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Olinda Tupinambá: indígena e cineasta fala sobre jeito de fazer cinema

'Queria que se sentissem representados, queria mostrar para eles que tínhamos uma história de luta e resistência, revela Olinda na coluna

Vanessa Aragão • 24/05/2023 às 10:23 - há XX semanas

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					Olinda Tupinambá: indígena e cineasta fala sobre jeito de fazer cinema
Foto: Divulgação

O nome dela é Olinda Muniz Wanderley e seu nome indígena e artístico é Yawar. Ela é jornalista, documentarista, cineasta, artista e ambientalista. É da comunidade Tupinambá de Olivença/BA e também Pataxó Hã-Hã-Hãe, de Caramuru-Paraguaçu do Sul da Bahia, como tem logo de cara no site da sua produtora Yawar Filmes.

Olinda Tupinambá, como também é conhecida, fez faculdade em Comunicação Social e entendeu a importância e necessidade de contar suas próprias histórias e as histórias do seu povo, passando de objeto para sujeito com suas próprias dinâmicas e jeito de contar histórias. Neste bate-papo, ela conta como começou no cinema, suas produções feitas e as que estão em andamento, além de planos e das mulheres que ela admira do cinema e audiovisual da Bahia. Conheça um pouco mais dessa mulher cheia de arte e potência criativa.

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1. Como foi/tem sido sua trajetória até chegar no cinema e audiovisual? Você nasceu e cresceu onde?

Durante a faculdade de Comunicação Social, decidi que faria um documentário em meu trabalho de conclusão de curso. Eu queria que os membros de minha comunidade se sentissem representados, queria mostrar para eles que tínhamos uma história de luta e resistência que deveria ser eternizada, e o cinema permite isso. Um ano depois o documentário Retomar para Existir ganhou visibilidade e teve sua primeira exibição dentro do cinema, no festival de cinema Indígena Cine Kurumim.

Aquela exibição foi uma baliza para definir a continuidade de meu trabalho com o cinema. Conheci alguns dos cineastas indígenas que estavam produzindo e fazendo cinema, e o mais importante de tudo, percebi melhor o alcance e a forma que essa ferramenta, que é a câmera, poderia ter para falar das questões relacionadas aos povos indígenas e as questões ambientais. Com o tempo, fui criando laços com algumas redes e com pessoas que trabalhavam com cinema, e isso me ajudou a entender que o mundo do audiovisual é bem vasto, e que dentro dessa cadeia existia a curadoria de mostra e festivais, cinema de arte, vídeo performance, e fui vendo o que de fato eu queria fazer.

Em 2020 recebi um convite de Naine Terena, uma curadora de arte, que me convidou para apresentar um trabalho na Pinacoteca de São Paulo, na exposição Véxoa - Nós Sabemos. Com esse trabalho, já meu terceiro, consegui desenvolver o que acredito ser uma estética própria do “meu fazer cinema”. O filme Kaapora - O Chamado das Matas me trouxe a possibilidade de pensar em fazer um filme que transita entre documentário e ficção, um filme com características bem oníricas e que transmite bem os aspectos da cosmovisão indígena.

Nessa trajetória do cinema, tenho tido a oportunidade de conhecer e trabalhar em diversos seguimentos, desde a produção, direção, direção de arte, direção de fotografia, curadoria para mostras e festivais, júri de mostra e festivais, vídeo performance, intervenção artística. Nasci e me criei dentro do território Caramuru Catarina Paraguaçu, aldeia do Povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, sou de origem Tupinambá.


				
					Olinda Tupinambá: indígena e cineasta fala sobre jeito de fazer cinema
Equilíbrio - Olinda. Foto: Divulgação

2. Hoje em dia, como está sua relação com o cinema/audiovisual? O que você tem mais feito/produzido no ramo?

Durante o ano de 2022 fiz 3 filmes independentes. Neste ano estou me dedicando aos roteiros de filmes que pretendo produzir no início de 2024. Tenho me dedicado também às curadorias para mostras e festivais e também como parecerista para editais de audiovisual. Tenho planos de participar de uma oficina de audiovisual para mulheres indígenas no extremo Sul da Bahia. Além disso, vou iniciar uma consultoria para um filme. Também tenho me dedicado a terminar uma série de esculturas em madeira que estou fazendo para uma exposição de arte.

3. Me fale dos seus trabalhos mais especiais e coloca pra gente ver.

Para mim, todos os meus trabalhos foram bem importantes e especiais, porém, Kaapora, Equilíbrio e Ibirapema retratam assuntos que considero de extrema importância de ser discutidos na atualidade, tanto para procurarmos soluções para nossa vida futura no planeta Terra como para pensarmos o sujeito indígena e suas contribuições na contemporaneidade.

Kaapora: clique aqui

Equilíbrio: clique aqui

Ibirapema: clique aqui


				
					Olinda Tupinambá: indígena e cineasta fala sobre jeito de fazer cinema
Performance Atos modernos de Olinda Wanderely. Foto: Divulgação Olinda Wanderely

4. Como você tem visto o cinema e o audiovisual feito por mulheres indígenas na Bahia ultimamente? Em que momento estamos?

O cinema indígena tem ganhado visibilidade em mostras e festivais dentro e fora do país. Na Bahia, mulheres de 3 comunidades diferentes tem apresentado seus trabalhos e sua relação com o fazer filme, deixando de ser objeto e passando a ser sujeito da produção cinematográfica, passando a produzir o retrato de suas próprias imagens. Mulheres principalmente entre os Tupinambá, Pataxó do extremo Sul e Pataxó Hã-Hã-Hãe tem se destacado, porém percebe-se que no Estado da Bahia ainda não existem políticas públicas voltadas para o audiovisual dos povos indígenas, não existe incentivo a novas produções nem para a formação de novas diretoras.

5. Cite outros trabalhos/filmes/mulheres da Bahia que te inspiram desse ramo.

Gosto de observar as estéticas usadas nos filmes, observar a iluminação, enquadramentos de filmagens e outros aspectos da fotografia. Distopia, filme de Lilih Curi, é um filme que gosto bastante da fotografia e iluminação. Mãe Solo, de Camila de Moraes, também é um filme que gosto. Não penso que eu tenha propriamente pessoas específicas que me inspiram no sentido de influenciarem especialmente meu modo de fazer cinema como um todo, mas acredito que existam trabalhos importantes de pessoas que acho necessários e urgentes para serem visibilizados.

No entanto, estudo a fotografia, o argumento, a direção de alguns diretores e diretoras, e esse estudo aprimora a forma como faço cinema, especialmente no meu momento atual. Falando nisto, Ibirapema é uma exceção para mim, pois foi especialmente orientado por filmes que vi paralelos com o que eu queria contar, e foi a obra que mais usei disto. Construí Ibirapema deste modo porque é um filme de arte, falando sobre a arte e o cinema é uma das artes. No entanto, prefiro que as pessoas assistam e deduzam por si mesmas quais foram as influências cinematográficas em Ibirapema, algumas são bastante evidentes. Tenho inspirações em personalidades no audiovisual aqui da Bahia, no modo como atuam, como Daiane Rosário, Lilih Curi, Dayane Sena e Juh Almeida.


				
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Foto: Divulgação

				
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