A segunda quinzena de dezembro sempre parece um território suspenso. Não pertence mais ao ano que termina, mas também não inaugura o próximo. É um entrelugar, desses que mexem mais fundo do que imaginamos. E talvez por isso tanta gente sinta um incômodo que não sabe explicar.

Quando o ritmo desacelera, algo dentro de nós começa a falar mais alto. Não porque queremos, mas porque finalmente há silêncio suficiente para escutar. O que desse ano você ainda não conseguiu elaborar? O que insiste em se apresentar quando o movimento diminui? Às vezes é uma memória que retorna, às vezes é um desejo que não teve coragem de existir, às vezes é só uma inquietação que pede nome.
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Esse período funciona como um espelho psicológico. Você percebe o que te cansou, o que foi excessivo, o que não foi dito, o que ainda pesa. E, ao mesmo tempo, surge uma espécie de nostalgia antecipada: uma mistura de gratidão e luto pelo que passou. O corpo entende essa travessia antes da mente, por isso o humor oscila, a energia varia e a sensibilidade aumenta. Tudo isso é esperado quando atravessamos um tempo liminar.

Há uma pergunta que sempre surge nessa fase: por que esse vazio incomoda tanto? Talvez porque ele retire todas as distrações que usamos ao longo do ano para contornar o que não queríamos sentir. Quando não há mais pressa, o inconsciente aproveita o espaço que se abriu e coloca na nossa frente aquilo que ficou para depois. E não há nada de errado nisso. O desconforto costuma ser o primeiro sinal de que algo está pedindo reconhecimento.
- Que partes suas ficaram esquecidas no meio das urgências?
- O que você percebe quando olha para trás sem tentar se defender?
- O que ainda busca um lugar dentro de você antes que o próximo ciclo comece?

Esse limbo emocional não serve para grandes resoluções. Ele serve para escuta. Serve para perceber as camadas que a rotina encobriu. Serve para que o próximo ano não seja apenas uma repetição disfarçada do anterior.
Se dezembro estiver te pedindo silêncio, tente oferecer a si mesmo esse espaço. A pausa não é ausência. É convite. É reorganização. É a chance de encontrar, no meio da suspensão, algo que você vinha precisando há muito tempo: um diálogo mais honesto consigo mesmo.
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