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Tabus, Tretas e Troças

Ora direis ouvir estrelas e o Vitória tem uma para chamar de sua!

Mais que imortalizar uma conquista histórica, o rubro-negro baiano busca encerrar o histórico de provocações frente a seu principal adversário

Silvio Tudela • 25/12/2023 às 9:00 - há XX semanas

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É Natal e um dos símbolos mais universais desta data é a estrela brilhando no ponto mais alto do céu. Com múltiplos significados, a imagem remete a momentos de extrema graça, glórias que devem ser eternizadas e relembradas para sempre, assim como grandes milagres. E como quase tudo neste mundo consumista, o maior símbolo do nascimento de Jesus Cristo também foi importado pelo universo do futebol e une-se aos escudos, uns dos maiores patrimônios dos clubes, para imortalizar grandes conquistas.


				
					Ora direis ouvir estrelas e o Vitória tem uma para chamar de sua!
Estrela em referência ao título da Série B. Foto: Divulgação/ECV

Com direito a muita reflexão e debate entre torcedores e provocação maliciosa dos adversários, o que já se espera para o início de 2024 é que o Vitória apresente finalmente uma estrela acima do seu escudo, por ter conquistado o título da Série B do Campeonato Brasileiro de 2023. A decisão de colocar o símbolo foi tomada após uma votação interna entre os mais de 32 mil sócios do clube, na qual 87% dos eleitores disseram "sim" à inclusão da estrela que representa a primeira conquista nacional do clube em 124 anos de história.

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A atitude não é inédita e, com esta ação, o rubro-negro baiano torna-se o 17º time a colocar este símbolo no seu escudo entre os 35 clubes diferentes que já foram campeões da Série B. Mais que imortalizar essa conquista histórica, marcada por muita superação, o Vitória encerra o histórico de provocações frente a seus adversários pelo fato de não ter um campeonato nacional.

A inclusão da estrela pode ser questionável principalmente para os principais torcedores do clube rival, mas o Vitória tem todo o direito de exibir este ícone até porque, após sucessivos fracassos desde o seu rebaixamento em 2018, o time saiu do fundo do poço no Z4 da Série C, em meados do ano passado, para a elite do futebol brasileiro em menos de um ano e meio.


				
					Ora direis ouvir estrelas e o Vitória tem uma para chamar de sua!
Vitória foi campeão da Série B. Foto: Victor Ferreira/ECV

Num “plot twist” que nem os mais crédulos torcedores apostavam, o Vitória afastou o risco de apequenamento que o rondava e tem selado o destino de diversos clubes que caem, e renasceu nos braços da torcida para voltar à Série A, como campeão indiscutível.

As crises que atingiram o clube baiano nos últimos anos não se restringiram somente aos resultados em campo e na tabela de classificação, pois envolveram muito bate-boca nos bastidores, denúncias de irregularidades na administração, queda de dirigentes, ascensão e eleição de interino, tentativa de renúncia do presidente atual por ameaças aos seus familiares e muita descrença por parte dos torcedores.

Toda essa desconfiança mantinha relação com as frustrações nos gramados. Só para se ter uma ideia do drama, o Vitória caiu na primeira fase de todos os Campeonatos Baianos disputados de 2019 a 2023, manteve-se aos trancos e barrancos na Série B e, por fim, caiu para a Série C em 2021. No ano seguinte, o rubro-negro baiano manteve-se sempre distante das primeiras posições e chegou a figurar na zona de rebaixamento para a Série D.

Em junho de 2022, o time possuía apenas 2,6% de chance de classificação para a segunda fase da Série C e tinha 51% de risco de rebaixamento para a Quarta Divisão, o que anunciava uma nova tragédia. Mas uma combinação improvável de resultados - somada a muita garra do time em campo e fé da torcida - mudou o destino da equipe e culminou em um acesso para a Série B, o que parecia improvável meses antes. Quando tudo demonstrava ares de tranquilidade neste ano de 2023, o clube novamente largou mal na temporada, sendo precocemente desclassificado no Estadual, Copa do Nordeste e Copa do Brasil, mas deu a volta por cima, conseguiu o acesso à Série A e conquistou o seu primeiro título nacional.


				
					Ora direis ouvir estrelas e o Vitória tem uma para chamar de sua!
Portão do Barradão com estrela em referência ao título da Série B. Foto: Tiago Reis

O uso das estrelas nos escudos, uniformes e comunicações oficiais não tem um significado único e uma regulamentação entre os times de futebol no Brasil, cada um usando da forma que melhor lhe convier. Em sua maioria, os clubes as utilizam para lembrar grandes títulos conquistados, mas há referências à data de fundação e até mesmo alusão a homenagens a atletas de outros esportes. Para aumentar a confusão, alguns times colocam estrelas em seus uniformes num ano e as retiram no outro, sem prestar explicações ao torcedor nem justificar o motivo em seus estatutos.

A falta de critérios que existe no Brasil é muito diferente do que ocorre na Itália, para se ter uma ideia. Lá, por exemplo, as equipes só podem exibir uma “estrela dourada” acima dos escudos quando conquistam dez campeonatos nacionais – honraria alcançada por apenas três clubes até hoje: Internazionale (19 títulos), Milan (19 triunfos) e Juventus (36 conquistas), o único autorizado a usar três estrelas.

Ainda sobre o Brasil, há clubes que usam uma ou diversas estrelas sem referência a títulos, como é o caso do Botafogo e Cruzeiro; outros que polemizam com títulos não reconhecidos, como o Palmeiras; e outros que resolveram eliminar todas as existentes para evitar se transformar em uma constelação, fixando sua identidade apenas no escudo, como o Corinthians.

E como já disse o poeta Olavo Bilac, ao abrir o poema Via Láctea: “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo / Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, / Que, para ouvi-las, muita vez desperto / E abro as janelas, pálido de espanto…”, para finalizar com uma bela declaração: “E eu vos direi: “Amai para entendê-las! / Pois só quem ama pode ter ouvido / Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Imagem ilustrativa da coluna Tabus, tretas e troças com Sílvio Tudela
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