O Flamengo perdeu para o Paris Saint-Germain (PSG) e, mais uma vez, o sonho de mais um título mundial ficou pelo caminho. Foi uma decisão dramática, como o futebol gosta de construir: gol anulado, empate que resistiu até a prorrogação e uma disputa de pênaltis marcada pelo brilho do goleiro russo Matvei Safonov e pelo colapso rubro-negro, que desperdiçou inacreditáveis quatro cobranças.

O PSG, frio e cirúrgico, coroou uma temporada perfeita com seu primeiro título mundial e também se tornou o primeiro clube francês a conquistar essa honraria.
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Sob o comando do treinador Luis Enrique, o clube viveu a campanha mais vitoriosa de sua trajetória de 55 anos, sendo campeão do Campeonato Francês (Ligue 1), da Copa da França, da Supercopa da França, da Champions League, da Supercopa da UEFA e da Copa Intercontinental, sendo ainda o vice-campeão da Copa do Mundo de Clubes da FIFA.
O Flamengo, do jovem treinador Filipe Luís, também viveu um ano mágico, vencendo o Campeonato Carioca, a Supercopa do Brasil, o Campeonato Brasileiro e a Libertadores da América. Somente no apagar das luzes da temporada é que saiu de campo com mais uma frustração internacional no currículo. O baque foi tão grande que, já passados vários dias após a derrota para o PSG, o perfil do Flamengo ficou silenciado e paralisado no jogo da semifinal contra o Pyramids, do Egito, sem nenhuma menção ao que ocorreu na final.
Tristeza na Gávea, alegria no Brasil
Mas a derrota na final da Copa Intercontinental e o vice-campeonato não provocaram um luto nacional. Longe disso. Diferentemente do discurso ensaiado pela mídia de que “clubes brasileiros representam o país” em competições internacionais, a derrota do Flamengo foi celebrada, em silêncio ou em gargalhadas, por uma parcela enorme da torcida nas redes sociais e no perfil do próprio PSG, no qual o goleiro russo foi tratado como herói brasileiro nos comentários. Para muitos, talvez a grande maioria, o Rubro-Negro não era o Brasil naquele jogo. Era apenas o Flamengo. E isso muda tudo.
No próprio Rio de Janeiro, a perda do título foi recebida com um certo gosto de vingança esportiva. O Botafogo, derrotado no mesmo torneio em 2024, ao menos guarda o argumento de ter vencido o poderoso PSG na primeira fase da Copa do Mundo de Clubes deste ano. O Fluminense, vice mundial em 2023, chegou às semifinais do torneio disputado nos Estados Unidos em 2025 e viu o rival cair antes de alcançar o que lhe escapou. O Vasco, que não disputa um Mundial desde 2000, também sorriu; afinal doeria muito ver o Flamengo levantar uma taça global.
Em São Paulo, o cenário foi ainda mais explícito. O Santos, bicampeão mundial, não queria dividir o ranking com o time carioca. O Corinthians, último campeão mundial não europeu, preservou seu lugar histórico desde 2012. O São Paulo, tricampeão, observa com atenção e desconfiança a presença constante do Flamengo em decisões internacionais nos últimos anos. E o Palmeiras, protagonista de uma das rivalidades nacionais mais intensas da atualidade, viu o rival tropeçar novamente em um torneio em que segue sendo motivo de eterna piada.
Seis clubes brasileiros já conquistaram o Mundial de Clubes em seus diversos formatos e nomenclaturas: Santos (1962 e 1963), São Paulo (1992, 1993 e 2005), Corinthians (2000 e 2012), Grêmio (1983), Internacional (2006) e Flamengo (1981). Esse clube fechado explica muito do sentimento que circulou fora da Gávea. Um novo título rubro-negro mexeria no equilíbrio simbólico desse panteão. Aproximaria o Flamengo de uns, ultrapassaria outros e ameaçaria hegemonias que sustentam décadas de identidade e provocação.
Por isso, o Flamengo entrou em campo contra o PSG carregando mais do que a pressão do adversário e a frieza de um goleiro inspirado. Enfrentou também uma energia contrária gigantesca, espalhada pelo país. Um peso invisível, mas real. O clubismo, nessas horas, fala mais alto do que qualquer ideia abstrata de “representar o Brasil”.
Todo esse cenário mostra que o futebol brasileiro é movido a pertencimento, não a bandeiras. Torce-se contra o rival mesmo que ele vista verde e amarelo fora de casa. E isso não é hipocrisia: é a essência do jogo por aqui. O Flamengo não perdeu sozinho para o PSG. Perdeu também para o contexto, para a história, para o incômodo que provoca quando se aproxima demais do topo.
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