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“Deus me livre ser hetero”

Gisele Palma conta sobre a sua descoberta de amar mulheres

Gisele Palma • 05/01/2024 às 16:53 - há XX semanas

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Sou uma mulher de 31 anos que passou mais de 80% da vida acreditando ser hétero. Hoje, olhando para trás, parece tão óbvio que eu sempre amei mulheres… Mas não me foi permitido saber que sequer havia outra possibilidade a não ser estar com um homem. Vou falar sobre as minhas vivências pois espero, assim, abraçar alguns coraçõezinhos inquietos por aí, perdidos sem saber o que são (spoiler: você não precisa saber!).


				
					“Deus me livre ser hetero”
Gisele Palma conta sobre a sua descoberta de amar mulheres. Foto: Freepik

Meu primeiro selinho foi com uma vizinha, aos 7 anos. Meu primeiro contato com outra genitália foi com uma prima, aos 12. Quando comecei ir à festinhas, sempre acabava beijando uma amiga depois de beber alguns copos. Aos 19, quando estava namorando um homem, não demorou muito para eu propor ménage com mulher; com uma delas, quase fizemos um trisal. Quando abrimos o relacionamento, eu chuto que, a cada dez meninas, eu beijava um rapaz. Vivi tudo isso sem sequer questionar minha heterossexualidade.

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No auge dos meus 25, quando fiquei solteira, comecei a processar algumas coisas... Após alguns meses de luto pelo término, decidi sair pela primeira vez. Era aniversário de um amigo em um barzinho. Lá, havia uma colega dele que, ao longo da noite, foi me despertando cada vez mais interesse. Ela me olhava de um jeito que fazia meu coração disparar; seu sorriso, então, me deixava completamente fraquinha; isso pra não falar do quanto tudo que ela falava e fazia me parecia encantador.

Na hora de ir embora, ela chegou em mim, mas eu decidi não beijá-la - ainda considerava recente o término com meu ex e não me sentia pronta para ficar com outra pessoa, fora que era uma mulher e eu era “hétero” (risos). Dirigindo de volta para casa, com o coração acelerado e a calcinha encharcada, me senti terrivelmente confusa: eu não vou fazer ménage com ela e um homem (ela era lésbica); eu não estava bebendo e ela não era minha amiga (não era aquele típico cenário de festinhas); a vontade não era apenas de dar um beijo (era um tesão e um interesse muito sinceros)... Como ou por que eu estava sentindo tudo aquilo?

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A partir daí, finalmente, começou a cair a ficha: “talvez eu seja bi”. Depois de muito negar, comecei a aceitar e, finalmente, amar a minha sexualidade. Um fator que analiso como fundamental nesse processo foi ter amizades LGBTQIAPN+; sair da bolha cisheteronormativa te faz sentir, na pele, o óbvio que ninguém nos ensina: é normal não ser o padrão (eu iria além, na verdade; pra mim, é uma dádiva não o ser). À época, escolhi não contar para meus pais, pois não via relevância em eles saberem e, caso fossem me julgar, eu, honestamente, não estava afim de lidar.

A heterossexualidade nunca é questionada. Você nasceu hétero e ponto; não há o que se duvidar. Quando as situações começam a aparecer e você começa a ser colocada cara a cara com essa “certeza”, bate um certo desespero. “Como assim eu tenho interesse em mulher??” A negação, aos poucos, vai cedendo espaço para a reflexão e, de repente, você se vê amando não ser hétero. Às vezes, a parte mais dolorida da saída do armário é o reconhecimento e o entendimento do que se passa dentro da gente. Para aliviar esse processo, recomendo, além de terapia, ter com quem contar, e não necessariamente essa rede de apoio estará na sua família. Ter em quem confiar é muito importante e especial.

Tudo muito bem, tudo muito bom, mas a história ainda não acabou. Na próxima semana, volto com a segunda parte, contando o que aconteceu dos meus 25 anos até hoje (e rolou foi coisa, viu?). Por enquanto, me siga no Instagram e me conta por lá como esse texto chegou até você.

Imagem ilustrativa da coluna Educação xualSe
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