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Tabus, Tretas e Troças

A rivalidade que põe à prova o amor dos apaixonados

Ao unir torcedores de times arquirrivais, o amor sempre vence, mas gera provocações

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Silvio Tudela

12/06/2023 às 9:00 - há XX semanas
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					A rivalidade que põe à prova o amor dos apaixonados
Foto: Acervo/Globo Filmes

Contra todas as provas de seus sentidos, um homem que se ache enamorado declara que ‘eu’ e ‘tu’ são um só, e está preparado para se conduzir como se isso constituísse um fato. A frase, de Sigmund Freud, médico e fundador da Psicanálise, está em sua obra “O Mal-Estar na Civilização” (1929/1930) e revela muito sobre o complexo fenômeno de estar apaixonado, pois sintetiza rapidamente o conceito da unidade utópica de que 1 mais 1 é igual a 1 quando se ama. Mas essa “fusão” pode ser colocada à prova quando entram política, religião e futebol, por exemplo.

Todo namoro passa pelas fases de encantamento, das descobertas de afinidades e das divergências, e pode amadurecer [ou não] para a construção de um projeto de futuro. Nesse período de conhecimento de si e do outro, podem surgir diferentes e opostas visões de mundo em vários aspectos importantíssimos da vida, porém, as disputas tenderão a serem mais lúdicas e praticamente inevitáveis se envolverem futebol e paixão clubística. Basta cada parte torcer para um time diferente e será maior ainda se forem por clubes arquirrivais.

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Isso faz com que os casais enamorados passem por momentos opostos, pois, para que um lado ganhe o outro necessariamente deve perder, e as perturbações acabam se tornando parte da rotina. Imagine a hipótese de um torcedor tricolor assistindo ao Bahia em péssima fase e convivendo diariamente com a alegria de um rubro-negro presenciando o Vitória imbatível e na liderança.

Com certeza, haverá momentos do namoro repletos de piadas, ironias, argumentações e tudo o mais, até porque é fácil se justificar com “é melhor estar em crise na Série A do que estar lutando para sair da Série B” ou “meu time tem mais títulos que o seu” e “esse gostinho você não tem” e etc. E a tensão geralmente aumenta quando chegam os confrontos diretos entre os times e se não houver um empate sem maiores consequências, um dos lados vai estar em êxtase insuportável e o outro em abatimento profundo. Talvez seja um bom motivo para encontrar no outro aquele aconchego carinhoso, mas sem gozações.

Com o passar do tempo e a certeza de que não há rivalidade capaz de causar separação, a convivência pode ficar mais emocionante e engraçada, pois se filhos vierem, cada um tentará “converter” a criança para o seu lado. Ou seja, amar quem torce para o time rival é sempre desafiador e promete muitas histórias curiosas, mas que podem ser vividas com muita descontração e alegria se houver respeito mútuo e bom humor. Exemplos não faltam.

Essa situação, que é muito mais comum do que se imagina, já foi mostrada no filme “O Casamento de Romeu e Julieta”, de 2005, em que o amor floresce entre uma fanática torcedora do Palmeiras e um apaixonadíssimo entusiasta pelo Corinthians. Mas o que é praticamente impossível de acontecer na vida real é o que serve de base para o argumento do filme: uma das partes “ceder” e “fingir” torcer para o adversário. Muitos dirão que essa história só pode acontecer na ficção, pois não há amor do mundo que faça um torcedor mudar de time e ainda mais para o arquirrival.

Sim, trata-se de uma situação praticamente impossível, pois, assim como o amor é algo inexplicável, a paixão por um time também é. E é isso que, de certa forma, constitui a beleza em ser torcedor de um time de futebol, que pode estar perdendo ou ganhando todos os campeonatos que disputa ou passando a pior de todas as suas fases, mas basta um simples triunfo ou uma vitória num confronto direto, por exemplo, para que o sol volte a raiar e traga esperança para os momentos mais difíceis.

Como todo amor é sagrado, chega a ser interessante relembrar o capítulo 13 da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, que é conhecido como o “Hino ao Amor". Nele há duas passagens que talvez nos permitam ludicamente ampliar esse raciocínio de afeto e rivalidade junto ao ser amado. No quarto versículo, o autor diz que “o amor é paciente, é bondoso; não inveja, não se vangloria, não se orgulha” e nisso ele destoa dos amantes rivais, que geralmente adoram se provocar no futebol. Já no sétimo, ele acerta em cheio quando mira na paixão do torcedor pelo seu clube, quando afirma que “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Ou seja, eu te amo, mas o seu time não pode ser melhor e ganhar do meu...


				
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