O afoxé Filhos de Gandhy vai desfilar com o tema 'Beleza Pura' no Carnaval de 2024. A homenagem será ao cantor Caetano Veloso e a sugestão é do artista plástico Alberto Pitta, o mesmo que há 5 anos colocou o dourado de Oxum nas fantasias dos 70 anos do afoxé.
Emocionado, o presidente do bloco Gilsoney Oliveira cantarola o trecho da canção 'Beleza Pura', em que Caetano cita o Gandhy. “Dentro daquele turbante dos Filhos de Gandhy. É o que há. Tudo é chique demais. Tudo é muito elegante. Manda botar. Fina palha da Costa. E que tudo se trance. Todos os búzios. Todos os ócios ….”.
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Canção que revela a Bahia
Lançada em 1974, a canção é uma crônica sobre Salvador, cidade mais negra fora do Continente Africano, sob o olhar do nosso poeta. O depoimento do filho de dona Canô faz parte do acervo digitalizado da obra dele, organizado por Evangelina Maffei (Buenos Aires / Argentina ).
"A música 'Beleza Pura' - diz Caetano - tem uma referência direta à canção do compositor e cantor Elomar, que fala: “ viola, alforria, amor, dinheiro não. Beleza Pura”. Elomar é um grande compositor baiano, de Vitória da Conquista, chamado de “menestrel das caatingas “. Segundo Caetano, beleza pura é uma saudação ao início da “tomada” da cidade de Salvador pelos pretos. Ela sempre foi uma cidade com muitos pretos. Porém, até os anos 70, eles ficavam mais ou menos nos seus lugares: “puxadores de rede, de xeréu, tocadores de candomblé, todos muito nobres, bonitos, mas cada um no seu lugar tradicional” explica Caetano. Detalhe: o Ilé Aiyê surge justamente na década de 70, em 1 de novembro de 1974, e faz uma revolução estética e cultural.
O bloco surge trazendo canções que mexem com a autoestima do povo negro ao reafirmar nossos valores. Quem não lembra da composição de Paulinho Camafeu, gravada por Gilberto Gil. “Que Bloco é esse que viemos mostrar pra vocês? Que bloco é esse?” Começa aí o ciclo de assumirmos nossa negritude. Compositores escrevem sobre as lutas dos negros pela libertação, o racismo velado no Brasil e clamam por liberdade e respeito. As mulheres aos poucos param de alisar seus cabelos e passam a trançar. O processo de embranquecimento é combatido.
Cinco anos depois do surgimento do Ilê Aiyê surge o Bloco Afro Olodum, fundado pela comunidade do Maciel de Baixo, lugar chamado pejorativamente de mangue. E a Bahia começa a despertar para outra realidade, os tambores rufam e Neguinho do Samba cria o samba - reggae. Como cantou Wilson Simonal, em Tributo a Martin Luther King, “com uma canção se luta irmão. Vamos lutar que a luta está no fim ….”
Em 'Beleza Pura', Caetano conversa com vários Bairros de Salvador. Vejamos: “Moça preta do Curuzu. Beleza Pura!" E cita ainda Federação e Boca do Rio. Faz uma referência às mulheres, às trançadeiras (termo regional) ou trancistas, como queiram.
“Quando essa preta começa a trançar o cabelo é de se olhar. Toda trama da trança, transa do cabelo. Conchas do mar, ela mandar buscar pra botar no cabelo.Toda minúcia, toda delícia. Não me amarra dinheiro não! Mas, a cultura”. Em outro trecho: “moço lindo do Badauê. Beleza Pura! “
Se você não conhece essa música acesse no YouTube. E comece a sonhar com o carnaval de 2024 porque quando o Gandhy passar, você verá ao vivo uma aula de Bahia e o início de uma era, em que lutamos muito e conseguimos o protagonismo. Quando o Gandhy passar na avenida, vamos Caetanear, no ritmo do ijexá. Parabéns, presidente Gilsoney Oliveira! Parabéns, Alberto Pitta! E nos faça sonhar.
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