icone de busca
iBahia Portal de notícias
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
De Resenha

A arte da comédia e do drama do ator e professor Zé Carlos Jr.

Entre o palco e a sala de aula, o artista acumula mais de 35 anos de carreira e trabalhos com grandes diretores baianos, nacionais e internacionais

foto autor

Arlon Souza

26/05/2023 às 17:00 - há XX semanas
Google News iBahia no Google News

				
					A arte da comédia e do drama do ator e professor Zé Carlos Jr.
Zé Carlos Jr. (à esq.) no espetáculo A Arte da Comédia_direção Marcus Villa Góis, 2023. Foto: Felipe Fioravanti

Das memórias de sua bucólica infância, na década de 1970, em Aracaju, o ator e professor Zé Carlos Jr. guarda passagens que considera inspirações para a carreira artística que seguiria. Lembra com saudade de seus pais: o funcionário público federal José Carlos ouvindo Nat King Cole, aos domingos, embalando-se numa cadeira de balanço; e sua mãe, Maria Renildes, enfermeira psiquiátrica, costureira de mão-cheia, nas horas vagas, que lia romances exóticos e ouvia, com ele no colo, a clássica radionovela “Os Ossos do Barão”, de Jorge Andrade. O folhetim até hoje povoa a sua imaginação. Dos irmãos, recorda que Ana, a mais velha, o alfabetizou; Clara lhe ensinou a encarar os desafios da vida; e pelas mãos do irmão Inácio teve a sua iniciação no Teatro, no Grupo Atrás do Grito, aos 17 anos. Daí em diante, a paixão tomou conta.

Aos 53 anos, professor em exercício na rede municipal de ensino - graduado pela Escola de Teatro da UFBA, em 2002 - o artista atualmente está em cartaz no espetáculo “A Arte da Comédia”, de quinta a domingo, às 19h, até o dia 28 de maio. A entrada é gratuita. A peça, da Cia. de Teatro da UFBA, tem direção de Marcus Villa Góis. Na trama, o ator interpreta a personagem Campese, dono de uma companhia de teatro, que sofreu um incêndio, fazendo com que ele busque a ajuda do poder público para continuar as atividades. A peça é uma crítica irônica e muito contemporânea, que faz um jogo ambíguo entre ficção e realidade.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Leia também:


				
					A arte da comédia e do drama do ator e professor Zé Carlos Jr.
Zé Carlos Jr. (à esq.) no espetáculo A Arte da Comédia - direção Marcus Villa Góis, 2023. Foto: F elipe Fioravanti

“Esse personagem é a tradução da vida do ator no mercado de trabalho, em sua constante labuta de provar que é um trabalhador e que precisa ter dignidade para poder seguir sua profissão. É uma reflexão sobre a vida do artista, em meio a uma sociedade atravessada pelas redes sociais. Estamos com o discurso esvaziado, vivemos uma época onde a plateia é o ator principal, todo mundo se tornou seguidor de um ser virtual, não cultivamos mais o discurso crítico, agora estamos à beira de uma iminente ameaça de sermos cancelados. Perdemos a voz e o espetáculo reivindica o diálogo, a interação saudável da presença. É uma celebração aos encontros, as trocas das nossas experiências”, reflete Zé Carlos Jr.

Voltando às suas origens, tudo começou em 1987, quando o ator criou, junto com o seu irmão Inácio, o Grupo Atrás do Grito e adaptou para o teatro o romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. “Foi a minha primeira experiência dramática, eu fazia Baleia. O diretor queria que eu entrasse nu na hora que a personagem Baleia morresse. Assustado, disse não. Mas, ali nasceu minha autoestima, minha certeza. Naquele período, havia nos ensaios laboratórios. Ah! E um detalhe! Quem desenhou a luz foi nada menos que o ex-ministro dos esportes, Orlando Silva. Ele namorava a nossa atriz principal: Marília Menezes”, relembra o artista.

Já nos primeiros anos de sua carreira, em 1994, ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival Baiano de Teatro Amador, com o espetáculo “No Mais, sem Novidades”, com direção de Luciana Souza (ex-Bando de Teatro Olodum). Com a mesma diretora, lembra da atuação, ao lado de Lázaro Ramos, na peça “O Rico Avarento”,

de Ariano Suassuna. Lá se vão mais de 36 anos ininterruptos nos palcos, trabalhando com grandes diretores baianos, nacionais e internacionais, em espetáculos como “Os Negros” (Carmen Paternostro, 1994), “Viúva, porém, honesta” (Deolindo Checucci, 1994), “Os Dois Manecos” (Ewald Hackler, 1996), “Baile de Máscaras ou Perdoa-me por Meus Sonhos” (Harald Weiss, 2004), “Vixe Maria Deus e o Diabo na Bahia” (Fernando Guerreiro, 2004), “Compadre de Ogum” (Edvard Passos, 2014 a 2019), “De Um Tudo” (Fernando Guerreiro, 2017), entre muitos outros trabalhos de diferentes gêneros e estéticas.


				
					A arte da comédia e do drama do ator e professor Zé Carlos Jr.
Zé Carlos Jr. em Vixe Maria! Deus e o Diabo na Bahia! - dir. de Fernando Guerreiro, 2004. Foto: Divulgação

“Eu aprendi muito com os colegas de cena, mas tem alguns encenadores que eu trago como meus gurus. Bertho Filho, ele ensina que o ator é autor da ação dramática: o ator propõe e o diretor ajusta. Fernando Guerreiro, ele liberta, eleva a autoestima, porque ele, quando gosta, te deixa livre pra criar, propor, sugerir... O texto é um detalhe, ele aposta na investigação. Ewald Hackler... Para ele, o texto é fundamental, tudo é marcado, tudo está na dramaturgia, nas intenções... Ele motiva a inteligência do ator. Luciana Souza é casual, ela ensina que a arte do teatro está na vida. Edvard Passos joga junto com o ator. Ele é incansável. Na minha opinião, é o melhor encenador da última geração.


				
					A arte da comédia e do drama do ator e professor Zé Carlos Jr.
Zé Carlos Jr. no espetáculo Compadre de Ogum - dir. de Edvard Passos - 2004 a 2019. Foto: Divulgação

Quando pensa na sua atuação entre os palcos e a sala de aula, Zé Carlos compreende que há uma relação complementar entre esses papéis. “Quando comecei a ensinar, para sobreviver, eu entrei em crise profunda. Porque eu sempre fui ator, mas ressignifiquei, pensando que a sala de aula é uma plateia cheia de espectadores sequiosos para aprender. O teatro também é pedagógico. E, como artista, estaremos sempre começando. Nunca estamos prontos como cidadão. É perceber o quanto a arte é uma escola para nossa vida, para nos tornar pessoas melhores.

Espetáculo A Arte da Comédia - Cia. Teatro da UFBA

  • Quando? de quinta a domingo, até o dia 28 de maio
  • Horário: às 19h
  • Onde? Teatro Martim Gonçalves - Escola de Teatro da UFBA, Canela - Salvador/BA
  • Entrada gratuita
  • Classificação: LIVRE
  • Mais informações: @ciateatroufb

				
					A arte da comédia e do drama do ator e professor Zé Carlos Jr.
iBahia
Foto do autor
AUTOR

Arlon Souza

AUTOR

Arlon Souza

Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

Acesse a comunidade
Acesse nossa comunidade do whatsapp, clique abaixo!

Tags:

Mais em De Resenha