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'Ativa', 'passiva' e 'relativa' ainda fazem sentido no sexo lésbico?

Entenda as críticas e por que devemos ressignificar esses termos

Gisele Palma • 27/10/2023 às 15:30 - há XX semanas

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“Você é ativa, passiva ou relativa?” Que sapatão nunca ouviu essa pergunta? Esses termos vêm sendo amplamente criticados na comunidade lésbica por terem uma origem heterossexual e falocentrada: “ativa penetra/chupa e passiva é penetrada/chupada”. É urgente ressiginificar essas definições com base no que realmente constitui o sexo entre mulheres e entre pessoas com vulva.


				
					'Ativa', 'passiva' e 'relativa' ainda fazem sentido no sexo lésbico?
'Ativa', 'passiva' e 'relativa' ainda fazem sentido no sexo lésbico?. Divulgação/ Freepik

A partir das minhas vivências e estudos, acredito que é preciso estabelecer que “ativa, passiva e relativa” estão ligados à “energia” de dominação ou submissão, não às práticas sexuais em si. Assim, ativa não é aquela que só fornece prazer e que jamais é tocada e passiva não é a que fica deitada apenas recebendo os estímulos.

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A premissa do sexo é justamente a reciprocidade, a troca, o genuíno desejo tanto em satisfazer a outra quanto em se entregar a ela. Se uma só faz e a outra só recebe, está mais para uma masturbação do que para um sexo.

Portanto, ficar que nem uma estrela do mar, estatelada na cama, apenas recebendo carinho e gozando não é o que define a “passividade” e sim o egoísmo, que não deve ser normalizado.

Ser passiva, no meu entendimento, pode estar ligado a gostar, no sexo, de ser pegada com força, mandada, amarrada… ter um jeitinho submisso de fazer, olhar e falar. Não é sobre se recusar a chupar ou comer a outra ou só ficar por baixo. O cuidado com a satisfação sexual da parceira deve estar em todas as envolvidas na relação.

Ser “ativa” não é carregar a responsabilidade de fazer tudo e proporcionar orgasmos à outra. É sobre gostar de performar uma dominância sexual, o que não te impede de ser penetrada ou chupada, por exemplo. Todas nós somos merecedoras de prazer. Mesmo tendo muito tesão em fazer a outra gozar, você, ativa, também tem o direito de ser tocada, beijada, lambida e tudo o mais que você quiser se permitir.

O sexo é múltiplo e fluido. Às vezes, se determinar como uma coisa ou outra pode te impedir de viver experiências deliciosas. Ao mesmo tempo, é muito saudável ter autoconhecimento sexual e saber o que te excita e o que te desagrada.

O ideal talvez seja encontrar um equilíbrio entre a curiosidade de experienciar possibilidades e a consciência dos seus limites. Mas impor que todas devemos ser relativas é incompreensivo com aquelas que, inclusive, já tentaram e não se sentiram confortáveis nesse outro lugar.

É importante destacar o quanto a feminilidade é lida como “passividade”. Nesse sentido, uma mulher desfem, ou seja, que rejeita a feminilidade padrão, é automaticamente colocada no lugar de “ativa”/”dominante”, o que é uma estupidez.

O corte de cabelo, o comportamento e o tecido que cobre seu corpo não ditam os seus fetiches e preferências sexuais. Fems podem ser ativas, desfems podem ser passivas e vice-versa.

Além disso, não é o falo/dildo que irá determinar a passividade ou atividade de alguém, porque, mesmo em relações cishetero, a mulher pode exercer a dominância sexual sobre o homem. Logo, é arcaico e limitado entender os termos “ativa, passiva e relativa” sob a ótica de quem penetra e quem é penetrada/o. Até porque, a penetração é apenas uma opção e não uma regra nas relações, independentemente das genitálias das pessoas envolvidas.

É urgente interromper a perpetuação dessa lógica que interpreta os termos “ativa, passiva e relativa” pelo viés da genitália ou da prática sexual, desconsiderando a energia de dominância e submissão. Uma mulher trans seria ativa simplesmente por possuir pênis? Mas, se ela não o utiliza no sexo, então seria passiva?

Em um casal heterocis, a mulher automaticamente seria passiva mesmo que goste de praticar inversão (ou seja, penetrar o ânus do seu parceiro)? Que a minha coluna de hoje tenha despertado a reflexão em vocês. Convido a deixar a sua opinião sobre esse assunto no meu direct: @_giselepalma

Imagem ilustrativa da coluna Educação xualSe
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