Recentemente descobri que o dia 15 de agosto é celebrado como o Dia do Solteiro. Confesso que não fazia ideia. Pesquisando, vi que, embora não exista uma explicação oficial, a data parece ter surgido como um contraponto simbólico ao Dia dos Namorados, ou seja, um convite para celebrar a autonomia, a liberdade e a possibilidade de estar só.

Ao aprofundar nessa pesquisa, me chamou atenção o significado da palavra “solteiro”: alguém “sem ligação legal ou compromisso conjugal”. Isso revela que estar solteiro não é necessariamente sinônimo de incompletude, mas sim de ausência de contrato. A linguagem já carrega a mensagem de que estar só é estar “fora”... fora do modelo, fora do esperado, fora da norma.
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Intrigado, fui buscar o sentido da palavra “solidão”. Encontrei que ela fala tanto de isolamento quanto de retiro, pausa, afastamento. E aqui vale lembrar que nem toda solidão é sinônimo de desamparo. E nem toda companhia garante cuidado. É um ponto essencial para quem vive entre a urgência do vínculo e a necessidade do espaço.

Interessante também que, em outros lugares, como a China, o Dia dos Solteiros é celebrado em 11 de novembro (11/11), justamente por simbolizar visualmente pessoas “sozinhas”. Isso mostra que a ideia de estar só está presente em várias culturas, mas com sentidos variados.
Aqui na nossa cultura, estar solteiro muitas das vezes é visto como fracasso, como ausência. Uma condição que precisa ser corrigida. Vá por mim, o que realmente adoece não é o fato de estar só. O que corrói é estar cercado de pessoas e mesmo assim sentir um vazio profundo, uma ausência de troca verdadeira. São aquelas mil conversas vazias que não alcançam, o despertar diário com a sensação de não ter com quem construir, dividir, pertencer.

É neste ponto, que existe algo que venho observando tanto na clínica quanto no cotidiano: cada vez mais pessoas buscam respostas emocionais em inteligências artificiais. Assistentes que ouvem, respondem, confortam; perfis automatizados que criam a ilusão de presença. Mas pergunto: o que isso diz sobre nossas formas de se vincular?
Substituir a ausência do encontro humano por conversas com sistemas treinados para concordar, validar, nunca contrariar, pode parecer conforto num primeiro momento. Mas é, antes, um reforço silencioso do isolamento emocional. A inteligência artificial pode ser uma ferramenta poderosa, mas jamais será uma relação.
Porque relação implica o incômodo do outro, a escuta ativa, a espera. Demanda entrega, negociação, ausência de garantias. Talvez por isso tantas pessoas prefiram o algoritmo: ele responde sempre que chamado, sem demora, sem silêncio, sem frustração.

Enquanto escrevia, lembrei de um texto que produzi há dois meses: “Estamos cada vez mais sós!”. Nele, afirmo que adoece não é a solidão em si, mas o distanciamento crônico dos outros seres humanos. Aquela sensação de nem mais lembrar como é ser tocado por uma palavra verdadeira.
Então fica a reflexão: estar solteiro pode ser um exercício de liberdade e autocuidado. Mas estar desconectado, mesmo quando cercado de pessoas, é uma prisão invisível, uma clausura que o tempo e o convívio não conseguem romper.
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