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Afropunk, Radioca e Paisagem Sonora destacam possibilidades e potencialidades de um festival

Três eventos, que aconteceram em novembro, mostram as diversas formas de se realizar um festival, com porte, curadoria e experiência particulares

Marcelo Argôlo • 07/12/2022 às 18:00 • Atualizada em 08/12/2022 às 13:45 - há XX semanas

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					Afropunk, Radioca e Paisagem Sonora destacam possibilidades e potencialidades de um festival
Emicida e Márcio Victor promoveram um dos momentos mais marcantes do Afropunk Bahia 2022 (Foto: Sércio Freitas / Divulgação)

Novembro vivi uma maratona de festivais! Participei, em três fins de semanas seguidos, do Radioca (em Salvador), Paisagem Sonora (em Santo Amaro) e Afropunk Bahia (em Salvador novamente). Com portes, curadorias e experiências bastante particulares, os três festivais deram um apanhado da música que circula pela Bahia e pelo Brasil e mostraram as possibilidades amplas de se fazer um evento neste formato.

Dos três, o Radioca é o mais antigo e realizou a sua 6ª edição em 2022. O festival aconteceu nos dias 12 e 13 na Fábrica Cultural (Ribeira) e contou com nomes como Ana Barroso, Bixarte, Ilê Aiyê, Luísa e os Alquimistas, Mariana Aydar, Otto, Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi e Zé Manoel. É um evento que garante à Bahia um lugar no mapa dos festivais do midstream e traz para Salvador alguns nomes de fora do Estado que, de outra forma, teriam dificuldade de se apresentar na cidade.

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O Paisagem Sonora, que aconteceu entre os dias 17 e 19, é um misto de congresso e festival. Ele reúne na programação cursos, oficinas, lançamentos de livros, mesas de debate, além dos shows. É um projeto que explora os 3 pilares da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Na programação musical, passaram pelo palco montado no pátio do campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em Santo Amaro nomes como Aila Menezes, Afrocidade, Neila Kadhí, IFÁ e Lazzo Matumbi, Roberto Mendes, Samba Chula Renovação e Sued Nunes.

Para fechar a maratona, o Afropunk Bahia levou para o Parque de Exposições nos dias 26 e 27 uma amostra bastante diversa da música negra, com direito ainda a nomes internacionais. Uma curadoria certeira soube mixar artistas de uma vertente mais intelectualizada com nomes de apelo popular, sem criar hierarquias e sem perder a proposta política do festival – como no encontro entre Emicida e Márcio Victor, do Psirico.

Depois da edição online de 2020 e uma reduzida em 2021, o projeto pôde finalmente apresentar suas credenciais de edição brasileira do maior festival de cultura negra do mundo. Foram mais de 30 atrações, entre elas nomes como A Dama, Black Pantera, Baco Exu do Blues, Ludmilla, Margareth Menezes, Nic Dias, Paulino Paredão, além do jamaicano Masego e dos colombianos Dawer X Damper.

Para que serve um festival?

Cada um com a sua particularidade, os três eventos dão conta de mostrar diferentes funções de um festival para o contexto em que se insere. Nascido de um programa de rádio, o Radioca tem um porte médio e se vincula à rede do midstream. Bananada, em Goiânia, Se Rasgum, em Belém, Coma, em Brasília, Coquetel Molotov, em Recife, e o Mada, em Natal, são exemplos de festival no mesmo porte do Radioca e que têm atrações similares. Juntos com muitos outros espalhados pelo Brasil, eles formam um circuito que proporciona a circulação de artistas com públicos de nicho pelo país.

Diferente de grandes festivais, como Lollapalooza e Rock In Rio, que contam com grandes investimentos de marcas e os shows se diluem no meio de uma série de ações, no Radioca e seus parceiros de rede há uma experiência focada no que as bandas e artistas propõe em cima do palco.

Em 2022, o grande destaque do festival foi a estreia do show de Russo Passapusso, cantor do BaianaSystem, junto com a dupla veterana Antonio Carlos & Jocafi, dona de clássicos da música brasileira como "Você Abusou". O trio lançou, dias antes da apresentação, o álbum "Alto da Maravilha", praticamente todo com canções inéditas e que vinha sendo aguardado desde 2019, que foi a base para o repertório da apresentação.

Já o Paisagem Sonora é organizado pela UFRB e, em 2022, retornou depois de cinco anos para realizar sua quarta edição. O evento tem uma proposta acadêmica, com divulgação de pesquisas sobre formação, gestão e difusão da música, e traz os shows como uma forma de aproximar a universidade da população da cidade. Com uma programação totalmente gratuita e realização de diversas entidades públicas, o Paisagem Sonora mostra como o formato de festival pode ser usado para ampliar o alcance e buscou despertar o interesse dos santamarenses pela parte acadêmica da programação.

O Afropunk Bahia, por sua vez, ganhou o contorno de evento histórico. O caráter afrocentrado dá ao projeto um tom político extremamente importante e faz dele um espaço de empoderamento negro. Suas dimensões de festival de grande porte, com expressiva visibilidade midiática, tornou a edição de 2022 capaz de trazer para Salvador gente preta de várias partes do país, mesmo com os preços abusivos das passagens aéreas. Foi um fim de semana em que Salvador se tornou a capital da cultura negra no Mundo – e isso não é pouca coisa.

Mais do que realizar um festival, o Afropunk conseguiu construir um espaço de transformação. Quem esteve ali, pôde viver na plenitude a sua negritude. A expressão através das roupas e dos cabelos (questão tão sensível para pessoas negras, principalmente mulheres) foi o que mais chamou a atenção. A autoestima e o empoderamento, questões centrais do projeto, foram muito bem representados através dos looks. Quem viveu o Afropunk experimentou as potencialidades da cultura negra e ampliou seus horizontes de expectativas. E é assim que se constrói um mundo antirracista, com ações que quebrem paradigmas e limitações impostas contra a negritude.

Festival serve para estimular o mercado da música, como mostrou o Radioca; para ampliar públicos e aproximar a universidade do contexto em que está inserida, como mostrou o Paisagem Sonora; e para ser ferramenta de transformação social e luta antirracista, como mostrou o Afropunk Bahia. Longe de ser só um evento sem maiores consequências, existe todo um ecossistema econômico, cultural e social que se forma em torno de um festival. Novembro foi um mês privilegiado para quem gosta de viver essas experiências. Que venham mais, por que, por aqui, já estamos no aguardo dos próximos!


				
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