Os poucos privilegiados que terão a oportunidade de ir ao Qatar para a Copa do Mundo 2022 devem ter em mente que encontrarão um país completamente diferente nos costumes, e que situações corriqueiras em nossa sociedade podem ser consideradas como um crime por lá.
Quanto aos milhões de brasileiros que assistirão ao Mundial, em televisores e plataformas de streamings, uma coisa é certa: pelo andar da carruagem, será muito difícil ver aquelas festas espontâneas nas ruas, com pessoas festejando, dançando, sensualizando, exibindo seus corpos e hábitos como beber ou fumar, ou ainda demonstrando algum carinho, seja heteronormativo ou homoafetivo, em público. Se em tantas outras edições da Copa, a transmissão mostrava a famosa "câmera do beijo" entre casais nas arquibancadas, pode ter certeza que isso dificilmente acontecerá.
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Apesar da organização do evento ter feito várias negociações com as autoridades locais, em relação à política de costumes, só será mesmo possível saber o que pode e o que não pode com a bola rolando, quando milhões de turistas já estiverem no Oriente Médio. Nos poucos dias que faltam para abertura do evento, a Fifa segue analisando até mesmo se será permitida a venda de bebidas alcoólicas nos estádios e a possibilidade de criar lugares exclusivos para abrigar os torcedores que passarem da conta.
Pelas leis do país, o consumo de bebidas alcoólicas não é permitido em nenhuma hipótese em lugares públicos e há poucos espaços “liberados”, como cerca de 35 hotéis e restaurantes internacionais e apenas para maiores de 21 anos. Furar a lei pode resultar em multas ou até prisão. Também é proibido fumar em qualquer espaço público, independentemente de ser aberto ou fechado.
Roupas curtas que mostram demais o corpo, como shorts ou bermudas muito pequenas ou camisetas regatas, não são recomendadas, mesmo com os mais de 40ºC. Mulheres são orientadas a usar vestes que cubram os ombros e os joelhos. E nas cidades litorâneas, o código de vestuário permite que se use, nas praias públicas, biquíni ou maiô, desde que “comportados”.
Não é permitido fotografar ou filmar pessoas em lugares públicos, principalmente locais religiosos, militares e governamentais, sem autorização. A publicação de materiais considerados ofensivos, inclusive em redes sociais, pode ocasionar punição. E até mesmo os jornalistas precisarão ter licença para captar imagens.
Demonstrar afeto em público pode ser muito perigoso. Abraçar, apertar as mãos e beijar não são permitidos e qualquer intimidade entre homens e mulheres, inclusive adolescentes, pode levar à prisão. Um possível encontro sexual fora do casamento pode acarretar uma pena de até sete anos de cadeia.
Pior ainda será produzir campanhas, falas ou publicações em prol ou para defender a comunidade LGBTQIAP+, pois a homossexualidade é considerada ilegal pelo Código Penal do Qatar. O comportamento homossexual para homens e mulheres prevê, como pena máxima, até o apedrejamento, que, apesar de validado pelas leis locais, nunca foi usado.
Entrar na seara religiosa é extremamente arriscado. A apostasia (renúncia ou abandono da religião islâmica) é um crime punível com pena de morte. A blasfêmia (enunciado ou palavra que insulta a divindade, a religião ou o que é considerado sagrado) é punível com até sete anos de prisão. O proselitismo (pregação ou catequese) de qualquer religião que não seja o Islamismo pode ser punido com até 10 anos de prisão.
Essa imensa lista de proibições num momento festivo levanta polêmicas desde que a Fifa anunciou o Qatar como sede da Copa do Mundo. No entanto, representantes oficiais do país vêm declarando que os cerca de 2,5 milhões de torcedores de todo o planeta que devem ir para o evento, independentemente de nacionalidade, gênero e orientação sexual, serão bem recebidos por lá e apenas ressaltam que o país tem uma cultura mais conservadora e pedem respeito às normas locais.
No começo deste mês, uma cartilha intitulada "Qatar Welcomes You", com uma série de ações proibidas na Copa do Mundo do Qatar acabou viralizando nas redes sociais, mas a organização do evento desmentiu o documento e afirmou que as informações são falsas. Em comunicado oficial, os organizadores afirmam que o Supremo Comitê para Entrega e Legado, a Copa do Mundo de 2022 e a Fifa vão divulgar um guia extensivo que contesta muitas das informações que estão circulando.
Agora é aguardar para ver o que procede, mas parece que a Copa vai ser mais animada mesmo para quem não for até lá!
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Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
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