Vai que Cola pode ser a primeira produção entre as famigeradas globochanchadas que mereça a “honra” plena desse título e justifique assim sua existência. Baseada na série homônima que usa a linguagem teatral do Sai de Baixo e contando com o mesmo elenco que parece ter sido juntado originalmente pensando mais no apelo com o público do que em qualquer lógica interna, a versão fílmica pode até contar com os incontáveis erros de sabe-se lá quantas comédias nacionais vomitadas anualmente, mas guarda em meio aos tropeços algumas qualidades.
Apostando no humor popularesco pelo qual já é conhecida, Vai que Cola não se reinventa, mas ao menos aproveita a nova liberdade do cinema para realizar alguns truques. O filme já começa com um flashback da vida de Valdomiro como morador do Leblon e laranja de um golpe milionário que o obrigará a fugir para o Méier e ser um pobretão que despreza a própria vida.A partir dessa pequena introdução o filme abrange o que a série apresenta, mas é inegável que o caminho percorrido para isso é preguiçoso e desajeitado para chegar logo à reviravolta da trama que fará com que todos passem a morar no Leblon. Desde o início já fica bem claro que esse é um show para Paulo Gustavo e seu humor bufão. Felizmente, é o tipo de veículo no qual ele brilha com todos os exageros e escândalos a que tem direito, fazendo piada com tudo o que vê pela frente e apostando no histrionismo que já tornou-se uma de suas principais características.
Para o resto do elenco restam momentos isolados que assemelham-se a sketches separados e que muitas vezes parecem ter sido pensados individualmente e ligados via fita isolante sem o menor cuidado. Marcus Majella é um Ferdinando carismático, transformista e absurdo, mas o que mais consegue causar risadas pelo extremo do ridículo. Samanta Schmutz como Jéssica é uma suburbana louca para virar estrela cuja única trama é seduzir um global, enquanto Emiliano d’Ávila como seu namorado Máicol é o personagem mais perdido ao lado de Wilson (Fernando Caruso) e Velna (Fiorella Mattheis). Cacau Protásio faz as vezes de Melissa McCarthy, utilizando o seu físico para fazer comédia e Catarina Abdalla como Dona Jô é a única sã do bando, numa interpretação mais discreta, mas efetiva.
A trama do filme é uma babaquice, repleta de vilões caricatos, personagens secundários esquecíveis e todos em meio a cenas mal construídas que parecem servir exclusivamente para fazer os personagens do Méier brilharem. Resta ao longa aproveitar a improvisação e quebra de quarta parede derivadas da própria série, que funcionam em alguns momentos e em outros só servem para Paulo Gustavo aparecer mais que todos – algo apontado pelo próprio em determinada cena.Estamos lidando com mais uma comédia de título ridículo na sua genericidade e apostando mais nas próprias estrelas do que em qualquer qualidade na escrita ou direção. É também aí que reside parte do charme de Vai que Cola: seu elenco é talentoso e carismático ao ponto de conseguir salvar mais uma obra esquecível num cânone fílmico de humor brasileiro que já passou da vergonha para chegar no patético e parece não aprender com os próprios erros.Aos trancos e barrancos consegue ser um pouco melhor do que a série que a deu origem, realiza a façanha de causar algumas risadas genuínas e tecnicamente assemelha-se a um filme. É o mínimo, mas já é alguma coisa.
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