icone de busca
iBahia Portal de notícias
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Dia da Pessoa com Deficiência

Atleta do futebol de amputados fala sobre esporte como ferramenta de autonomia

Aos 11 anos, Luciano da Anunciação Reis, jogador de futebol de amputados perdeu a perna e conta sobre a potência da prática do esporte em sua vida

foto autor

Iamany Santos

21/09/2023 às 9:00 • Atualizada em 21/09/2023 às 15:57 - há XX semanas
Google News iBahia no Google News

				
					Atleta do futebol de amputados fala sobre esporte como ferramenta de autonomia
Foto: Reprodução/Redes sociais/ ABDA

Nesta quinta-feira (21), comemora-se no Brasil o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência (PCD), data que convoca uma reflexão sobre condições iguais de acesso, autonomia e oportunidades. A trajetória de Luciano da Anunciação Reis, jogador de futebol de amputados, que perdeu a perna ainda criança, é um exemplo vivo de vários destes conceitos, apresentando perspectivas ainda socialmente ignoradas.

Foi pensar na acessibilidade para além da simples locomoção que levou Luciano a continuar praticando esporte. Aos 11 anos, ele perdeu a perna enquanto jogava bola em frente de casa.

“Eu estava jogando bola no asfalto em frente a minha casa e um motorista de táxi, que estava bêbado e havia brigado com a esposa, e saiu com com carro desesperado ou apavorado, não sei. Quando eu vi o carro em minha direção eu coloquei uma das pernas em uma escada [perto de casa], mas não consegui colocar a outra e o carro [me atropelou]. No hospital a perna foi infeccionando e precisou ser amputada”, contou Luciano, em entrevista ao iBahia, sobre o acidente que aconteceu em Sussuarana Nova, em 1991, onde morava.

Apesar do medo da mãe, tias e o restante da família, que temeu que Luciano tivesse dificuldades ao longo da vida, ainda criança ele prometeu aos parentes que voltaria a jogar futebol. “Médicos diziam que eu não ia mais jogar bola, [minha família] chorava escondido para que eu não percebesse. Mas eu falei para eles que não chorassem, eu sabia que tinha sido amputado e que iria voltar a jogar com meus amigos no mesmo lugar onde perdi a perna. E foi o que eu fiz”, conta.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Leia também:


				
					Atleta do futebol de amputados fala sobre esporte como ferramenta de autonomia
Luciano da Anunciação Reis, presidente e fundador da Associação Baiana de Desporto Adaptado (ABDA) e jogador do time do Bahia de futebol de amputados. Foto: Reprodução/Redes sociais/ ABDA

Aos poucos ele foi se preparando e testando o uso das muletas para se locomover. “Antes de começar a jogar, andei bastante de muleta, me acostumei, depois comecei a correr, cai bastante e levantei… comecei a chutar a bola devagarinho e voltei para o asfalto. Do asfalto eu fui para o campo”, relata ele.

Para ele, a dificuldade de aceitar a nova realidade, a falta de assistência e o preconceito são fatores que podem sufocar a pessoa com deficiência, que muitas vezes se sente sem expectativas.


				
					Atleta do futebol de amputados fala sobre esporte como ferramenta de autonomia
Foto: Reprodução/Redes sociais/ ABDA

A vontade de praticar o esporte e de mudar o imaginário social quanto às PCD o levou a criar a Associação Baiana de Desporto Adaptado (ABDA), em 2017, em Salvador, na qual desempenha a função de presidente até hoje. Ampliando a noção de acessibilidade para além da simples locomoção, Luciano queria que outras pessoas com deficiência tivessem acesso a experiências ligadas ao lazer e ao esporte.

Jogador de futebol há muitos anos, ele passou por diferentes times brasileiros, tendo competido por clubes em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde chegou a vencer a Copa do Brasil.

Na capital baiana, começou a montar um time de futebol de amputados convidando cada um dos jogadores pessoalmente e os convencendo que, assim como qualquer outra pessoa, eles podiam jogar futebol. “Chamei um por um, mostrando que todos são capazes de jogar bola e comecei a implantar [o futebol de amputados] aqui”, afirma Luciano.

Graças a essa iniciativa, os atletas da associação jogam pelo time de futebol de amputados do Bahia, um dos sonhos de Luciano quando voltou ao estado.

Enquanto uma organização de promoção da prática esportiva para pessoas com deficiência, a ABDA não é unicamente direcionada para esportes de alto rendimento. Para isso, a associação realiza uma série de ações sociais, desde a promoção de eventos, visitas a outras PCD e iniciativas de saúde, quebrando estereótipos aos poucos.

“O mais importante para nós é cuidar da saúde das pessoas. Queremos mostrar que todos podem praticar esporte e trazer uma nova esperança para a pessoa com deficiência. Queria que o esporte fosse uma ferramenta de mudança de vida”, afirmou Luciano.

Ferramenta, autonomia e atividade física


				
					Atleta do futebol de amputados fala sobre esporte como ferramenta de autonomia
Foto: Canva Fotos

Entre o esporte de alto nível e a prática diária de atividades físicas, a PCD pode ter mais saúde e qualidade de vida através de oportunidades para a realização de atividades físicas e dos cuidados com equipamentos essenciais para sua mobilidade - como próteses, cadeiras de rodas, órteses e muletas.

Em um contexto ideal, ambas as dimensões seriam possíveis, mas a falta de acessibilidade e assistência são obstáculos com os quais os PCDs convivem diariamente.

A busca pela autonomia e qualidade de vida passa pelos equipamentos utilizados como ferramenta para a realização de atividades diárias e de lazer. Ao longo da vida, a PCD convive com esses equipamentos, por isso estar atento a como, onde e quando realizar manutenções é importante.


				
					Atleta do futebol de amputados fala sobre esporte como ferramenta de autonomia
Foto: Canva Fotos

Atualmente, tecnologias como a utilização de fibras de carbono vêm ajudando a fortalecer e aumentar o tempo de vida desses equipamentos, mas ter atenção aos desgastes, dores e incômodos com cada um deles é essencial. O médico ortopedista e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Leonardo Rodrigues, afirma que essa questão deve ser bem observada em crianças e adultos.

“Caso a troca não seja feita de forma correta, acaba-se sobrecarregando o culto de amputação, por exemplo, no caso de pacientes amputados, o que leva a formação de espículas ósseas e áreas de pressão. Então, é importante ter muito cuidado com essas próteses, uma vez que essas lesões podem causar feridas”, alerta.

Esse cuidado é um importante passo para que a PCD possa praticar atividades físicas, se locomover com mais segurança e, consequentemente, ter mais saúde. O ortopedista indica ainda que escolher ambientes controlados é a melhor opção para aqueles que querem começar a praticar atividades físicas.

“Minha dica é que, inicialmente, essas atividades sejam realizadas em ambiente fechado como uma esteira de academia, por exemplo. Depois, a [pessoa] pode evoluir para um exercício ao ar livre, de preferência nas orlas marítimas onde há pistas para bicicletas e corridas que são fechadas e geralmente não possuem irregularidades no terreno”, diz Leonardo.

Assistência

Ainda que as políticas de acessibilidade no Brasil não sejam ideais, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece serviços de assistência à pessoa com deficiência, no que diz respeito a acesso a tratamentos e manutenção de equipamentos. Na Bahia, esses serviços podem ser acessados através do Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação da Pessoa com Deficiência (Cepred), com sede na Avenida Antônio Carlos Magalhães, em Salvador.

Dentre os serviços oferecidos pelo órgão estão a reabilitação, acompanhamento, treinamento e a concessão de órteses, próteses e outros meios auxiliares de locomoção. Para ter acesso, é preciso agendar uma teleconsulta via formulário online e fornecer dados para que uma avaliação seja feita. O passo a passo para receber assistência do Cepred está disponível no site do órgão.

“No Brasil, o aumento de pessoas com diabetes levou ao aumento de pessoas amputadas, então precisamos ter um olhar especial para isso. A amputação de um membro não é uma limitação para nada, é um começo para uma forma diferente de viver que não deveria impedir ninguém de realizar qualquer tipo de atividade”, finaliza o ortopedista.

foto autor
AUTOR

Iamany Santos

AUTOR

Iamany Santos

Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

Acesse a comunidade
Acesse nossa comunidade do whatsapp, clique abaixo!

Tags:

Mais em Cotidiano