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TABUS, TRETAS E TROÇAS COM SÍLVIO TUDELA

Conquista do Hexa pede reconexão com a história

Seleção Brasileira precisa de uma nova mentalidade para voltar a vencer

Sílvio Tudela • 02/01/2023 às 9:00 - há XX semanas

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					Conquista do Hexa pede reconexão com a história
Foto: Reprodução

O Brasil igualou seu maior jejum de títulos (24 anos) na Copa do Mundo desde que foi campeão pela primeira vez, e vai precisar vencer se não quiser aumentar este período de seca e igualar os 28 anos entre 1930 e 1958, mesmo com dois Mundiais (1942 e 1946) não acontecendo por causa da Segunda Grande Guerra.

O fato é que, pelos critérios de desempate (invencibilidade, tentos assinalados e saldo de gols), a Seleção Brasileira terminou o Mundial do Qatar na sétima colocação, seu pior resultado em Copas desde 1990, quando foi eliminada nas Oitavas de Final pela Argentina e encerrou na nona posição. Só não foi mais frustrante que em 1934 e 1966.

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Mas o que fazer para conquistar o sexto título mundial? Dirigentes, treinadores, ex-jogadores, comentaristas esportivos e torcedores vêm se debruçando sobre o que é preciso fazer para superar a enorme soberba e a falta de competência que se abatem sobre a Seleção Brasileira desde 2006.

Nem mesmo o vexame do 7 a 1 foi capaz de nos tirar do berço esplêndido e nos devolver às origens, acabando com a teimosia dos técnicos, ostentação dos jogadores e falta de foco no resultado. A verdade é que temos menos de quatro anos para mudar tudo ou ficaremos mais algumas décadas assistindo a outros países sendo campeões do mundo.

Nossos dilemas:

  • · Não há, atualmente, nenhum treinador brasileiro acima da média e com total independência para enfrentar a complexa teia de interesses no business esportivo e muita resistência com a possibilidade de termos um treinador estrangeiro.
  • · Apesar de contar com uma safra dos melhores jogadores do mundo, o Brasil não conta com um time, com um padrão de jogo criativo e fincado em nossa identidade. Não há cola que possa unir tantas estrelas sem um objetivo técnico ou tático definidos e apenas repetindo confortavelmente o que os jogadores já fazem em seus clubes.
  • · Os negócios em torno da Seleção Brasileira criaram uma panelinha de jogadores com cadeira cativa, por influência de empresários, patrocinadores e interesses pessoais de ex-atletas e treinadores.
  • · Se não há liderança no comando, em campo a falta dela tem sido mais escancarada. As últimas três Copas do Mundo já deixaram claro que Neymar Jr. e seus parças parecem viver mais da vaidade e do narcisismo excessivos do que preocupados com o coletivo. Isso em nada pode ajudar na reformulação da Seleção Brasileira.
  • · Parece haver entre os convocados uma subversão da ordem: ganhar seguidores passou a ser mais importante do que ganhar os jogos e conquistar o título.
  • · A mídia ufanista também tem sua responsabilidade ao trazer para o centro do noticiário discussões irrelevantes acerca da cor e do corte do cabelo, do botox, dos brincos, das roupas, dos relógios e das dancinhas.
  • · Não se discute com seriedade o ultrapassado e improdutivo modelo das arrastadas eliminatórias sul-americanas, com 18 partidas de ida e volta com adversários geralmente muito fracos. O aperto no calendário impede a realização de amistosos com seleções europeias, africanas e asiáticas, o que torna o teste praticamente impossível antes do Mundial.
  • · Não há por parte da comissão técnica e da própria CBF alguma estratégia que recrie a histórica conexão entre a Seleção com o povo brasileiro.
  • · O futebol verde e amarelo está, cada vez mais, se distanciando de sua imensa torcida e dos admiradores pelo mundo afora, pois praticamente só são convocados atletas de clubes de primeira grandeza mundial e que atuam desde muito jovens na Europa. Alguns foram “abduzidos” na base e até têm sotaque estrangeiro.
  • · Com todos esses fatores colocados, reconhece-se, até inconscientemente, que o futebol praticado na Europa é superior ao jogado no Brasil e cai por terra o mito que a Seleção Brasileira só perde para si mesma, como se não houvesse a vitória adversária, mas apenas a nossa derrota.
  • · O torcedor brasileiro que vai à Copa do Mundo é desabituado à cultura da arquibancada, não tem um grito de guerra ou refrão que fale com a alma do time que joga e, pior, ainda silencia quando o time mais precisa. Parecem as velhas torcidas uniformizadas dos clubes, que se fantasiavam de torcedores. No Qatar tivemos um artificial Movimento Verde e Amarelo nos estádios, diferentemente dos argentinos e marroquinos.
  • · O fenômeno da elitização vem desde 2014, quando poucos afortunados tiveram condições de comprar os ingressos absurdamente caros nas arenas da Copa do Mundo. Não há mobilização para loucuras comuns entre os clubes que levem o brasileiro a ir para uma viagem tão onerosa para assistir a um time sem alma.
  • · Enquanto isso, por aqui, vemos a transformação do jogo em um negócio organizado por gestores e a naturalização com que se fala das SAFs. Ainda saberemos se teremos mais sucesso com CEOs interessados apenas no lucro e distantes dos afetos e identidades que fizeram dos clubes verdadeiras instituições sociais.

Ao constatar que o futebol é fundador da identidade naciona, que precisa voltar a ser popularizado e não elitizado para brigar com raça e coragem por títulos, é preciso talvez começar tudo de novo.

É urgente que tenhamos ingressos a preços acessíveis a todos, mais investimento na base para formar craques que fiquem o máximo de tempo por aqui e que, sobretudo, entendam e respeitem a filosofia do futebol que o Brasil reinventou, com música e dança, misturando técnica apurada, alegria e orgulho por vestir o símbolo deste país, de forma corajosa e coletivamente.

É possível sim se reconectar com o que fomos um dia, exibindo com maestria e respeitando o que somos culturalmente e não imitando o que se faz na Europa e que vem nos derrotando.

O futebol brasileiro é, apesar de suas inúmeras contradições, um espaço de resistência que ainda pode encantar, emocionar e fazer sonhar. Que os pessimistas como eu, após mais esta frustração, estejamos errados.


				
					Conquista do Hexa pede reconexão com a história

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Imagem ilustrativa da coluna Tabus, tretas e troças com Sílvio Tudela
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