico também terá sua assinatura na direção, e tem previsão de lançamento no segundo semestre de 2014. A ideia do longa é reunir uma caravana composta por um time de futebol, orquestra e puteiro, que vai rodar o interior do país. "Vamos mostrar, com um olhar irônico, exatamente aquilo que o Brasil mais oferece que é futebol, música e sacanagem", adiantou. O roteiro é semelhante a outro sucesso da trajetória de José Wilker. Em Bye Bye Brasil (1979), dirigido por Cacá Diegues, os personagens Salomé, Lorde Cigano e Andorinha são três artistas mambembes que cruzam o país com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para a população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão.
Sucesso A estreia de Wilker como diretor de cinema chega após uma participação intensa na sétima arte nacional. O ator, que também confessa ser um cinéfilo convicto - atualmente comenta a cerimônia do Oscar, na Globo -, interpretou grandes sucessos de bilheteria, totalizando mais de 60 filmes no seu currículo. Na primeira versão de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), ele encarna o sedutor Vadinho. O filme foi, durante 34 anos, recordista de público no cinema nacional, levando mais de 10 milhões de espectadores aos cinemas, até ser ultrapassado por Tropa de Elite, em 2010. Outro personagem de destaque foi em o Homem da Capa Preta (1986), com o papel do político carioca Tenório Cavalcanti, que costumava portar uma metralhadora apelidada de Lurdinha.
Matéria original: Correio* Filme conta saga de bicheiro para ocupar um lugar na elite carioca