O Natal sempre foi minha festa favorita! Aquela reunião caótica de toda a família, a euforia das crianças correndo pela casa, os tios sentados à mesa falando alto e discutindo qualquer bobagem, Simone tocando no som, Roberto Carlos passando na TV, o cheiro do jantar sendo preparado, o calor intenso na cozinha comandada com maestria por minha avó, auxiliada por minhas tias...
Os olhares admirando as novidades do presépio e as luzes piscando na árvore, as sacolas de presente nos cantos, despertando a ansiedade, as comidinhas e doces para beliscar antes da ceia...inúmeros elementos visuais, olfativos, auditivos e gustativos vão criando o clima e o ambiente únicos do Natal.
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De criança, escolher a roupa da festa e ajudar a montar a árvore em casa era tudo o que precisávamos fazer. Levar a nossa expectativa para as surpresas da noite e a vontade de abrir presentes era tudo o que nos cabia. Para quem organiza a noite feliz, no entanto, o trabalho é um tantinho maior.
Todos os rituais e preparações para a festa começam a acontecer semanas antes do dia 25/12, antecipando a expectativa para o grande dia em que se comemora o nascimento de Cristo – e os valores cristãos ensinados por Ele, como amor ao próximo, empatia, solidariedade, perdão e paz no coração.
As luzes e decorações natalinas vão dando o ar da graça nas lojas, nos shoppings e na cidade em geral ainda em novembro, sinalizando a hora de começar a preparar esta grande festa que envolve uma série de planejamentos e realizações.
Enquanto se aguarda o depósito do 13º (para quem recebe e consegue destinar às festividades natalinas), já se começa a levantar quantas pessoas vão participar da noite do dia 25/12 daquele ano. Isso sem contar todos os detalhes necessários para a ceia desejada...ou possível.
Se pensa no cardápio, se calcula a quantidade de insumos, se prepara a lista de compras, que inclui petiscos, ceia, sobremesa e bebidas. Se separa a louça, as taças, os talheres, as travessas, as toalhas de mesa e os guardanapos a serem utilizados e que precisam estar limpos, lavados e, no caso dos tecidos, passados.
Ir às compras, em lugares diferentes, para encontrar os melhores insumos e menores preços. Escolher os ingredientes um a um, colocar no carrinho, pegar fila, ensacar, transportar para casa, armazenar, conferir.
Fazer a lista de presentes, ir às compras mais outras vezes, embalar um por um e etiquetar, eventualmente fazer cartões. Organizar o amigo secreto, as orações, a dinâmica da noite. Se houver familiares idosos, doentes ou com necessidades especiais, é mais um ponto a ser considerado e administrado para que haja o acolhimento e o cuidado devidos.
Limpar a casa, dispor os móveis de maneira a comportar as pessoas, organizar os horários de chegada e de preparação dos alimentos. É toda uma coordenação para que saia tudo nos conformes e o jantar na hora certa. Haja organização! Natal, acima de tudo, é muito trabalho para que tudo saia como manda o figurino e todos fiquem contentes e satisfeitos.
Quem é, na sua família, que se encarrega de tudo isso?
Quem, na sua casa, se encarrega de organizar, fazer as compras, fazer a ceia ou o almoço? Quem prepara a casa, separa a louça, as travessas combinando, quem lava e passa os guardanapos de pano? Quem prepara as orações, a dinâmica da noite, o amigo secreto? Quem compra os presentes, embala e faz os cartões?
Quem se preocupa com as crianças, os idosos, com os doentes da família? Quem cuida deles? Quem lava a louça, as panelas, as travessas, depois da ceia? Quem limpa e arruma a casa depois que todos já comeram, beberam, se divertiram e foram embora?
Se houver alguma desavença, típica de encontros familiares, quem é que está lá apaziguando, conversando, confortando, dando o suporte emocional e aliviando as tensões?
O Natal exige um imenso trabalho mental, braçal e emocional. Salvo raras exceções, são as mulheres que costumam ficar com todo o peso da reunião tipicamente familiar que acontece entre 24 e 25 de dezembro. Homens, quando muito, participam do pagamento das despesas.
Mas todo o trabalho de planejar, organizar, realizar e limpar costuma ficar a cargo de mulheres, sejam as mulheres da família ou, também, daquelas contratadas para dar o apoio na cozinha e na limpeza.
Então, o Natal é, para muitos, uma festa, mas para as mulheres, é também um período de intenso trabalho, responsabilidade e cansaço. Sem contar que quem leva o crédito de parte desse imenso trabalho é uma figura masculina, né? O Papai Noel, símbolo do Natal. Elas trabalham e ele leva a fama!
Vamos, então, recapitular aqueles valores cristãos que falamos mais acima? Enquanto nos maravilhamos com as luzes que iluminam as noites de dezembro e nos envolvemos no espírito natalino, lembremos daquelas que trabalham incansavelmente nos bastidores. Vamos cultivar a gratidão! É hora de reconhecer o peso que recai sobre as mulheres e oferecer a elas o presente da compreensão, do reconhecimento e alívio nas tarefas natalinas.
Que tal, homens, começar a participar mais, estender a mão e provar que as mulheres não estão sozinhas nessa maratona?
O Natal é uma celebração que deveria ser para todos, mas nem sempre é essa a realidade. Que nesta temporada de festividades, possamos não apenas enfeitar nossas casas com enfeites brilhantes, mas também nossos corações com empatia e gratidão. Afinal, é disso que se tratam a celebração ao menino Jesus e o espírito natalino, não é mesmo?
