Maior vencedor estadual (quatro conquistas), brasileiro (cinco triunfos) e sul-americano (quatro títulos) de futebol feminino, o Corinthians é agora tricampeão da Supercopa Feminina do Brasil. Após uma partida bastante equilibrada contra o Cruzeiro, as Brabas seguraram o placar de 1 a 0 construído com Duda Sampaio no início do segundo tempo e venceram as Cabulosas, que tiveram dois gols corretamente anulados pelo VAR, um por impedimento e outro por toque de mão.
A festa alvinegra ocorreu diante de 33.424 pessoas (33.175 torcedores e 249 profissionais de imprensa), na Neo Química Arena, em São Paulo. Foi o maior público da história da Supercopa Feminina, que está em sua terceira edição com total hegemonia das Brabas.
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Mas o que chamou muita atenção no decorrer do torneio foi o desabafo enfático da atacante alvinegra Gabi Portilho sobre a organização da Supercopa do Brasil, após a vitória do Corinthians por 2 a 0 sobre a Ferroviária em seu estádio, na semifinal, num jogo marcado para as 16 horas num dia de semana.
“O futebol feminino não é um favor. Eu acho que hoje, um jogo como esse, em que a rivalidade é muito grande, poderia ter sido num [horário] um pouco mais tarde para lotar a Neo Química Arena. Porque quando a gente bate recorde, não é [somente] o Corinthians que bate o recorde, é o futebol feminino brasileiro”, disse.
“As coisas não podem ser como estão acontecendo, e isso vem sendo vergonhoso. E eu acho que o Corinthians é gigante. Se quiser, eu dou até uma água para não terem que engolir a gente a seco. Está triste tudo que a gente está vivendo”, prosseguiu.
Outra atleta que mereceu destaque e não somente pelo seu talento espetacular foi a cruzeirense Byanca Brasil, que mostrou maturidade e personalidade após a final. Em entrevista, destacou a oportunidade do Cruzeiro jogar uma final transmitida pela TV Globo, elogiou o projeto que vem sendo desenvolvido no seu clube e o apoio que
Ronaldo Fenômeno e os patrocinadores estão oferecendo ao futebol feminino do time mineiro. Além de demonstrar fair play, elogiou a torcida adversária presente, expressou esperança de que um dia a torcida cruzeirense fará o mesmo e ratificou as palavras da atleta corintiana na semifinal: “O futebol feminino não é um favor e Gabi Portilho foi muito feliz quando disse isso; que ele tenha mais visibilidade e apoio, de verdade, porque a gente não está pedindo; a gente merece isso!”
Dia do Futebol Feminino e homenagem à Rainha Marta
Apesar de todo o crescimento do futebol feminino, com o aumento da competitividade dentro do país, expansão de patrocínios, estruturação do marketing e do investimento financeiro, a reclamação de Gabi Portilho faz muto sentido, pois a modalidade ainda luta para ser valorizada e conquistar maior importância no Brasil. Poucas são as iniciativas que prestigiam o esporte para além dos estádios e uma delas partiu da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que instituiu o 19 de fevereiro como Dia do Futebol Feminino no calendário oficial do estado. A data foi escolhida por coincidir com o aniversário de Marta Vieira da Silva e para homenagear a maior jogadora brasileira de todos os tempos.
Com 38 anos completados hoje, a eterna Camisa 10 da Seleção Brasileira já foi escolhida como melhor futebolista do mundo por seis vezes a depender da nomenclatura do prêmio, o que é um recorde não apenas entre mulheres, mas também entre homens. Atuando como ponta-esquerda ou meio-campista, Marta é também a maior artilheira de Copas do Mundo com 17 gols (entre homens e mulheres), superando por um tento o jogador Miroslav Klose (Alemanha), sendo também a primeira pessoa a marcar em cinco edições diferentes do torneio (considerando homens e mulheres).
Segundo a FIFA, Marta, que é atual jogadora do Orlando Pride, dos Estados Unidos, é a maior artilheira da história da Seleção Brasileira (contando a masculina e a feminina), com 116 gols (segundo a Wikipedia), deixando para trás Neymar Júnior (79) e o Rei Pelé (77 contabilizados oficialmente pela FIFA, embora a CBF reconheça 95 gols). Apesar de não ter subido ao pódio mais alto na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, a Rainha Marta conquistou, com a Seleção Brasileira, a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2003 e 2007, a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2004 e 2008, e o vice-campeonato mundial em 2007.
A última consagração da atleta aconteceu em janeiro deste ano, durante o FIFA The Best, quando a entidade máxima do esporte revelou a criação do Prêmio Marta para a autora do gol mais bonito do mundo no futebol feminino, semelhante ao Prêmio Puskas, de melhor gol do ano. Com esta honraria, Marta é a primeira esportista, entre homens e mulheres, a receber uma homenagem semelhante em vida.
Como a Seleção Brasileira de futebol masculino conseguiu a proeza de ficar fora dos representantes sul-americanos nos Jogos de Paris, teremos, quem sabe, mais força para vibrar pela equipe feminina nos estádios franceses e talvez uma última chance de ver a Rainha Marta defendendo a camisa verde e amarela e finalmente trazer o ouro olímpico que nosso futebol feminino e ela tanto merecem.
Silvio Tudela
Silvio Tudela
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