Há exatos 29 anos, ao cair da tarde de 17 de julho de 1994, a Seleção Brasileira conquistava seu sonhado Tetracampeonato Mundial. Apesar dos inúmeros méritos daquela equipe, devemos um muito obrigado ao italiano Roberto Baggio, que isolou a última cobrança de pênalti e pôs fim ao jejum de títulos do Brasil, que já durava 24 anos, desde o Tricampeonato em 1970.
O tetra, que parecia nunca vir, acabou chegando ao fim de uma partida muito sofrida, tensa e equilibrada - que só foi decidida após uma prorrogação e penalidades máximas contra a também tricampeã Itália. Tudo aconteceu no estádio Rose Bowl, em Pasadena, nos Estados Unidos, país que coincidentemente será o palco da final da próxima Copa do Mundo. E onde o Brasil poderá igualar o seu maior período de jejum, caso a Seleção conquiste o Hexa, ou infelizmente aumentá-lo em caso de derrota.
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A espera pelos tetracampeonatos tornou-se emblemática, pois os times que alcançaram a façanha também levaram o mesmo período de tempo para sair do Tri ao Tetra, como foi o caso da Itália (de 1982 a 2006) e da Alemanha (de 1990 a 2014): 24 anos.
Entre os fatos marcantes daquela conquista do time comandado por Carlos Alberto Parreira, para ficar apenas nas fases eliminatórias, estão o gol chorado de Bebeto frente aos Estados Unidos, país-sede e que comemorava sua data máxima, o Quatro de Julho, nas Oitavas; a falta histórica cobrada por Branco nas Quartas e que desempatou o dramático jogo contra a Holanda; o inacreditável gol de cabeça de Romário na duríssima Semifinal contra a Suécia; a sensacional defesa de Taffarel na decisão por pênaltis e o inimaginável gol perdido pelo melhor jogador da Azurra na Final; e a redenção de Dunga levantando a taça!
Apesar de muita criticada no período que antecedeu a Copa do Mundo e sofrendo forte pressão dos torcedores e da imprensa pelo jejum de 24 anos, a campanha da Seleção Brasileira em solo norte-americano evidenciou a perfeita harmonia da dupla Romário e Bebeto durante a competição, teve a troca de braçadeira de capitão, que passou de Raí para Dunga, e fez nascer a dupla de zaga (Aldair e Márcio Santos) menos vazada das equipes que conquistaram a Copa pelo Brasil, com apenas três gols sofridos em sete partidas. Além da conquista, a Seleção Brasileira recebeu o Troféu FIFA Fair Play como o time menos faltoso e o prêmio de “equipe mais espetacular” do Mundial. Romário foi considerado o melhor jogador da Copa do Mundo. Foi uma belíssima conquista.
A Copa do Mundo no país do “soccer” também trouxe novidades que vieram pra ficar, como a inclusão obrigatória do nome dos jogadores nas costas das camisas; a mudança de pontuação por vitória, de dois para três pontos na primeira fase; a estreia do carrinho elétrico com maca motorizada, dispositivos de imobilização do paciente, motorista e paramédicos; e a primeira final decidida nos pênaltis. Segundo os cálculos da FIFA e do site Statista, como mostra o GE, foi o Mundial com o maior público de todos os tempos - 3.568.567 – e com a maior média de público da história: 68.626 torcedores por partida.
Pelo lado brasileiro, a Seleção estreou uma nova camisa, com três grandes escudos da CBF estampados em degradê no peito e o tradicional bordado no lado esquerdo; e mostrou ao mundo a comemoração “embala neném”* com Bebeto festejando seu gol contra a Holanda (o segundo da vitória por 3 a 2), homenageando seu filho Matheus, nascido dois dias antes da partida. Os jogadores brasileiros entraram em campo de mãos dadas em todos os jogos da competição, ritual que começou na goleada de 6 a 0 em cima da Bolívia pelas Eliminatórias, no Arruda, em Recife, e que significou a grande virada e a arrancada necessária para a classificação e a conquista do título. Ao final da partida, os jogadores homenagearam Ayrton Senna, que havia morrido tragicamente pouco antes do Mundial, com uma faixa que dizia: “Senna, aceleramos juntos. O Tetra é nosso!”
As transmissões televisas também foram históricas com os incríveis bordões que ficaram imortalizados como o “Acabou! Acabou! É Tetraaaa! É Tetraaaa!”. Além das narrações frenéticas de locutores de TV e de rádio nos Estados Unidos, na partida final, o repórter Tino Marcos (TV Globo) disfarçou-se de auxiliar de câmera, conseguiu driblar o esquema de segurança e entrar em campo, pois o acesso era restrito a cinegrafistas e fotógrafos. Após a disputa por pênaltis, ele foi o único repórter a estar no gramado e a conseguir conversar ao vivo com os jogadores brasileiros.
Você pode rever um pouco dessa história nesse especial sobre o Tetracampeonato!
*Apesar de Bebeto ser associado como o inventor do “embala neném”, a comemoração nasceu com Roberto Rivellino, que fez homenagem à sua filha Roberta, nascida em 1974, numa partida entre Corinthians e Santos.
Silvio Tudela
Silvio Tudela
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