Caetano Veloso faz 70 anos hoje e, mesmo que ele não queira transformar a data num evento, é impossível não reverenciar um compositor tão relevante na história da música e da cultura do Brasil como o filho de José Teles Velloso - falecido em 1983 - e de Claudionor Viana Teles Velloso, a Dona Canô. Em Santo Amaro da Purificação, a 72 km de Salvador e cidade onde Caetano Veloso nasceu e viveu até os 17 anos, certamente seus familiares providenciarão uma missa - na Igreja de Nossa Senhora da Purificação - e um bolo de aniversário.
GlobalizadoA indústria musical, claro, não deixaria a efeméride passar em brancas nuvens. Especialmente, a Universal Music, gravadora a qual o artista está vinculado desde o seu primeiro álbum, Domingo (1967), dividido com Gal Costa, e a estreia-solo, um ano depois. Produzido por Paul Ralphes, galês radicado no Rio, e com lançamento simultâneo hoje no Brasil e no exterior, o bom álbum A Tribute to Caetano (Universal) dá tom globalizado ao aniversariante, ao reunir 16 artistas nacionais e internacionais que fazem releituras de sua obra. O tom global, que vai do indie rock da banda inglesa Magic Numbers (You Don’t Know Me) à fadista portuguesa Ana Moura (Janelas Abertas nº 2), passando pelo americano Beck (Michelangelo Antonioni) e o uruguaio Jorge Drexler (Fora da Ordem), além dos brasileiros, dimensiona também o quanto Caetano é admirado em certos círculos nos EUA e Europa. Entre os roqueiros alternativos, ele é cultuado pela Tropicália. “Eu escolhi artistas internacionais que gostam do trabalho de Caetano. Quanto aos brasileiros, selecionei os que fazem parte de uma geração nova da MPB e que de alguma forma são influenciados pelo trabalho dele. Todos tiveram livre escolha. Só fiquei atento para que ninguém gravasse a mesma música”, explica Paul Ralphes. A americana Chrissie Hynde, vocalista da banda inglesa The Pretenders (anos 80), optou por gravar The Empty Boat (1969), ao lado de Moreno Veloso (filho de Caetano), Kassin e Domenico - e acrescentou elementos do Pink Floyd à versão. “Uma contribuição inestimável a minha vida aconteceu pela cortesia de Caetano Veloso ao me apresentar à música brasileira, que, aliás, veio pela sua voz sedutora, iniciando assim um caso de amor que nunca termina. Agradeço com um milhão de humildes obrigados a Caetano, um gigante da música único, cujo talento transcende o gênero”, elogia Chrissie. TransaRelançado primorosamente em CD e vinil, em junho, e considerado por muitos como a obra-prima de Caetano, Transa também é cultuado pela banda Magic Numbers, vide sua belíssima versão de You Don’t Know Me, canção originalmente gravada no clássico de 1972, quando Caetano estava no exílio em Londres. “Esta é uma canção do tempo do exílio, que lida com isolamento, um estado de espírito que só quem sofre conhece. Eu tenho empatia com isso, mas queria transcender o foco principal. Então, nós fizemos uma coisa um pouco mais forte, rígida”, diz Romeo Stodart, vocalista e guitarrista do Magic Numbers. Na troca de e-mail com Paul Ralphes, Romeo - que copia o som do português de alguns versos - sempre citava Transa. “Ele deve ter ouvido muitas vezes esse disco”, afirma o produtor. Outro destaque da ala gringa do tributo é o cantor, produtor e multi-instrumentista americano Beck, fã confesso da Tropicália e de Caetano. Ele canta Michelangelo Antonioni, do álbum Noites do Norte, de 2000. A letra original é em italiano, mas Beck pediu uma tradução para o inglês. “Caetano não teve envolvimento com o disco, mas sabia que eu o estava produzindo. E é óbvio que a versão não poderia ser feita por qualquer pessoa. Então, enviei um e-mail a Caetano explicando o fato, mas sem dizer quem iria gravar. E ele me mandou a letra em inglês”, revela Paul. Sábado, a Ilustrada, da Folha de S. Paulo, publicou uma reportagem sobre uma enquete feita com 70 jovens artistas, que responderam à pergunta: Qual o artista vivo mais importante da MPB? Empatados em primeiro lugar ficaram Caetano e Chico Buarque com 18 votos, cada (Gilberto Gil ficou em 2º lugar, com 9 votos; João Gilberto em 3º lugar, com 6; Roberto Carlos em 4º, com 4 votos; e Tom Zé em 5º, com 3). Um dos trunfos de Caetano, na opinião dos entrevistados, é a sua capacidade de diálogo com a nova cena musical. A presença de Tulipa Ruiz, Céu, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante (que divide Quem Me Dera com o americano Devendra Banhart), MoMo, Luisa Maita, Mariana Aydar e Qinho no álbum só confirma a sintonia entre a nova geração e o nobre medalhão da MPB. iTunesDe fato, fazer 70 anos e ainda manter-se no topo, seja comercialmente ou como uma referência mundial para novos talentos, não é para qualquer artista, não. Por isso, mil pontos para o irmão de Maria Bethânia. Além do álbum A Tribute to Caetano, o cantor ganha hoje um espaço especial no iTunes, com todos os seus álbuns comercializados entre US$ 4,99 e US$ 9,99. E, entre os dias 14 e 28, a cada semana serão lançados dois iTunes LPs, com conteúdos inéditos e exclusivos.
Beck Hansen Um dos maiores talentos musicais americanos surgidos na década de 90, é fã assumido de Mutantes, Tropicália, Caetano e MPB. Em A Tribute to Caetano, Beck, 42 anos, canta Michelangelo Antonioni, que Caetano gravou no disco Noites do Norte, de 2000.
Céu Artista brasileira da nova geração de maior penetração nos EUA e na Europa, a paulista de 32 anos canta o rock Eclipse Oculto, lançado originalmente em Uns (1983). No mesmo álbum tem Peter Gast, relida agora por Seu Jorge, Toninho Horta e Arismar Espíriro Santo.
Magic Numbers Banda inglesa de indie rock que lançou seu primeiro disco em 2002, faz uma releitura cheia de personalidade de You Don’t Know Me, do álbum Transa (1972), obra-prima de Caetano Veloso. O vocalista e guitarrista Romeo Stodart é um grande fã de Transa.
Tulipa Ruiz Lançando seu segundo álbum, o ótimo Tudo Tanto, a intérprete paulista de 33 anos regravou Da Maior Importância, canção de Caetano que Gal Costa - uma das maiores influências de Tulipa - lançou no disco Índia, de 1973. Virou um suingado pop jazz.
Jorge Drexler Cantor uruguaio e vencedor do primeiro Oscar dado a uma música em espanhol, Al Otro Lado del Río, do filme Diários de Motoclicleta (2004/Walter Salles), Drexler, 47 anos, canta Fora da Ordem no disco. A canção foi lançada por Caê em Circuladô (1991) Assista abaixo o clipe do Magic Numbers: You Don't Know Me [youtube eIV3ruvvi1A] Matéria original: Jornal Correio (impresso)
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