O dilema de escolher a roupa ou a cor que o torcedor brasileiro vai usar nesta edição da Copa do Mundo ganhou novos contornos. Isso porque há milhões de pessoas que não concordam com a apropriação das cores da bandeira e da camisa amarela da Seleção Brasileira por determinados grupos políticos. Não são poucos os que dizem ter tomado desgosto com a camisa canarinho e que perderam a vontade de torcer pelo Brasil em plena Copa.
Em agosto, a Confederação Brasileira de Futebol lançou o uniforme oficial com desenhos inspirados na garra e na beleza da onça. Mas a intensa polarização e a mistura de significados que a amarelinha ganhou nos últimos anos, fez a CBF lançar uma campanha institucional com o objetivo de promover a camisa da Seleção Brasileira para desvincular a sua imagem do conturbado cenário político.
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A entidade preferiu fazer isso cautelosamente com a máxima proximidade do Mundial após ter se convencido de que não adiantaria mexer com esse vespeiro durante o processo eleitoral, para não criar ou aumentar a antipatia ao time.
Em seu histórico, a Seleção Brasileira nem sempre foi representada pelas cores atuais. Durante muito tempo, a equipe entrava em campo totalmente de branco, como forma de embranquecer os mestiços e negros do time, numa atitude considerada pelos estudiosos como uma expressão do racismo estrutural da época.
Com a trágica derrota para o Uruguai, em pleno Maracanã, em 1950, o uniforme foi associado à falta de sorte e começou aos poucos a ser abandonado para apagar o trauma do Maracanazzo. Um concurso foi realizado para definir o novo uniforme e as duas principais cores da nossa bandeira venceram e estrearam em Copas do Mundo, na edição de 1954. Apesar da mudança, o Brasil caiu nas Quartas de Final em um embate contra a Hungria.
Em 1958, o Brasil ergueu pela primeira vez a Taça Jules Rimet de camisa azul, pois a adversária na final, a anfitriã Suécia, entrou com seu uniforme oficial amarelo. Conta-se que Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na competição, apelou para a fé em Nossa Senhora Aparecida com o objetivo de animar os jogadores, dizendo que havia tido um sonho em que via o time sendo campeão com a cor do manto sagrado da Padroeira do Brasil.
De toda forma, a camisa verde-amarela, como a conhecemos, se consagrou apenas em 1962, quando o Brasil foi bicampeão contra a Tchecoslováquia, no Chile, e foi se tornando cada vez mais emblemática no decorrer de todas as conquistas que vieram depois, no México (1970), nos Estados Unidos (1994) e no Japão & Coreia do Sul (2002). Foi a partir desses importantíssimos títulos que o uniforme virou um símbolo de patriotismo e a representação material do orgulho nacional.
Apesar da conturbada cena política entre os que não querem ser vistos como partidários de um lado ou de outro, os que buscam um modelo oficial para torcer nesta Copa parecem estar optando pela combinação de azul e branco.
A Nike, fornecedora oficial do uniforme, não revela números, mas diz que a camisa azul caiu no gosto do brasileiro e está com um ritmo de saída bem acelerado e justifica que a amarela tem uma curva de vendas positiva e esperada, embora vendedores ambulantes nas ruas afirmem que a versão tradicional está estagnada e começa a desbotar.
Enquanto a amarelinha segue seu calvário e busca resgatar a sua hegemonia, surgem camisas alternativas, com modelos em outras cores e até com escudos sem ligação com o futebol. De um jeito ou de outro, parece que o brasileiro deseja recuperar os símbolos nacionais para todos e, talvez, a Copa do Mundo possa contribuir com a esperada pacificação
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Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
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