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TABUS, TRETAS E TROÇAS

A infinita vocação da CBF em recontar a história do nosso futebol

Falta de um ponto final em questões de natureza estatística certamente gerará novos questionamentos de clubes e mudanças no ranking da CBF

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Elson Barbosa

30/10/2023 às 9:00 - há XX semanas
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O Campeonato Brasileiro entrou definitivamente em sua reta final, mas já pode entrar na lista dos mais curiosos por trazer algumas surpresas, como a inesperada e folgada liderança do Botafogo até para seus mais fanáticos torcedores e a presença de grandes clubes campeões flertando com o rebaixamento desde as primeiras rodadas.


				
					A infinita vocação da CBF em recontar a história do nosso futebol
Foto: Freepik

Mas as eternas reviravoltas no calendário causadas pelo adiamento de seu término, por alguns dias, devem criar uma falsa sensação de equilíbrio e que o destino do certame está em aberto. E pode até mudar o que parece óbvio, a depender da pressão psicológica exercida, e também pelos inúmeros erros de arbitragem – VAR incluso –, tanto na ponta de cima como na de baixo da tabela.

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É preciso reconhecer que uma das características históricas do Campeonato Brasileiro é a falta de padronização no sistema de disputa, que mudava a cada ano, assim como as regras e o número inchado de participantes.

Por conta disso, em diversas temporadas não havia sistema de acesso e descenso para a Segunda Divisão. Em algumas edições, o regulamento previa, no mesmo ano, o acesso das equipes com melhor campanha para a Primeira Divisão – o que contrariava as normas da própria FIFA.

E a responsabilidade, diga-se, não é nem mesmo desta diretoria porque o histórico de desorganização institucional já vem de longe, quando havia acirradas disputas de poder entre as federações estaduais e o futebol era apenas um entre vários esportes regulados pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

Mas o que dizer de um campeonato nacional que já foi chamado de vários nomes e teve classificados esquisitos e regulamentos bizarros?

Impossível esquecer o confuso Campeonato Brasileiro de 1987 (Copa União), que foi vencido pelo Sport (PE), clube que precisou ir ao Supremo Tribunal Federal para ter seu título oficialmente validado pela CBF, apesar da pressão do Flamengo que se negou a seguir o regulamento e jogar as últimas partidas, tentando sequestrar para si o título na base da gritaria.

Outro campeonato que despertou muita discussão foi a conturbada Copa João Havelange, em 2000, realizada pelo Clube dos 13, uma vez que a CBF estava impossibilitada pela Justiça de organizar o campeonato. Quando todos esperavam pelo vencedor daquele ano, a segunda partida da final acabou sendo paralisada após a queda do alambrado do Estádio São Januário e um terceiro jogo acabou sendo disputado no Maracanã, somente após o retorno das férias dos jogadores, no ano seguinte, quando os times já não eram os mesmos, e o Vasco venceu o fortíssimo São Caetano (SP).

Na primeira década deste século, mais uma polêmica surgiu quando o São Paulo conquistou seu quinto título, em 2007. Isso porque a CBF havia prometido entregar uma tal Taça das Bolinhas ao primeiro clube brasileiro a se tornar pentacampeão nacional.

Foi o suficiente para que o Rubro-Negro Carioca impedisse a honraria e entrasse com uma série de ações judiciais para ficar com o troféu, alegando que completou o feito em 1992, já que considerava ser o vencedor da tumultuada edição de 1987. A posse segue sem destino definido, pois uma liminar obtida pelo Flamengo em 2020 na Justiça do Rio de Janeiro, e até hoje vigente, impede que a taça fique com o Tricolor Paulista.

Se já não havia problemas suficientes, eis que a CBF, em dezembro de 2010, passou a considerar como válidos os campeonatos disputados de 1959 a 1970. A decisão da entidade de unificar os títulos brasileiros se baseou em um dossiê produzido pelo jornalista e pesquisador Odir Cunha, a pedido dos seis clubes interessados em mudar a história.

Com o reconhecimento da Taça Brasil (1959 a 1968) receberam títulos o Bahia, o Cruzeiro, o Botafogo, o Palmeiras (dois) e o Santos (cinco). Pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967 a 1970) foram declarados campeões o Palmeiras (duas vezes), o Santos, e o Fluminense. A aberração chegou ao ponto do Alviverde Paulista ser campeão duas vezes em 1967 e Santos e Botafogo serem os campeões do ano seguinte por torneios diferentes, isso porque as competições foram disputadas simultaneamente em 1967 e 1968.

E eis que agora, em 2023, a CBF decidiu reconhecer a Copa dos Campeões Estaduais de 1937, torneio até então desconhecido e criado pela CBD, em 1920. Mas o que a entidade não diz, na verdade, é que, em sua primeira edição, o campeonato foi conquistado pelo Paulistano (SP), que deveria então, pelo mesmo critério, ser o primeiro campeão brasileiro.

Depois, houve edições em 1931, com triunfo do Botafogo disputando apenas um jogo; em 1937, com vitória do Atlético-MG; e em 1967, quando foi vencida pelo Bangu, o que geraria um fato insólito nas estatísticas. Passaríamos a ter neste ano então inacreditáveis três campeonatos brasileiros, com o Palmeiras vencendo duas vezes (a Taça de Prata e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa) e o clube carioca vencendo o torneio que agora veio à tona.

Não é de se estranhar que haja tanta desconfiança e descrédito sobre a quantidade de títulos contabilizados, em quem foi o primeiro campeão nacional, no real vencedor do torneio de 1987, na definição do primeiro pentacampeão e ainda pairem dúvidas sobre a lisura da disputa que fecharia o século, mas entrou no outro.

Ao admitir, através de uma resolução de agosto deste ano, que a Copa dos Campeões Estaduais, de 1937, se equipara a um Campeonato Brasileiro, a CBF mexe com aquilo que se considera como o patrimônio simbólico mais importante para uma agremiação e sua torcida, que é a conquista e a quantidade de títulos.

A atitude, totalmente aleatória, demonstra mais uma vez a falta de critérios da instituição que vem reescrevendo eternamente e em retrospectiva a história do futebol brasileiro a depender dos interesses políticos do momento e da pressão econômica de alguns dirigentes. Pior que isso, não coloca um ponto final em questões de natureza estatística, o que certamente gerará novos questionamentos no futuro.

Em meio ao caos, oficialmente, de forma correta e justa [ou não], a CBF reconhece para efeitos históricos e estatísticos como válidos:

  • Torneio dos Campeões ou Copa dos Campeões Estaduais (1937),
  • Taça Brasil (1959 a 1968),
  • Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967 a 1970, oficialmente denominado Taça de Prata de 1968 até 1970),
  • Campeonato Nacional de Clubes (1971 e 1974), finalmente com um caráter inclusivo, mas que seguia um projeto de identidade e integração fomentado pela ditadura militar, na esteira da conquista do Tricampeonato Mundial,
  • Copa Brasil (1975–1979),
  • Taça de Ouro (1980–1983),
  • Copa Brasil (1984),
  • Taça de Ouro (1985),
  • Copa Brasil (1986),
  • Copa União (1987), com o Módulo Verde (Troféu João Havelange) e Módulo Amarelo (Troféu Roberto Gomes Pedrosa) e Módulos Azul (Troféu Heleno Nunes, com clubes do Sul e Sudeste) e Branco (Troféu Rubem Moreira, com clubes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste),
  • Copa União (1988),
  • Campeonato Brasileiro (1989-1999),
  • Copa João Havelange (2000),
  • Campeonato Brasileiro (2001-2023), referenciado como "Série A" desde 2003 e corresponde ao atual formato de pontos corridos.

E a gente que lute para entender tamanha confusão...

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