Mesmo quem não acompanha a cena de música pop de Salvador já ouvir falar de Gab Ferruz. A cantora já participou de dois realitys musicais da TV Globo: o Superstar, em 2016, com a banda 'Alphazimu', e logo em seguida o The Voice Brasil, em 2017, quando chegou até a semifinal como representante do time de Carlinhos Brown.
Durante a pandemia, a artista começou a apresentar seu primeiro projeto solo, o 'A-Fé-To'. Primeiro, veio uma série de singles lançados entre o final de 2020 e o início de 2021, depois o álbum com 10 canções e agora, em abril de 2022, ela estreou o show do projeto com uma apresentação na Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA).
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Mais do que defender canções inéditas, o projeto apresenta Gab Ferruz com uma proposta artística bem definida. Depois das experiências nos programas de TV e a grande visibilidade que eles trouxeram, ela sintetizou suas diversas referências em 'A-Fé-To'. “A construção desse álbum veio de um desejo de criar uma identidade musical. E foi um processo criativo que veio a partir da percussão, porque a raiz da minha música dialoga muito forte com a minha espiritualidade”, explicou a cantora.
O trabalho já rendeu bons frutos. A artista foi a vencedora da categoria ‘’melhor intérprete - música com letra’’ do 19º Festival Educadora FM com a música faixa título do projeto, 'A-Fé-To'.
Afropop suave
Com uma sonoridade que transita entre diversos ritmos no universo percussivo afro-baiano, Gab dá continuidade ao Afropop, estética proposta por nomes como Margareth Menezes e Carlinhos Brown. A artista explora em 'A-FéTo' o samba-reggae, chula, ijexá e pagode, além de outros ritmos diaspóricos como jazz e cumbia. Para completar a mistura da guitarra, baixo e teclados, que trazem o aspecto pop e global para o projeto.
Dessa forma, a música de Gab Ferruz soa como continuidade de um estilo já estabilizado na produção musical baiana. Entre Um Canto Pra Subir, primeiro álbum em que Margareth começou a formular o afropop, até 'A-Fé-To', muito se produziu dentro dessa estética. Gab soube se apropriar dessas referências e, junto com o percussionista e produtor Tiago Nunes, propôs uma caminho próprio, que como ela mesma define “traz mensagens de ternura, fé e amor”.
Contudo, esse é um caminho recente para Gab, pelo menos conscientemente. “Foi com este álbum que comecei a criar consciência e ter mais madura a minha decisão sobre qual caminho seguir musicalmente. Antes eu achava que não era um caminho possível, porque eu vejo as referências e a maioria tem uma voz mais presente, aquela coisa forte, né?! Só que meu canto é mais suave e eu ficava nesse conflito”, conta a artista.
Foi com a descoberta de Sara Tavares, cantora portuguesa de ascendência cabo-verdiana, que Gab se permitiu assumir o Afropop como estética. “No momento que ouvi Sara Tavares, minha cabeça começou a abrir”, revela a artista baiana. Depois da entrevista, fui procurar ouvir e realmente dá para perceber que Gab carrega no seu estilo muito mais da referência portuguesa do que de Margareth. Percebo que há uma identificação vocal e um maior conforto para seguir os caminhos melódicos propostos por Sara, que constrói sua musicalidade calçada numa estética afro-pop-soul.
Em 'A-Fé-To', Gab, de fato, traz um canto por vezes suave, mas também consegue entregar a energia necessária para a canção funcionar. Tanto no álbum, quanto no show, a artista vai de levadas românticas (até cantando sentada no chão), até as canções mais dançantes. Como a estreia do show foi na Sala do Coro, ainda não deu para sentir como é a resposta do público, pois o espaço coloca a plateia sentada, numa proposta mais contemplativa.
Por enquanto, a artista ainda não tem nenhuma data confirmada para uma nova apresentação , que me pareceu ter a cara dos largos do Pelourinho. Contudo, ela adianta que tem um videoclipe em fase final de produção com lançamento em breve. Quem quiser ouvir Gab ao vivo, por enquanto, precisa ir pra Costa do Sauípe assistir suas apresentações semanais no coreto da vila.
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