Por trás daquela figura inquieta e falastrona que nós conhecemos, autor de hinos carnavalescos agitados, esconde-se um compositor romântico, criador de canções suaves da maior qualidade. E o 15º álbum solo de Carlinhos Brown, Artefireaccua - Incinerando o Inferno, só ratifica isso. Disponível para streaming e download - ainda não há data para o lançamento do disco físico -, o álbum tem 11 faixas inéditas compostas só por Brown e, algumas, com parceiros como Arnaldo Antunes e Jorge Vercillo. “Desde meu primeiro solo, Alfagamabetizado, há 20 anos, eu sou ligado às canções. E gosto de dar um tom pop a elas. Eu evito trazer modismos para minhas gravações e prefiro o experimentalismo. Em Diminuto e Adobró (discos de 2010), deu certo. Basta ver o sucesso que fez Tantinho”, diz o músico de 53 anos. Dom mediúnico Mas Brown lembra que mesmo seus sucessos de Carnaval sempre tiveram um pé no romantismo e cita Selva Branca (Pra te espiar / Eu dou a volta no seu muro / Eu pulo seu muro...) como exemplo: “É o tipo de música que se torna mais acessível ao público porque fala de amor, mas no sentido amplo, não só o amor de mulher e homem. E eu fico emocionado depois de fazer. Mas enquanto estou compondo, nem sei o que estou fazendo direito”. Para o músico, a inspiração para compor é um dom mediúnico: “Cada dia, eu tenho mais certeza disso. Eu faço a maioria das minhas músicas enquanto estou sonhando, literalmente”. Essa “mediunidade” defendida por Brown tem todo sentido, afinal ele nunca estudou música, mas é um melodista de qualidade incontestável, além de hábil e versátil instrumentista, arranjador e produtor.
Amanhã, a primeira temporada do programa chega ao fim. Brown é o técnico da curitibana Rafa Gomes, 10 anos, finalista que estreou no programa com uma emocionante interpretação de História de uma Gata, de Os Saltimbancos. “Rafa tem uma coisa a mais que os outros, um carisma incrível. Além disso, tem uma voz de criança, diferente de outros participantes, que estão em outra fase. Ela é criança cantando como criança e é isso que encanta”. Presente nas versões infantil e adulta do programa, Brown diz que sua participação é um dos indicativos de que o axé não está em crise: “Ivete está no Kids, Claudinha (Leitte) no adulto e Daniela vai pro Superstar. São quatro nomes da fase clássica do axé em programas de muita audiência. Pra mim, é um equívoco dizer que ele está em crise”, diz Brown, com firmeza. O músico não se esquiva de criticar alguns colegas, nem os veículos de comunicação: “As rádios se acomodaram, mas precisam ir atrás do ineditismo, tocar coisas diferentes. No Carnaval, fica muito chato o artista ficar o tempo inteiro mandando beijo pra todo mundo. Tem uns que não podem ver uma câmera de TV!”.
Eu faço a maioria das minhas músicas enquanto estou sonhando, literalmenteMais impressionante ainda é quando sabemos que o músico frequentou a escola por menos de um ano: “Passei uns sete meses na escola para aprender a ler, somar e dividir. Mas, mesmo depois, nunca perdi o desejo de aprender”. Filhos E a inspiração mediúnica contribui neste novo trabalho do músico, que diz ter sonhado com a melodia de Pra Vizinho Olhar, cuja composição é dividida com o velho parceiro Arnaldo Antunes. “Acordei sonhando com essa melodia, mas não conseguia finalizá-la. Foi aí que resolvi chamar meu compadre Arnaldo”. Nesse mesmo encontro, Brown aproveitou para entregar ao amigo um poema de sua autoria, que, lido na voz grave de Antunes, entrou na canção Dois Grudados. “Na verdade, não tinha a pretensão de que fosse um poema. Era apenas uma ‘escrita’, mas, na voz dele, se transformou em poema”, diz o baiano.
Passei uns sete meses na escola para aprender a ler, somar e dividir. Mas nunca perdi o desejo de aprenderChico Freitas e Miguel Freitas, filhos de Brown, também participam do disco, na faixa Incinerando o Inferno, que ganha um tom de rock com os meninos de 19 e 18 anos, respectivamente. “Eles já haviam tocado comigo, mas é a primeira vez que gravamos os três juntos. Eles são estudiosos e têm um som bem amadurecido. Miguel, na bateria, e Chico, na guitarra, têm uma segurança possante”, comenta o pai, que não disfarça a corujice. Outra filha de Brown, Clara, 17 anos, participa nos vocais de Ruidinho Nu, canção em homenagem ao Rio de Janeiro. “Fiz a música para minha filha, mas acaba sendo também uma homenagem ao Rio”. Parte dessa música também veio de um sonho: “Assim, sai sempre melhor, afinal, o sonho não me pertence. O que me pertence é a realidade”, filosofa. The Voice Kids Pai de seis filhos, Brown tem uma atração especial por ciranças e, pelo que se vê no The Voice Kids, onde ele é um dos técnicos, o interesse é mútuo. O músico revela muito entusiasmo ao falar de sua participação no programa: “A cada dia, levo minha participação mais a sério e dobro a minha disciplina. Além disso, o programa é um rito de passagem para aqueles meninos”.
The Voice Kids Brown é técnico de Rafa Gomes, 10 anos, candidata que amanhã disputa a final da primeira temporada do The Voice Kids. Além dele, participam a dupla Victor & Leo e Ivete Sangalo. “Rafa é criança cantando como criança e é isso que encanta”, diz (Foto:TV Globo/Pedro Curi) |
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