O samba junino nasceu nos terreiros de candomblé de Salvador, mais precisamente no bairro do Engenho Velho de Brotas e se espalhou por diversos outras regiões como Vale das Pedrinhas, Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Liberdade, Sussuarana e Garcia. Porém, muitos grupos acabaram. E só existe um, aqui na capital baiana. Criado na década de 1970, a manifestação é um Patrimônio Cultural soteropolitano, título concedido pela Prefeitura, que em 2022 comemora 50 anos. Das festas de caboclos, o evento ganhou às ruas com a sua batida inconfundível e canções envolventes. Tem música de protesto, mas tem também música romântica. No periodo junino, os integrantes vão às ruas dos bairros de origem da festa, animados e orgulhosos do que construíram.
“Apesar da beleza, da importância para a cidade e do apoio dos moradores, o samba junino sempre foi mantido com recursos próprios”, diz o presidente Jorge dos Santos, do Grupo Fogueirão, fundado há 35 anos. Ele assumiu a manifestação cultural quando sentiu que a tradição corria risco de acabar. Os mais velhos estavam cansados e começaram a desistir de ficar à frente dos trabalhos. Os custos eram bancados pelos bingos, rifas e apoio dos comerciantes do bairro.
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“O samba junino tem ainda uma importância muito grande para a música baiana”, ressalta Nonato Sanskey , do Grupo Mucum’G. O artista costuma dizer que 89% dos artistas baianos beberam na fonte desse gênero musical. A lista é grande. Um rapaz de apelido Toinzinho, morador do Nordeste de Amaralina, teria feito a ponte entre os compositores e o radialista Manolo Posada (da Rádio Itapoan) - que não está mais entre nós.
Manolo foi ganhando confiança dos compositores, sabia que tinha uma mina na mão. Se misturava com o povo nos festivais de música, observando tudo que o povo gostava. Quando detectava o que seria sucesso na voz dos artistas mais conhecidos - cantores que já estavam na estrada há algum tempo ou até mesmo em início de carreira - oferecia para as gravadoras. Enfim, até emplacar a música.
Foi, por exemplo, por iniciativa de Manolo que Daniela Mercury gravou “Canto da Cidade”. A música é de Toti Gira, na época do Samba Elite. A canção estourou. Foi uma época muito produtiva musicalmente. Por todo canto havia uma samba junino em Salvador. Jovens loucos para um dia se tornarem artistas reconhecidos. Muitos conseguiram realizar o sonho, como Tatau, que criou o Skorpios e com muito talento chegou ao Araketu, além de ter passado por vários grupos de samba.
Ninha, criador do Leva Eu do Engenho Velho de Brotas, fez sucesso em vários grupos até migrar para a Timbalada, grupo revolucionário da música baiana. Xexéu, Márcio Victor, Guiguiu, Alexandre Guedes, Tonho Matéria, Virgílio e Ronaldinho são alguns dos nomes que fizeram história com o ritmo eletrizante, escrevendo canções que ficaram na história.
Tem muita experiência que ainda não foi contada dessa fase de ouro da música baiana. Aquela juventude tinha orgulho e amor pelo que fazia. Era o novo. Muita gente boa se descobriu como artista. Neivaldo Jaké fez história como cantor e compositor e faz questão de contar que Ninha tem responsabilidade nisso. Ele tocava surdo no Jaké e é um dos compositores do Melô do Tchaco, uma música feita com trechos de outras canções, ideia de Tonho Matéria.
Quando nem se falava em diversidade de genêro, a turma do samba junino dava um passo importante contra a discriminação e escolhia como rainha, uma transexual. Orgulhosa do título, Pokette Lyra foi coroada rainha, mesmo tendo enfrentado barreiras e discriminação. Mas hoje ocupa lugar de destaque e, vale destacar, dança muito! Emocionada, ela defende: “Vou morrer levantando essa bandeira, que é o samba junino de Salvador”.
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Wanda Chase
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