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Tabus, Tretas e Troças

Dois de Julho: após 200 anos, técnicos lusitanos invadem o Brasil

História do futebol português, experiência no futebol europeu e familiaridade com os brasileiros podem explicar sucesso dos treinadores entre nós

Silvio Tudela • 26/06/2023 às 9:00 - há XX semanas

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					Dois de Julho: após 200 anos, técnicos lusitanos invadem o Brasil
Foto: Reprodução / TV Globo

Se há 200 anos, os colonizadores portugueses eram expulsos de nosso país ao fim da guerra da Independência do Brasil na Bahia, no histórico e épico Dois de Julho, cessados os conflitos entre Colônia e Metrópole. Atualmente há uma verdadeira obsessão em trazer para cá, os treinadores de futebol de além-mar.

O fenômeno praticamente virou moda desde que Jorge Jesus assumiu o comando do Flamengo e levou o Rubro-Negro Carioca ao topo da Libertadores da América em 2019, após longos 38 anos. E despediu-se do time com a incrível marca de cinco títulos e apenas quatro derrotas em pouco mais de um ano de trabalho.

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A Onda Lusitana se consolidou com a chegada de Abel Ferreira ao Palmeiras, que conduziu o time paulista, em apenas três meses de trabalho, ao bicampeonato continental em 2020, após 21 anos do primeiro triunfo; e ao tricampeonato, em 2021. Ao todo, o treinador soma oito títulos na equipe e ganhou todos os campeonatos que disputou, à exceção do Mundial de Clubes, taça que o time não tem.

Além de entrarem na galeria dos técnicos mais vencedores na história desses clubes, os quais se revezaram em triunfos nos últimos cinco anos, o sucesso de Jorge Jesus e de Abel Ferreira fez com que os dirigentes dos times brasileiros passassem a prestar mais atenção nos treinadores lusitanos. Há exemplos recentes de sobra e motivos que justificam essa preferência.

Quem também vem se destacando é o português Luís Castro, técnico do Botafogo desde março de 2022. Atual líder do Campeonato Brasileiro, o time tem uma campanha tão eficaz que mantém a ponta da tabela com qualquer resultado - mesmo tendo enfrentado o vice-líder Palmeiras, ontem, na primeira final antecipada do torneio. O jogo confrontou os primeiros colocados e ambos sob o comando de técnicos portugueses.

O Fogão garantiu a posição de líder inalcançável no meio da semana vencendo de forma sofrida o Cuiabá, que é treinado pelo jovem técnico português António Oliveira e que em poucos meses, depois de deixar o clube, foi recontratado e assumiu a vaga deixada pelo compatriota Ivo Vieira. Foi Ivo, incluse, que levou o time ao título do Campeonato Mato-Grossense em 2023.

Vale lembrar ainda que o atual campeão brasileiro perdeu sua invencibilidade na Série A do Campeonato Brasileiro 2023, na Fonte Nova, no meio da semana, Do outro lado do campo estava o Bahia, que é comandado também, ora vejam, por um português.

Campeão do torneio estadual deste ano, Renato Paiva conseguiu pacientemente parar o Alviverde Paulista e conseguir a vitória nos acréscimos, quebrando um tabu de 35 anos, pois desde 1988, quando conquistou o título nacional, o Bahia não vencia o Palmeiras como mandante. O Tricolor Baiano não vencia os palmeirenses desde julho de 2012.

Quem se deu bem na rodada do meio de semana foi Pedro Caixinha que, treinando o Red Bull Bragantino, goleou o poderoso Flamengo por 4 a 0 e quebrou a sequência invicta de 10 jogos do técnico argentino Jorge Sampaoli. O resultado deixou o time do interior paulista à frente de grandes adversários estaduais como Santos e Corinthians e na primeira metade da tabela.

Outro técnico português que desembarcou neste ano em terras brasileiras é Pedro Miguel Marques da Costa Filipe. Apelidado como Pepa Guardiola Vin Diesel, o treinador é a aposta do Cruzeiro para fazer um bom campeonato, retomar as glórias do passado e apagar as más lembranças dos mais de 1000 dias entre a queda para a Série B (temporadas 2020, 2021 e 2022) e o retorno para a elite nacional.


				
					Dois de Julho: após 200 anos, técnicos lusitanos invadem o Brasil
Foto: Cesar Greco (Palmeiras)

Por que tanto sucesso dos treinadores portugueses?

Mas por que os técnicos lusitanos vêm fazendo tanto sucesso no país pentacampeão mundial, se a seleção portuguesa conquistou apenas um único título da Eurocopa (2016) e da Liga das Nações (2018-2019), e tem como melhores resultados o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1966 e três quartos lugares nos Jogos Olímpicos (1928, 1996 e 2014)?

Em termos clubísticos, os resultados também não são de encher os olhos pois, em mais de 120 anos de história, as equipes nacionais conquistaram quatro títulos da Champions League, divididos igualmente entre Benfica e Porto, e dois títulos intercontinentais com o Porto (1987 e 2004) e dois vices com o Benfica (1961 e 1962).

A história do futebol lusitano talvez tenha muito a contribuir para a explicação dessa exaltação de seus técnicos pelo mundo e recentemente também no Brasil. Durante várias décadas, a seleção nacional portuguesa não se credenciou como candidata a vencer títulos, mas o time evoluiu e vem sendo personagem constante em quase todas as fases finais de grandes torneios desde o início do Século XXI.

Isso também é fruto da presença na equipe de vários jogadores talentosos, incluindo dois vencedores da desejada Bola de Ouro, como Luís Figo (2000) e Cristiano Ronaldo (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017), e da aposta dos três grandes clubes portugueses (Benfica, Porto e Sporting) na formação de atletas. Pode-se dizer também que a seleção portuguesa apresenta algumas características latinas, assemelhadas ao futebol que é apresentado pela Espanha, Brasil e Argentina, com um ritmo baseado na posse de bola, criatividade, habilidade e talento individual, em detrimento da extrema força física ou rigidez tática de outras seleções europeias.

Com todo esse histórico e aprendizado em mãos, muitos técnicos portugueses também foram atletas e depois treinadores com passagens pelos fortíssimos campeonatos nacionais e continentais da Europa. O fato de alguns terem treinado clubes e seleções de vários continentes pode ter dado a eles muita bagagem e jogo de cintura. E tudo ainda acaba sendo facilitado no Brasil, cuja cultura lusitana continua muito forte entre nós pela história interligada, costumes comuns e a mesma língua compartilhada.

Apesar de nem todos terem sido bem sucedidos por aqui, por fim, o mesmo Atlântico que nos separa sempre acaba por nos unir e faz renascer sentimentos de atração e rejeição por Portugal e seus filhos. Além desses, outros técnicos portugueses já treinaram times brasileiros no passado e também imprimiram suas marcas, mas esta é outra história.


				
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Imagem ilustrativa da coluna Tabus, tretas e troças com Sílvio Tudela
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