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De Resenha: 'O Princípio de Arquimedes' é um espetáculo visionário e contemporâneo

Peça do dramaturgo Josep Maria Miró tece uma narrativa muito atual, quando pensamos nas fake news, cancelamentos e linchamentos virtuais

Arlon Souza • 21/10/2022 às 18:00 • Atualizada em 04/11/2022 às 16:55 - há XX semanas

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					De Resenha: 'O Princípio de Arquimedes' é um espetáculo visionário e contemporâneo
Foto: Caio Lírio

Quem estuda ou estudou Física, logo vai identificar que o título do espetáculo “O Princípio de Arquimedes” se origina de uma equação que estabelece que um corpo imerso, total ou parcialmente, num líquido qualquer, cria uma força contrária, de baixo para cima, que é diretamente proporcional à quantidade de líquido deslocado por ele; e assim se chega a um resultado denominado de força do empuxo. Esse teorema se transmuta em metáfora na peça, na medida em que a tensão dramática evolui, como um corpo que vai afundando aos poucos, gerando uma força contrária, progressiva e cumulativa, acompanhada de muitas controvérsias, planos e tempos, com elementos de metalinguagem, humor e suspense.

O simbolismo dessa imagem se materializa no espaço escolhido pelo autor, o premiado dramaturgo espanhol Josep Maria Miró, como uma escolinha de natação infantil, em que dois professores, Heitor, vivido por Duda Woyda, e Rubens, personagem de Rodrigo Lelis, formam, ao lado de Ana (Mariana Moreno) e David (Jarbas Oliver), um quarteto que faz dessa trama investigativa um verdadeiro tribunal. Qual é a acusação? Suspeita-se de um ato de assédio sexual infantil. Será?

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Rubens, o jovem professor de natação acusado do ato, se vê coagido, acuado e devassado em sua vida pessoal e profissional, por causa de um gesto de carinho que poderemos avaliar - ou não - como mal interpretado pela criança supostamente assediada, que é logo distorcido e manipulado por David (pai de um dos alunos) e apurado minuciosamente por Ana, que, como diretora e proprietária da escola, assume um caráter de detetive. Por sinal, as atuações estão impecáveis. Tudo muito bem equacionado, mas é muito gratificante ver o crescimento e a maturidade cênica da nova geração, representada por Rodrigo Lelis, e a versatilidade e experiência de Jarbas Oliver, que transita entre o humor e o drama, no tom e na medida que cada personagem exige.

Publicada em 2011, a obra acaba tecendo uma narrativa visionária, quando pensamos na tônica contemporânea das fake news, dos cancelamentos e dos linchamentos virtuais, nos quais há um fluxo maniqueísta, numa tendência massiva de encontrar e punir o mal, sem tempo hábil para qualquer direito à presunção de inocência. Nesse contexto, o boato viraliza em verdade, causa inúmeros prejuízos e destrói reputações, em apenas algumas horas. Hoje em dia, em poucos minutos. A peça foi vencedora do 36º Prêmio Born de Teatro (Espanha) e foi montada em 25 países. A montagem comemora os 20 anos do grupo ATeliê VoadOR Teatro e compõe a programação do projeto Primavera no Cervantes.

“O Princípio de Arquimedes” nos faz refletir ainda sobre afeto e de como determinadas manifestações de afeto se tornam tabus e fantasmas na nossa sociedade, gerando círculos de medo, de ódio e de castração, que produzem efeitos devastadores nas relações sociais, o que inclui a educação infantil. E aqui retomo uma reflexão de Nelson Mandela (1918 - 2013) quando ele diz que “Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

A montagem baiana convida, literalmente, o público a entrar como júri nesse caso, a ser testemunha ocular dessa história, de dentro do palco. O espaço aberto na cena pelo diretor Djalma Thurler, que experimentei como espectador, me fez viver as verdades de cada personagem de uma maneira muito arrebatadora e instigante. Ao mesmo tempo em que me sentia júri, me sentia julgado pela plateia, que consequentemente observava minhas reações e as de quem aceitou ocupar os lugares no palco. E uma pista: o enredo dialoga com a obra de Machado de Assis. Será Rubens um cigano oblíquo e dissimulado. Isso é você quem vai ter que descobrir.

Espetáculo “O Princípio de Arquimedes”

Quando? de quinta a domingo, às 20h, até 29 de outubro de 2022.
Sessão extra? 29 de outubro de 2022, domingo, às 17h
Onde? Sala do Coro do Teatro Castro Alves
Quanto? R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Classificação indicativa? 16 anos
Ingressos? Bilheteria do Teatro Castro Alves ou no site e aplicativo da Sympla.


				
					De Resenha: 'O Princípio de Arquimedes' é um espetáculo visionário e contemporâneo

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Imagem ilustrativa da coluna De Resenha
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