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MÚSICA

Manno Góes estreia na literatura com 'Aracajé Bour Mecier'

Escrever é mais uma das atividades do músico que mantém sociedade no Jammil, integra o Alavontê e ainda assumiu cargo na UBC

• 02/06/2014 às 20:15 • Atualizada em 01/09/2022 às 2:55 - há XX semanas

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'Mila', 'Acabou', 'Praieiro', 'Ê Saudade', 'Minha Estrela', 'De Bandeja' e 'Dani'. Essas são algumas das músicas que já fizeram você dançar ou cantar o refrão de forma repetida, afinal, são hits que embalam o espírito festeiro e romântico de, pelo menos, duas gerações na voz de vários artistas. Mas a autoria desses sucessos é dada a Manno Góes, baixista e um dos compositores mais gravados da Bahia. Mas não só. Ainda é sócio-fundador da banda Jammil e Uma Noites, um dos criadores e cantores do movimento Alavontê, membro recém empossado do Conselho Fiscal da União Brasileira de Compositores (UBC) e agora também escritor.Ele acaba de lançar 'Acarajé Bour Mecier', seu primeiro livro, uma mini-novela em 50 páginas que integra o projeto Cartas Bahianas da P55 Edições. Na mesma coleção, o poeta Edmundo Carôso, amigo de Manno e um dos seus incentivadores na literatura, também apresenta a publicação 'O Observador de Unicórnios', seu quarto livro. Os dois trabalhos têm como editor o poeta Claudius Portugal, que já foi o responsável por publicações de nomes como Aninha Franco, Paloma Jorge Amado e Márcia Moreira. O artista bateu um papo com o iBahia e, na entrevista a seguir, ele fala sobre literatura, música, influências, internet, direitos autorais e processo criativo. Acompanhe!iBahia - Como compositor, você já tem intimidade com a palavra. Como foi escrever este livro? Manno Goes - Tenho muitas coisas escritas e algumas amigos liam. Uma das pessoas foi Claudius Portugal (editora P55) e a outra foi Edmundo Carôso, que lança, simultaneamente, lá comigo o livro dele. Edmundo é um poeta e compositor, amigo meu de muito tempo e sempre falava "publique, publique". Eu sempre achei que ainda não era a hora, por causa de outros projetos. Com a minha saída dos palcos do Jammil (eu continuo como sócio da banda e trabalhando na parte de composição), tive mais tempo para tocar outros projetos, como o 'Músico Cidadão', o 'Alavontê' e o livro. A P55 é a editora de Claudius e tem qualidade muito interessante, formato gráfico bacana, feito com muito bom gosto. São livros pequenos de 50 páginas e que têm grandes autores já lançados, como Paloma Amada, que também foi uma das que leram lá atrás e disse "publique". Fui convencido por Edmundo e Claudius e lancei. É o primeiro livro, com a pretensão de lançar um romance, até o final do ano. É uma ficção, uma pulp ficcion, com uma linguagem bem do jeito que eu gosto e costumo escrever, com o formato oral. Casou bem com o momento que estou vivendo e com meus projetos. iBahia - É um trabalho, então, que tem um diálogo com outras coisas que você já fazia? MG - É comunicação. Tudo está dentro de trabalhar com arte e comunicação e a literatura está dentro disso também. Quando a gente convive com o aspecto criativo, no sentido de criar, isso acaba sendo de forma natural. De certa forma, estou sempre trabalhando com a criatividade, tocando, compondo, escrevendo, e tudo é conjunto das informações que venho absorvendo. Eu leio muito. Gosto muito de ler e acabo deixando isso fluir nos momentos em que estou a fim de escrever ou de compor. iBahia - Qual é sua expectativa sobre o retorno dos leitores, uma vez que na experiência como músico esse retorno é mais direto. Ou seja, na música, você vê as pessoas cantando no show, já o livro é um processo solitário para quem escreve e para quem vai ler? MG - E tem aquela questão da interpretação pessoal, nem sempre você escreve com aquela intensão de quem lê. Essa comunicação é uma experiência nova. Na música, já tenho essa reação de forma mais instântanea e dinâmica, mas o livro não. Vai ser uma experiência nova para compartilhar. O personagem do livro é alguém que eu odiaria conhecer, particularmente... Então, essa liberdade que escrever permite, de você entrar em um universo de pessoas, sentimentos e situações, que não estão de acordo com aquilo que você pensa e expressa. Isso é ótimo, porque você lida com diferentes maneiras de comunicar e as pessoas interpretam de acordo com o que vivem. Às vezes, você está em um momento de mais tristeza ou menos tristeza e uma música tem um significado maior; a mesma coisa é um livro. iBahia - O que você gosta de ler? MG - Eu leio tudo. Cresci em um ambiente de pais que sempre leram muito e tive acesso a tudo, de Dostoiésvsk (Fiódor) a Monteiro Lobato. Li muito literatura brasileira. Gosto muito dos romances de suspense, além dos autores clásssicos, como Paul Auster, Bukovisk (Charles) e Hilda Hilst, que tem uma linha "canalha", que eu gosto muito. Já li muitas coisas deles e, inclusive, neste meu livro, eu pontuo essas alusões que tive de Bukovisk e Hilda Hilst. Quem os leu, vai reconhecer pelos nomes de personagens e lugares, que foram inspirados nesses autores. iBahia - O personagem é alguém com quem você não gostaria de conviver. Trata-se de um alguém sombrio? MG - Acho que ele é um derrotado e eu, ao contrário, nunca fui um derrotista. Em todos os meus impactos - todos temos na vida -, eu corro muito para apagar tudo aquilo que magoou e seguir em frente com uma nova história. O que ficou para trás, ficou. Procuro absorver as melhores lições e ele é o oposto de mim neste sentido. Ele convive sempre com uma marca e canaliza aquilo para ser o objetivo de vida dele. É aquela situação em que a mágoa é tanta que o impede de progredir e se tornar uma pessoa melhor, aí vai se transformando em uma pessoa amargurada, dentro da própria insatisfação e sem conseguir superar aquilo. A história está dentro da agilidade que eu gosto de pôr nos meus textos. É rápido, ágil e isso é natural da minha forma de escrever, que é coloquial. Exploro bem a forma de falar. iBahia - Como está é o seu processo de criação com tantas atividades? MG - Tudo é possivel diante da minha decisão de me afastar da estradas com o Jammil. Hoje eu participo bem menos do dia a dia do Jammil e, ao mesmo tempo, continuo como sócio da empresa e participando das decisões. A banda vai gravar um DVD ao vivo agora e estou acompanhando as composições e as diretrizes, só que isso me dá mais tempo e mais liberdade também de criar em outros ambientes. A UBC, já sou sócio, é um dos nove órgãos de arrecadação de direitos autorais. Sempre fui muito atuante nesta questão de direitos autorais. Sempre estive perto das pessoas certas para isso. Abri uma editora em sociedade com Rodrigo Moraes, que é advogado de direitos autorais aqui na Bahia, hoje um dos maiores do Brasil. Então, estive muito perto desse aprendizado e tive muita curiosidade. E, por ter organizado muito bem minha vida como compositor e arrecadador de direitos autorais, participando e pedindo melhorias, e por conhecimento de causa, me tornei muito próximo das pessoas da UBC e o veio convite para participar da nova chapa da eleição para o novo grupo gestor, que vai ficar até 2019. Me senti privilegiado, porque é a primeira vez que um baiano está lá dentro. Vou uma vez por mês para as reuniões do conselho fiscal. O trabalho já começou com a implantação de um site muito moderno, onde todas as informações sobre direitos autorais estão disponiveis. iBahia - Qual é hoje o panorama da arrecadação de direitos autorais no Brasil? MG - Além do desconhecimento, outra coisa que acontece muito é a suspeita sobre como isso é feito, da falta de transparência da forma como os direitos são recolhidos e distribuídos para os autores. De fato, é um sistema muito complicado mesmo, mediante à situação geográfica do País. É difícil as pessoas compreenderem que existe uma análise feita em formato de tiragem, como uma pesquisa de Ibope, por exemplo. Não se entrevista todos os brasileiros, mas uma boa fatia de perfis diferentes para se ter uma amostragem do que é o real. Não tem como se saber exatamente o que se tocou na noite de sexta-feita em todos os bares, hoteis e restaurantes em todas as cidades do Brasil. Não tem como fiscalizar tudo, então, é feito por amostragem com as músicas mais executadas, dos atores mais executados, e isso determina os valores fracionais. Hoje em dia, é muito melhor por conta da tecnologia. Os recursos são muito mais efetivos e contribuem para que haja mais transparência e qualidade no serviço de captação mesmo. A UBC é uma empresa privada - e as pessoas confundem muito, achando que é um órgão do governo. A Ecad é um órgão privado, feito e constituído pelos autores, assim como os órgãos de arrecadação. Essa questão do dinheiro público e do privado confunde muito as pessoas. Muitas acham que tem de haver fiscalização por parte do governo, eu sou um dos que pensam ao contrário da linha do "Procure Saber", que quer colocar um órgão do governo para fiscalizar a Ecad. Acho isso um atraso, um erro, principalmente pelo inchaço público. Já outras pessoas acham que isso é uma forma de se fiscalizar. Se quer fazer uma fiscalização em um órgão privado, faz-se uma auditoria, como em qualquer empresa deveria ser feito. Este é o meu posicionamento e de várias pessoas, mas não de todos os compositores. Também já foram aprovadas novas diretrizes da lei sobre a forma de distribuição. Há hoje um momento de mudanças significativas e de contradições, porque pelas mudanças que foram feitas, ainda está muito confuso e todos os órgãos estão se adequando à nova realidade. iBahia - E sobre a internet, ainda existe resistência e medo por parte dos compositores? MG - Isso é uma mudança e já vem, há um bom tempo, sendo estudada sobre a melhor forma de se pagar aos autores. Por ser um instrumento abstrato, as pessoas não entendem a composição como um bem, algo material que tem seu valor. É curioso que, às vezes, a gente vai fazer show e as pessoas dizem: "ah, vai ter de pagar Ecad". Claro! Paga o palco, o som, o técnico, o músico, não vai pagar a essência da festa, que é a música? Então essa valoração que se dá à música ainda é interpretada aqui no Brasil de uma forma ingênua. A internet é um ambiente completamente novo e que, neste momento de transição, já conseguimos grandes conquistas. Teve acordo com o YouTube; o iTunes chegou de forma sensacional para mostrar que as pessoas querem comprar aquilo que gostam e não só fazer downloads suspeitos e arriscando a pegar vírus. As vendas virtuais hoje já são significativamente maiores do que as vendas físicas. Este mês, pela primeira vez, deu 60% de vendas virtuais e 40% de física. Houve negociações com as TVs a cabo, como a Sky e a Globo. Outro ganho é o streaming, uma forma de adquirir música sem fazer download, você paga a mensalidade e tem acesso. E já tem muitos canais de streaming, como o Deezer, que pagam direito e atuam no formato correto e legal. O streaming permite uma outra coisa muito boa que é você não encher seu computador e celular com arquivos pesados. Você tem a música à disposição, mas não está dentro do seu aparelho. iBahia - E não podemos deixar de falar sobre o Alavontê. A agenda está cheia? Vocês vão tocar na Copa? MG - Vamos tocar. Achamos que fazia parte da nossa intenção de coletividade, e a prefeitura vai oferecer às pessoas a chance de compartilhar música durante a Copa. Eles não têm a verba para fazer como queriam, então, os artistas abriram mãos dos cachês. Tocaremos no dia 13, Espanha e Holanda, e vamos fazer o Caminho de Casa nos dias de jogos do Brasil, é o 'Alavontê Depois do Baba', aí já é uma festa nossa, com a cara do Alavontê de brincar com a criatividade. Fizemos o 'Alaveillon' (Pestana Convento do Carmo), que foi sensacional. Também teve o 'Alavontê de Mortalha', que foi outro sucesso.iBahia - O Alavontê é uma reunião que deu certo e cresceu. Você acha que isso foi devido a que? MG - Está todo mundo maduro. O que todo mundo queria era sair da estrada e essa liberdade está fazendo com que as coisas andem. Hoje, a gente diz "vamos fazer Acaraju, vamos. Fazemos e voltamos para casa". Eu agora até filho novo vou ter, Zeca vai nascer em agosto. Vamos lançar o nosso primeiro EP, agora em junho, mas como é época de Copa, vamos ver como fazer.

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