Um frenesi toma conta do palco no espetáculo cênico musical “Um conserto para dois”, protagonizado pelo casal Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello - dois artistas pioneiros do Teatro Musical no Brasil. Os atores se revezam em 12 personagens, com trocas cronometradas de figurino e adereços, num trânsito muito fluído e bem orquestrado de elementos de composição de cena e caracterização. E tudo isso para a construção de figuras pitorescas, cotidianas e cheias de humor e brasilidade. No eixo dessa ficção, a estrela de cinema Luna de Palma e o escritor, em crise, Angelo Rinaldi, numa intensa teia de percalços e peripécias amorosas, a bordo de um cruzeiro chamado Sinfonia dos Mares, rumo à Antártida.
A montagem está em turnê pelo país, esta semana em Salvador, no Teatro Castro Alves, com mais duas apresentações: sábado, às 21h, e no domingo, às 20h.
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A interseção entre os diálogos e os números musicais do espetáculo são também costuradas magistralmente pela participação especial do músico, cantor e ator Guilherme Terra, que cumpre como narrador um papel essencial para o desenvolvimento e entendimento da trama. O enredo incorpora muitas pitadas de melodrama, mas, é a partir da identidade plural brasileira que a montagem imprime uma série de nuances na construção das personagens, ao apresentar sotaques, pessoas e características muito familiares à nossa cultura; explorando regionalismos, costumes, trejeitos e hábitos: uma mãe coruja, uma camareira, um marinheiro, uma artista cover, entre outros tipos. Uma curiosidade: nós baianos também somos contemplados.
É admirável a propriedade com que Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello mantêm a coesão e a verdade cênica de seus personagens. E quando porventura ocorre um deslize nesse jogo de transição, como pude presenciar, ele é imediatamente revertido em humor. Como é próprio do teatro musical, a música é dramaturgia. Está ali para contar a história. E a autora curitibana Anna Toledo encontrou soluções de metalinguagem que tornam a peça ainda mais instigante. Inserindo ficção dentro da ficção, Anna gera encantamento e um caráter de realismo mágico. O desenho do cenário, a visualidade da iluminação e o virtuosismo do figurino também produzem esses efeitos.
Do sapateado à performance drag, do samba ao tango e a inúmeros outros estilos, ritmos e canções (originais), “Um conserto para dois” nos conduz por um universo exuberante, mágico, romântico e abundante em comédia. Se contei corretamente, o décimo oitavo musical de Cláudia Raia é uma produção originalmente brasileira que dá gosto de ver.
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Arlon Souza
Arlon Souza
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