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Tabus, Tretas e Troças

A anatomia de uma derrota histórica: qual dor fica para sempre?

Há sempre um período de ganhar e um de perder. Para o Vitória, o tempo da queda ainda persiste, mas é dele que pode surgir a possibilidade de renascer

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Sílvio Tudela

01/09/2025 às 9:00 - há XX semanas
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O futebol é feito de vitórias, mas, sobretudo, de derrotas, tanto que há um só campeão entre tantos clubes. Algumas cicatrizam rápido; outras permanecem abertas, como feridas que se renovam a cada lembrança. No caso do Esporte Clube Vitória, a goleada sofrida diante do Flamengo por 8 a 0, na semana que passou, pelo Campeonato Brasileiro de 2025, entrou para a história como uma das páginas mais dolorosas do Rubro-Negro Baiano e também por ser a maior goleada desde a implantação do sistema de pontos corridos, em 2003. Mas seria essa a pior derrota da trajetória do clube? Ou a dor maior está naquelas quedas que, por um detalhe, roubaram a chance de uma glória inesquecível?


					A anatomia de uma derrota histórica: qual dor fica para sempre?
A anatomia de uma derrota histórica: qual dor fica para sempre?. Foto: Victor Ferreira | EC Vitória

Fato é que há quedas que moldaram a história. Em 1993, recém-chegado da Série B, o Vitória possuía uma grande equipe e chegou à grande final para se consagrar campeão brasileiro. O sonho foi interrompido pelo Palmeiras, que venceu os dois jogos e ergueu a taça.

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No ano seguinte, em 1994, foi a vez do Campeonato Baiano escapar nos minutos finais, com um gol que selou a derrota e alimentou a rivalidade eterna com o Bahia. O histórico Ba-Vi na Fonte Nova contou com 97.240 espectadores, o maior público da história do clássico, terminando em 1 a 1, e teve o gol decisivo do Bahia marcado por Raudinei nos últimos minutos do segundo tempo, garantindo o título para o Tricolor, que precisava apenas de um empate.

Mais recentemente, em 2010, a Copa do Brasil parecia um resultado mais que possível. Mas, diante do Santos de Neymar e Ganso e de uma estranha falha na defesa de penalidade, o Rubro-Negro Baiano parou a um passo de um título nacional. Na primeira partida, na Vila Belmiro, os paulistas venceram por 2 a 0. No duelo de volta, no Estádio Manoel Barradas, os baianos venceram por 2 a 1. Com o resultado agregado de 3 a 2 em favor do Santos, este se sagrou campeão do torneio.

Apenas para ficar nestes exemplos, foram quedas que não apenas tiraram troféus, mas esperanças. E então vem a pergunta inevitável: qual derrota dói mais?

Entre a dor e o aprendizado

“Quando um desportista, uma desportista sabe aceitar uma derrota assim, com dignidade, com um grande coração, esta é uma verdadeira honra, uma verdadeira vitória humana. A derrota com dignidade é a verdadeira vitória”, disse o já falecido Papa Francisco. Sem o citar expressamente, elogiou o gesto do treinador Pep Guardiola, do Manchester City, que beijou a medalha recebida após a derrota da sua equipe na final da Champions League 2020/2021 perante o Chelsea.

No entanto, para o torcedor apaixonado, dignidade não apaga a dor. Talvez por isso, a cada goleada ou título perdido, o sentimento coletivo busque culpados. Afinal, como lembra a psicologia esportiva, a derrota pode ser vista como fracasso ou vergonha, comprometendo entusiasmo e confiança. No entanto, como ensina Elis Regina em sua memorável canção e voz, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. A queda pode ser pedagógica e o dicionário emocional do futebol mostra que, muitas vezes, a dor é combustível para novas batalhas.

O peso simbólico das derrotas

A história da Seleção Brasileira também mostra como certas derrotas não se apagam: o Maracanazzo de 1950 frente ao Uruguai; a Tragédia do Sarriá em 1982 diante da Itália; a queda na finalíssima em 1998 para a França; e, mais recentemente, o humilhante 7 a 1 de 2014 contra a Alemanha. O que une todas essas derrotas é o poder simbólico que ultrapassa o placar. No futebol, nem sempre há vencedores claros. Muitas vezes, até quem ganha perde algo: o encanto, a humildade, a consciência de que a queda também é parte do jogo.

Entre as diversas lições da queda, ela abre espaço para narrativas, reflexões, reinvenções. O Vitória, como qualquer clube, é feito dessas quedas que moldam sua identidade. Para lidar com elas, especialistas indicam: não internalizar a perda, aceitar a frustração, desenvolver resiliência e alinhar expectativas. A derrota, afinal, pode ser uma grande oportunidade de crescimento.

Afinal, qual derrota dói mais? Talvez a resposta não esteja no placar. Uma goleada de 8 a 0 pode humilhar, mas perder um título nos minutos finais pode torturar por décadas. A dor da derrota é, antes de tudo, subjetiva: está no coração de cada torcedor, na memória coletiva que ressignifica fracassos e constrói esperanças. Afinal, no esporte, como na vida, há sempre um período de ganhar e um outro de perder. Para o Vitória, o tempo da queda ainda persiste. Mas é justamente dele que pode surgir a possibilidade de renascer.

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