O DDD é 11 há quatro anos. Mas já no ‘alô’ inicial, dá para ver que o 71 não saiu de Marcia Castro. E é assim, misturando uma visão cosmopolita com um importante tempero baiano que a cantora de 33 anos faz, nesta sexta-feira (16), no Teatro Castro Alves, às 21h, o show de lançamento do seu segundo álbum, De Pés no Chão (Deck), com patrocínio do programa Natura Musical.
No repertório, regravações de músicas de grandes compositores brasileiros, como Rita Lee (a faixa que dá nome ao álbum), Gonzaguinha (Pois É, Seu Zé), os Novos Baianos Moraes Moreira & Galvão (Preta Pretinha e também 29 Beijos, na qual ela divide os vocais com Helio Flanders, da banda Vanguart), Tom Zé (Você Gosta), Cartola & Hermínio Bello de Carvalho (Catedral do Inferno) e Gilberto Gil & Jorge Mautner (Crazy Pop Rock). Há ainda a inédita Vergonha, de Luciano Salvador Bahia, e a releitura de História de Fogo, de Otto.
Cantinhos
O ritmo festivo permanece na essência de Marcia. Ela tem se destacado no cenário alternativo nacional e recebendo boas críticas após o trabalho de estreia, Pecadinho, de 2007, vencedor do Prêmio Braskem. A música de trabalho era Frevo, dos baianos Tom Zé – que participou da gravação – e Tuzé de Abreu.
Mas as diferenças entre Pecadinho e De Pés no Chão existem, claro. Quem explica é a própria cantora. Para ela, as músicas desse novo trabalho foram maturadas naturalmente, uma vez que eram composições que ia apresentando nos shows nos últimos anos.
“Fui desenvolvendo, nos palcos, uma sonoridade para elas. Pecadinho é um disco de estúdio, tinha só ideias de sonoridade. Agora, foi diferente. Nesse disco, estava íntima do repertório, me senti mais livre para brincar, criar formas de interpretar. A música tem um tempo próprio”. Em Pecadinho, como não tinha essa familiarização interna com o repertório, Marcia ia cantando pelos cantinhos, na cozinha, no banheiro. Foi um processo solitário.
Para De Pés nos Chão, as músicas passaram pela alma, mas também pelo ouvido. Nos shows, Marcia gravava suas performances para depois escutar em casa. Assim, tecia a teia que forma o novo trabalho. O processo foi enriquecido com pesquisas musicais, coisa que Marcia adora fazer, em busca dos sons que ainda não conhece.
Orientação sexual
Foi assim que a música de Rita Lee se abriu para a cantora: “É só questão de gosto/ Lacinhos cor-de-rosa ficam bem/ Num sapatão/ Eu nasci descalça/ Pra que tanta pergunta?”.
“Achei o discurso muito contemporâneo. Hoje, existe um discurso segundo o qual podemos fazer tudo que quisermos. Mas acaba não sendo bem assim. É paradoxal isso. Não existe mais um inimigo concreto, como na época da ditadura militar. É incrível, mas no século 21, ainda estamos falando de questão racial, de orientação sexual”, pondera. Marcia gostou tanto da música de Rita que, na última faixa, incluiu um remix.
A música de Otto é outra que enche os olhos e ouvidos de Marcia. Fala de um amor sensual, quase erótico, distante da ideia romântica de uma relação. Já com Moraes Moreira, de quem gravou duas músicas, a ligação começou a ficar mais forte em 2009, quando foi convidada para participar de uma edição do programa Som Brasil, da Globo, em homenagem ao cantor. Escolheu cantar justamente Preta Pretinha. Gamou de primeira.
No disco, convidou o maestro Letieres Leite para fazer o arranjo de sopros em Preta Pretinha, além de alguns músicos da Orkestra Rumpilezz para as gravações. Na versão de Marcia, alguns trechos foram tirados da música Gererê, do Gera Samba (aquela do “Eu vou embora é devagar, devagarinho”).
O show de lançamento em Salvador não terá convidados. Depois, ela segue por outras capitais brasileiras – aí, sim, deverá contar com artistas amigos no palco. O repertório junta os dois discos.
Turbilhão
Os amigos são muitos - e parte vem da turma paulistana, grupo de artistas que não nasceram necessariamente em São Paulo, mas adotaram a cidade para viver e trabalhar. Da nova geração de São Paulo, a lista de artistas do coração de Marcia é grande e inclui nomes como Pupillo (Nação Zumbi), Karina Buhr, Ana Cañas, Gui Amabis e Tulipa Ruiz.
“Vim para São Paulo para ficar apenas alguns meses, em 2008. E fiquei de vez. Fui tomada por esse turbilhão. Mas tenho uma coisa muito fincada com a Bahia. O que rolou foi um deslocamento, não uma separação”, afirma.
A última temporada começou em dezembro e só terminou depois do Carnaval. Em Salvador, cantou no bloco Os Mascarados, com Marcia Freire e Gaby Amarantos; e na Varanda Elétrica do Camarote Expresso 2222. Fez duetos com Gilberto Gil, Daniela Mercury, Margareth Menezes e Carlinhos Brown.
Baú musical
Tanto Pecadinho quanto De Pés no Chão contam apenas com músicas de outros artistas. Marcia tem seu lado de compositora, mas diz que ele não está em primeiro plano: “Meu barato é interpretar. Mas acho que existe uma simbiose. Quando canto, posso dizer que sou uma coautora, pois é assim que eu me sinto”.
Para o terceiro disco, novidades: “Quero colocar músicas minhas. Há muita coisa no baú, mas não posso falar agora”. Uma coisa por vez. Não é à toa que De Pés no Chão batiza o álbum. O mundo de Marcia gira com tudo a seu tempo.
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